Brasília, 23/07/2012 - 08:30 h
O Bom Samaritano vê o homem caído à beira da estrada e
enche-se de compaixão. O sacerdote e o levita não o vêem realmente. Vêem
um problema, alguém que talvez destrua a sua pureza ritual ou atrase o
seu regresso a casa para junto das suas famílias.
Jesus é alguém que tem os olhos abertos. Vê Natanael debaixo da figueira e vê que ele é um homem em quem não há fingimento (João 1,48). Vê Levi, o desprezado cobrador de impostos, escondido entre a multidão e vê um discípulo (Marcos 2,14). Descobre Zaqueu em cima do sicómoro e vê um amigo (Lucas 19,5). Vê a viúva que põe na caixa do tesouro as suas pequenas moedas e vê a sua grande generosidade (Marcos 12,42). O sacerdote e o levita vêem o exterior. Vêem alguém em função das suas próprias preocupações. Jesus vê o interior. Vê a bondade e a beleza escondida das pessoas. Vê-as como seres criados por Deus, como dons.
Como aprendemos a ver com os olhos de Jesus e do Bom Samaritano? Isso pode levar tempo. Quando Jesus curou o cego de nascença (Marcos 8,22ss), precisou de duas tentativas. Depois da primeira, o homem não via as pessoas, apenas árvores a andar. Às vezes sinto que estou nesta situação!
Um primeiro passo pode ser ver a pessoa com quem vocês estão casados! Quando se apaixonaram, olharam-se nos olhos com adoração! Ficaram deslumbrados com a sua beleza e bondade. Como é possível que ele ou ela me ame! Mas, depois de alguns anos de casamento, algumas pessoas deixam de olhar muito de perto. Tornamo-nos um pouco cegos. Talvez pensemos que os conhecemos tão bem que já não é preciso olhar! E assim perdemos os sinais de tristeza, o desejo de ternura, a palavra não pronunciada nos seus lábios. E quando, de repente, um põe fim ao casamento, a outra pessoa fica muitas vezes surpreendida. Não viram vir a crise porque deixaram de se olhar!
O medo pode cegar-nos. Temos medo de ver que não somos assim tão importantes. O ciúme cegou Otelo e, por isso, já não conseguia ver a mulher e o amor que ela tinha por ele. A culpa pode tornar-nos incapazes de olhar o outro nos olhos.
Ver não é uma questão de olhar com intensidade, de os examinar ao microscópio. Podemos ver melhor quando olhamos pelo canto do olho e vislumbramos a sua humanidade total. Olhem-nos quando eles estão a dormir e as suas defesas tiverem desaparecido. Na Índia diz-se que, quando dormimos, a nossa cara «é amiga do mundo». O Papa Bento sublinha muitas vezes a relação que existe entre o amor e a verdade. O vosso olhar só é verdadeiro quando é um olhar de amor, e só é realmente de amor se atende à verdade do outro. Quando foi a última vez que viram realmente o vosso marido ou a vossa mulher?
A grande preocupação que muitos de vocês expressaram é saber como chegar às pessoas que vivem relações desfeitas ou sem compromisso. Não as olhem como um problema a resolver! Por exemplo, este jovem casal que vive em união de facto tem de se casar! Este divorciado recasado tem de obter uma anulação. Temos de corrigir esta situação! Jesus não soluciona problemas.
Antes de termos alguma coisa a dizer, temos de ver o que é bom no amor das pessoas, mesmo que a sua situação não seja o ideal proposto pela Igreja. Não devemos olhá-las como fracassos mas como estando a caminho da plenitude do amor, tal como nós. Não devemos ser como aquele homem a quem perguntaram o caminho para Dublin. Ele respondeu que, se o outro queria ir para Dublin, não devia partir dali! Mas onde quer que as pessoas estejam, quaisquer que sejam a confusão e as feridas, elas são capazes de começar de novo a sua caminhada para Deus.
O maior desafio é ver as pessoas que consideramos inimigas. Durante a revolução na Nicarágua, um dominicano americano ajudou um grupo de jovens nicaraguanos a representar a parábola do Bom Samaritano durante a Missa. Representaram um jovem nicaraguano a ser espancado e abandonado meio morto na beira do caminho. Um frade dominicano passou por ali e continuou o seu caminho sem fazer caso dele. Depois passou também um catequista. A seguir, passou um dos inimigos, um ‘Contra’, com o uniforme militar. Parou, pôs-lhe um terço ao pescoço, deu-lhe água e levou-o até à aldeia mais próxima. Nesta altura, metade da assembleia reagiu começando a gritar e a protestar. Era inaceitável que um Contra pudesse agir dessa forma. «São pessoas horríveis e nada temos a ver com eles». A Missa foi suspendida no meio do caos. Depois, as pessoas começaram a discutir o significado da parábola. Como tinham ficado chocadas, conseguiram compreendê-la mais profundamente. Temos consciência de quanto esta parábola é chocante?
Finalmente, temos de aprender a ver os pobres, que muitas vezes são invisíveis na nossa sociedade. As celebridades são visíveis em toda a parte. Todos olham para os ricos. Imediatamente antes da parábola do Bom Samaritano, Jesus volta-se para os discípulos e diz: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver» (10,23). Os olhos dos santos vêem os pobres. A Madre Teresa de Calcutá foi a uma recepção em sua honra em Roma. Estavam lá muitos dignitários importantes, embaixadores e Cardeais. À porta ela parou para falar com um pedinte. Não paravam de falar. Finalmente, alguém foi ter com ela e disse-lhe: «Madre, suas excelências estão à sua espera». E ela replicou: «Não vê que estou a falar com Cristo?».
