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domingo, 14 de abril de 2013

XI ENCONTRO INTERNACIONAL DAS ENS - BRASÍLIA/DF - O PADRE CAFFAREL, O HOMEM DO ENCONTRO (PADRE PAUL DOMINIQUE MARCOVITS)



Brasília, 22/07/2012 - 11:30 h

Permitam que o postulador da causa do Pe. Caffarel vos recorde que tudo começou aqui, no Brasil. É a maneira de eu e a vice-postuladora, Marie-Christine Genillion, expressarmos o nosso reconhecimento aos equipistas deste país. Em 2004, os responsáveis internacionais das Equipas de Nossa Senhora, Gérard e Marie-Christine de Roberty, e o conselheiro espiritual internacional, Mons. François Fleischmann, visitam os equipistas do Brasil. Notam não só o afecto que todos têm pelo Pe. Caffarel, que veio visitá-los três vezes, mas verificam sobretudo «uma presença» do fundador das Equipas. Um santo é, em primeiro lugar, alguém que está «vivo» a quem cada um se dirige hoje para viver e vencer as dificuldades da existência. Foi por isso que as Equipas pediram ao arcebispo de Paris, Mons. André Vingt-Trois, que abrisse a causa do seu fundador. O Pe. Caffarel está vivo para nós. Tem de se tornar vivo para todos! Não é permitido aos equipistas guardá-lo para si: o Pe. Caffarel deve resplandecer na Igreja e para além dela…

Que objectivo se persegue? O bem dos casais e de todos os que querem fazer oração. O objectivo é mostrar que o matrimónio é uma Boa Notícia para os que se amam e que a oração é fonte de vida e de amor. A vida e a personalidade do Pe. Caffarel, os seus ensinamentos comunicados nos seus livros, as obras que fundou, são de uma riqueza tal que tudo isso deve ser partilhado por todos.

O Pe. Caffarel é um homem do encontro. Esclareçamos que nunca foi ele quem procurou esses encontros que moldaram a sua vida. Foram eles que se lhe impuseram.

Em primeiro lugar, foi Deus que veio. Todos conhecemos o relato que resume toda a sua vida: «Aos 20 anos, Jesus Cristo, de repente, tornou-Se alguém para mim. Mas não foi nada de espectacular. Nesse longínquo dia de Março de 1923, fiquei a saber que era amado e que amava, e que, daí em diante, a minha relação com Ele seria para toda a vida. Tudo estava jogado» (Jean Allemand, Henri Caffarel, um homem cativado por Deus, Ed. Lucerna, Estoril, p. 18). O Senhor impôs-Se-lhe. Foi essa a sua alegria, a sua vida. Foi o primeiro encontro. Tudo se centra no amor que Deus lhe revela: ele é amado por Deus, ele ama Deus, tudo está fixado, «Tudo estava jogado», diz ele exactamente. Toda a sua vida se edificará sobre este amor recíproco entre Deus e ele.

Os dois outros encontros determinantes do Pe. Caffarel estão na continuidade deste, são sempre obra de Deus: o encontro em 1939 com casais que lhe pedem que os conduza no caminho da santidade e a quem ele responde: «Procuremos juntos»; e, em 1943, o encontro com viúvas que lhe pedem que as conduza nesse novo caminho e a quem ele responde igualmente: «Procuremos juntos». Quando o Senhor Se manifesta a alguém é para lhe confiar uma missão: fazer bem aos outros. O Pe. Caffarel deseja que façamos a experiência do amor de Deus. Missão essencial!

No seu túmulo, o Pe. Caffarel mandou escrever: «Vem e segue-Me». Foi assim. O Senhor orientou a vida do seu servo para que este estivesse ao serviço do amor revelado aquando da sua vocação em 1923: o amor no matrimónio, o amor mais forte do que a morte na viuvez. De forma mais ampla, o Senhor pôs no coração do Pe. Caffarel um desejo imenso; cito: «Tenho apenas um desejo: entrar eu próprio mais na intimidade com Cristo e levar os outros a entrarem também nessa intimidade, porque isso foi fundamental na minha vida e deu-me a alegria de viver, a graça de viver, o entusiasmo de viver. Afinal, não posso deixar de desejar aos outros esse encontro com Cristo vivo, essa descoberta de que Deus é amor» (Jean Allemand, Henri Caffarel, um homem cativado por Deus, pp. 18-19). Deus está no centro de tudo. Quando abriu a Casa internacional de oração em Troussures, o Pe. Caffarel perseguiu sempre o mesmo objectivo. «É preciso dizer aos homens quanto cada um é amado por Deus». Em Troussures, em várias mesas encontra-se uma oração de que qualquer um se pode apropriar: talvez esta oração não seja do Pe. Caffarel, mas é característica do amor de Deus que ele queria dar a conhecer. Leio-vos algumas linhas; é Deus que fala a quem vem com as suas dificuldades e as suas esperanças: «Conheço a tua miséria, as lutas e as tribulações da tua alma; a fraqueza e as enfermidades do teu corpo; conheço a tua cobardia, os teus pecados, os teus desfalecimentos; mesmo assim, digo-te: “Dá-Me o teu coração, ama-Me tal como és”». O postulador lembra aqueles que conheceram o Pe. Caffarel e que encontraram nele uma testemunha da grande e profunda misericórdia de Deus. Os seus escritos tocam-nos sempre: o Pe. Caffarel fala-nos.

