Caríssimos amigos de todo o mundo,
É grande a nossa alegria, é mesmo muito grande e as notas da
sinfonia de Beethoven (1) que acabámos de ouvir, entraram no nosso
coração unindo-nos num único abraço de fraternidade.
Queremos iniciar esta jornada dando-vos conta porque decidimos abrir
este XI Encontro Internacional com as notas do Hino da Alegria.
Depois da reunião em Roma dos Casais Responsáveis Regionais em 2009,
no decurso da qual foi escrita a primeira palavra sobre a célebre
“página branca”, em que era o Brasil o próximo lugar de encontro, fomos
com outro casal de amigos equipistas, presente hoje entre nós , para um
passeio a uma pequena aldeia próxima de Roma, Nettuno, local de
veneração de Santa Maria Goretti. Atraídos pela música que emanava de
uma igreja, consagrada a esta Santa nela entrámos, onde ocorria um
concerto de música clássica que terminou com esta sinfonia. Estávamos
nós também cheios de alegria pela decisão tomada com todos os casais
regionais e supra-regionais e pensámos imediatamente que a melhor coisa
seria partilhar esta alegria com todos os casais equipistas do mundo
inteiro. Faltava ainda três anos para o Encontro, mas nesta igreja
decidimos que o Hino da Alegria de Beethoven abriria o nosso Encontro em
Brasília.
Beethoven nunca se declarou abertamente crente, embora se tenha
interrogado sobre Deus ao longo da sua vida, procurando-O com
inquietação e só O tendo encontrado no final da vida, acolhendo
serenamente e espontaneamente a sagrada hóstia que lhe foi dada antes de
morrer. O compositor viveu momentos de grande sofrimento durante toda a
sua existência, mas nunca abandonou uma certeza ideológica: cantar a
alegria significa ultrapassar os obstáculos e as dificuldades pessoais,
significa subir a estrada que conduz do egoísmo individual para um maior
sentido de fraternidade. Eis portanto a alegria cantada por Beethoven, a
alegria “apesar de tudo”. Esta mensagem deixada por um homem que não
teve uma vida fácil durante um período também ele tão difícil como o
nosso, constitui para nós, homens e mulheres, um grande ensinamento. Uma
exortação que se traduz neste ilustre músico pelo convite à
“necessidade de recomeçar todos os dias”, um convite que não está longe
daquele do Pe. Caffarel: “procuremos em conjunto”, que ressoa tantas
vezes em nós.
Há algumas semanas, durante o último Encontro Mundial das Famílias em
Milão, o Papa assistiu no teatro La Scala à IX Sinfonia de Beethoven e
lembrou-nos que a escolha desta obra musical, que contém o Hino da
Alegria, permite através da linguagem universal da música, lançar uma
mensagem: “que confirme o valor fundamental da solidariedade, da
fraternidade e da paz. E parece-me – diz-nos o Papa - que esta mensagem é
preciosa também para a família, porque é na família que se experimenta
pela primeira vez que a pessoa humana não é criada para viver fechada em
si mesma, mas em relação com os outros; é na família que compreendemos
como a realização de nós mesmos não consiste em nos colocarmos no
centro, guiados pelo egoísmo, mas em doarmo-nos; é em família que se
começa a acender no coração a luz da paz, a fim de que ilumine este
nosso mundo.”(2)
Relendo as palavras do Hino da Alegria, composto pelo poeta Schiller
(3), texto que inspirou Beethoven para compor a música, não podemos
deixar de realçar alguns versos que parece terem sido escritos para nós:
“quem teve a grande sorte / de ser amigo de um amigo / quem conquistou
uma doce mulher / partilha a sua alegria!”.
Não recebemos nós, equipistas do mundo inteiro, o grande dom da
amizade fraterna? E não conhecemos nós a ternura e a intensidade do amor
conjugal? Esse sentimento de exultação e de alegria é portanto para
nós!
O Hino termina com os seguintes versos: “Irmãos, no mais alto dos
céus / Deve habitar um pai amado / Todos os seres se prostram? /
Pressentes tu o criador, ó mundo? / Procura-o por cima dos céus
estrelados / Por cima das estrelas deve habitar!”.
Mas será que o nosso Deus está só por cima do céu estrelado? É ainda
Bento XVI que nos recorda:” A sua bondade não chega até nós aqui em
baixo? Procuramos um Deus que não domina à distância, mas que entre na
nossa vida e no nosso sofrimento. Não temos necessidade de um discurso
irreal de um Deus distante e de uma fraternidade não exigente. Estamos à
procura do Deus próximo. Buscamos uma fraternidade que, no meio dos
sofrimentos, ampara o outro e assim o ajude a ir em frente.”
O Hino da Alegria que acabámos de escutar, exprime bem toda a
afinidade entre a harmonia pessoal e a felicidade de todos. O sentimento
de alegria que experimentámos e que nestes dias viveremos todos em
conjunto durante os próximos dias, seja para cada um de nós um precioso
convite para nos pormos no caminho da fé verdadeira, feita de
acolhimento, de justiça, de verdade, de esperança e de paz para toda a
humanidade.
Bom caminho em nome de Deus, Pai de todos os homens!
Carlo e Maria Carla Volpini
1) Ludwig van Beethoven, Bonn 1770 – Viena 1827 , compositor e pianista alemão
2) Discurso do Papa Bento XVI, VII Encontro Mundial das Famílias, 2 de Junho de 2012
3) Friederich von Schiller (Marbach am Neckar 1759 – Weimar 1805 foi um poeta, filósofo, dramaturgo e historiador alemão.
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