Jesus é alguém que tem os olhos abertos. Vê Natanael debaixo da figueira e vê que ele é um homem em quem não há fingimento (João 1,48). Vê Levi, o desprezado cobrador de impostos, escondido entre a multidão e vê um discípulo (Marcos 2,14). Descobre Zaqueu em cima do sicómoro e vê um amigo (Lucas 19,5). Vê a viúva que põe na caixa do tesouro as suas pequenas moedas e vê a sua grande generosidade (Marcos 12,42). O sacerdote e o levita vêem o exterior. Vêem alguém em função das suas próprias preocupações. Jesus vê o interior. Vê a bondade e a beleza escondida das pessoas. Vê-as como seres criados por Deus, como dons.
Como aprendemos a ver com os olhos de Jesus e do Bom Samaritano? Isso pode levar tempo. Quando Jesus curou o cego de nascença (Marcos 8,22ss), precisou de duas tentativas. Depois da primeira, o homem não via as pessoas, apenas árvores a andar. Às vezes sinto que estou nesta situação!
Um primeiro passo pode ser ver a pessoa com quem vocês estão casados! Quando se apaixonaram, olharam-se nos olhos com adoração! Ficaram deslumbrados com a sua beleza e bondade. Como é possível que ele ou ela me ame! Mas, depois de alguns anos de casamento, algumas pessoas deixam de olhar muito de perto. Tornamo-nos um pouco cegos. Talvez pensemos que os conhecemos tão bem que já não é preciso olhar! E assim perdemos os sinais de tristeza, o desejo de ternura, a palavra não pronunciada nos seus lábios. E quando, de repente, um põe fim ao casamento, a outra pessoa fica muitas vezes surpreendida. Não viram vir a crise porque deixaram de se olhar!
O medo pode cegar-nos. Temos medo de ver que não somos assim tão importantes. O ciúme cegou Otelo e, por isso, já não conseguia ver a mulher e o amor que ela tinha por ele. A culpa pode tornar-nos incapazes de olhar o outro nos olhos.
Ver não é uma questão de olhar com intensidade, de os examinar ao microscópio. Podemos ver melhor quando olhamos pelo canto do olho e vislumbramos a sua humanidade total. Olhem-nos quando eles estão a dormir e as suas defesas tiverem desaparecido. Na Índia diz-se que, quando dormimos, a nossa cara «é amiga do mundo». O Papa Bento sublinha muitas vezes a relação que existe entre o amor e a verdade. O vosso olhar só é verdadeiro quando é um olhar de amor, e só é realmente de amor se atende à verdade do outro. Quando foi a última vez que viram realmente o vosso marido ou a vossa mulher?
A grande preocupação que muitos de vocês expressaram é saber como chegar às pessoas que vivem relações desfeitas ou sem compromisso. Não as olhem como um problema a resolver! Por exemplo, este jovem casal que vive em união de facto tem de se casar! Este divorciado recasado tem de obter uma anulação. Temos de corrigir esta situação! Jesus não soluciona problemas.
Antes de termos alguma coisa a dizer, temos de ver o que é bom no amor das pessoas, mesmo que a sua situação não seja o ideal proposto pela Igreja. Não devemos olhá-las como fracassos mas como estando a caminho da plenitude do amor, tal como nós. Não devemos ser como aquele homem a quem perguntaram o caminho para Dublin. Ele respondeu que, se o outro queria ir para Dublin, não devia partir dali! Mas onde quer que as pessoas estejam, quaisquer que sejam a confusão e as feridas, elas são capazes de começar de novo a sua caminhada para Deus.
O maior desafio é ver as pessoas que consideramos inimigas. Durante a revolução na Nicarágua, um dominicano americano ajudou um grupo de jovens nicaraguanos a representar a parábola do Bom Samaritano durante a Missa. Representaram um jovem nicaraguano a ser espancado e abandonado meio morto na beira do caminho. Um frade dominicano passou por ali e continuou o seu caminho sem fazer caso dele. Depois passou também um catequista. A seguir, passou um dos inimigos, um ‘Contra’, com o uniforme militar. Parou, pôs-lhe um terço ao pescoço, deu-lhe água e levou-o até à aldeia mais próxima. Nesta altura, metade da assembleia reagiu começando a gritar e a protestar. Era inaceitável que um Contra pudesse agir dessa forma. «São pessoas horríveis e nada temos a ver com eles». A Missa foi suspendida no meio do caos. Depois, as pessoas começaram a discutir o significado da parábola. Como tinham ficado chocadas, conseguiram compreendê-la mais profundamente. Temos consciência de quanto esta parábola é chocante?
Finalmente, temos de aprender a ver os pobres, que muitas vezes são invisíveis na nossa sociedade. As celebridades são visíveis em toda a parte. Todos olham para os ricos. Imediatamente antes da parábola do Bom Samaritano, Jesus volta-se para os discípulos e diz: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver» (10,23). Os olhos dos santos vêem os pobres. A Madre Teresa de Calcutá foi a uma recepção em sua honra em Roma. Estavam lá muitos dignitários importantes, embaixadores e Cardeais. À porta ela parou para falar com um pedinte. Não paravam de falar. Finalmente, alguém foi ter com ela e disse-lhe: «Madre, suas excelências estão à sua espera». E ela replicou: «Não vê que estou a falar com Cristo?».
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