A vida do Pe. Caffarel encontra a sua origem em Deus. Ele centra-se em Deus, organiza tudo em torno do encontro com o seu Senhor. Pode ter parecido exigente… («Sede exigentes e jamais vos arrependereis», gostava ele de dizer); pareceu, por vezes, demasiado sério (excepto com os brasileiros, pois não pôde resistir ao seu bom humor!); come pouco (o que é impensável para os franceses!)… O nosso fundador não é, portanto, uma múmia perfeita. Mas foi sempre o homem do encontro. O que o apaixona, sugere-o o seu olhar, um olhar que penetra, um olhar que não é indiscreto mas que parece, humilde e respeitosamente, convidar o outro a falar-lhe do essencial, de Deus. Procura discernir o rasto de Deus no coração de quem vai ter com ele para que também ele receba a luz desse padre que encontrou o Senhor.

O Pe. Caffarel amava a Igreja apaixonadamente. Era padre da diocese de Paris. Os arcebispos de Paris compreenderam e apoiaram sempre as suas obras. Foi o anterior arcebispo de Paris, Mons. Jean-Marie Lustiger, que lhe deu o título de «profeta para o nosso tempo», mostrando assim a fecundidade do Pe. Caffarrel, que apresenta o matrimónio como «caminho de santidade». O Pe. Caffarel estava em profunda harmonia com o Papa Paulo VI. Quando, em 1970, o Pe. Caffarel foi a Roma com mais de três mil casais, o Papa fez um longo discurso sobre o matrimónio que encheu de alegria o padre e os equipistas, de tal maneira viram nele a espiritualidade conjugal de que as Equipas viviam. Nesse dia, o Papa entregou ao Pe. Caffarel um cálice que um seu sobrinho, o Pe. Voisin, nos emprestou para o nosso encontro: é um pouco do Pe. Caffarel, nosso fundador, que visita de novo o Brasil.

Haveria muito mais a dizer sobre o Pe. Caffarel. Mas ele é muito discreto em relação a si próprio e à sua família. Uma questão de temperamento? Talvez. Sobretudo, para ele, ser padre é apagar-se diante de Deus, o único que tem de ser encontrado. Conduzir os outros a Deus é para ele o essencial. No entanto, ele está inteiramente presente nas suas pregações e nos seus escritos. Por isso, gostaria de vos transmitir as impressões do Pe. Caffarel sobre a sua chegada ao Brasil. Dir-me-ão que as linhas que vou ler podem aplicar-se a muitas outras realidades. Lida aqui, neste país, esta carta sobre a oração escrita a um amigo torna-se uma confidência: «Invade-nos uma sensação de angústia quando, ao chegarmos a uma cidade desconhecida (ao porto, à estação, ao aeroporto), não está lá ninguém à nossa espera. Em contrapartida, quando somos acolhidos por um rosto alegre, quando há mãos que se estendem para nós, eis-nos imediata e maravilhosamente reconfortados, livres da impressão cruel de estarmos perdidos. Então, já não nos importam aqueles costumes, aquela língua, toda aquela grande cidade desconcertante: suportamos muito bem ser para todos um estranho, desde que para alguém sejamos um amigo […]». O Pe. Caffarel passa imediatamente a uma confidência maior para ele, mais vital para nós. Escreve ao amigo: «Eu gostaria, caro amigo, que, quando fosses para a meditação, tivesses sempre a forte convicção de que és esperado: esperado pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo, esperado na família trinitária. Onde o teu lugar está pronto: de facto, lembra-te do que Cristo disse: “Vou preparar-vos um lugar”» (Henri Caffarel, Na presença de Deus, Cem cartas sobre a oração, Ed. Lucerna, Estoril, 2008, pp. 8-9). Quantos descreveram o Pe. Caffarel diante do Santíssimo Sacramento, sentado no seu banquinho de pedra. Nada se move: ele permanece em Deus.

Esta carta que acabei de vos ler é “puro Caffarel”! Ele gostava de dizer a respeito de um escrito ou de uma homilia: uma ideia, uma imagem, um sentimento. A ideia é clara: Deus espera-nos sempre. Antes de irmos ter com Ele, Ele espera-nos. Uma imagem: o acolhimento de amigos, e devia lembrar-se da sua chegada ao Brasil. Um sentimento: o do amor, esse amor que todos desejamos receber e dar! A todo o instante o Pe. Caffarel leva-nos a Deus. E, ao mesmo tempo, une-se a nós em profundidade. E ficamos tocados por Deus e maravilhados com Ele.

Uma outra imagem. O Pe. Caffarel escreve: «Quando Deus nos apresenta aquele de quem quer fazer o pai de todos os santos, Abraão, mostra-lhe as estrelas do céu dizendo: “Essa é a tua posteridade”». E o Pe. Caffarel traduz: «A tua santidade é que será a tua fecundidade». Nós somos a «fecundidade» do Pe. Caffarel. Pedimos à Igreja que reconheça a sua santidade. Encontrámos fonte de vida nas graças que o Senhor deu ao nosso fundador. Compete-nos a nós ser santos, pela graça do matrimónio ou pela graça do sacerdócio! Os frutos mostrarão a santidade da árvore.

Permitam-me agora que vos dê algumas notícias precisas sobre o desenrolar do processo da causa do Pe. Caffarel. Este processo foi aberto a 25 de Abril de 2006 pelo arcebispo de Paris, o cardeal André Vingt-Trois, a pedido das Equipas de Nossa Senhora que, para esse fim, se constituíram em «Associação dos Amigos do Pe. Caffarel», sendo a sua responsabilidade assumida pela Equipa Responsável Internacional, em particular pelo casal Maria Carla e Carlo Volpini.

Desde a abertura do processo, o delegado episcopal nomeado para esse inquérito, Mons. Maurive Fréchard, antigo bispo de Pau, recebeu numerosos testemunhos, a maior parte dos quais foi apresentada por mim próprio, postulador, e pela vice-postuladora, Marie-Christine Genillon. Mons. Fréchard recebeu também o relatório dos censores teólogos, que examinaram a rectidão de fé do Pe. Caffarel. Recebeu ainda o relatório da comissão histórica, que examinou a autenticidade das informações relativas à vida do Pe. Caffarel.

A vice-postuladora classificou todos os arquivos respeitantes à causa. Mons. François Fleischmann, antigo conselheiro espiritual internacional, digitalizou perto de três mil páginas, editoriais de revistas e textos vários, e, como chanceler da diocese de Paris, autenticou um número considerável de documentos.

Pensamos que este inquérito diocesano estará terminado no fim deste ano de 2012. O conjunto do trabalho será entregue à Congregação para as Causas dos Santos, em Roma. Abrir-se-á então a segunda parte do caminho sob a responsabilidade de um novo postulador, o Pe. Angelo Paleri, franciscano conventual, postulador geral da sua Ordem e membro das Equipas de Nossa Senhora. Eu próprio terei de redigir a “positio”, ou seja, a síntese das investigações que demonstram a santidade do Pe. Caffarel. As nomeações oficiais serão comunicadas em 2013.

Não é necessário que memorizem tudo o que acabei de vos dizer… Basta que compreendam que uma investigação para uma causa exige tempo e trabalho e que o mesmo se realiza segundo regras estritas. Mas digo-vos tudo isto com a seguinte finalidade:

O Pe. Caffarel será beatificado se Deus quiser… Mas também se cada um de vós também quiser! Se o pedirem ao Senhor! A Igreja reconhece então esta realidade. Para isso, há que realizar três acções:

– em primeiro lugar, ler e meditar os escritos do Pe. Caffarel sobre o matrimónio e a oração. Conhecê-lo é amá-lo e entrar na sua escola.

– Em seguida, viver a vossa graça do matrimónio, ajudados de forma particular pela Carta: o matrimónio é um caminho de santidade. A santidade da vossa vida manifestará também a santidade do Pe. Caffarel que vos conduziu. Os padres, inseparáveis dos equipistas, são também testemunhas do que o Pe. Caffarel foi e é para todos.

– Finalmente, rezar com frequência a oração que pede a canonização do Pe. Caffarel. Pedir, pedir ao Senhor graças e um milagre, sinal da presença e da intercessão do Pe. Caffarel por nós. Peço-vos, pois, instantemente que nos comuniquem todos os relatos de graças que tiverem recebido pela intercessão do Pe. Caffarel, graças para a vossa vida moral, graças espirituais e, é claro, graças para a vossa vida física. Todos sabemos que um milagre é uma cura física, instantânea e definitiva que a ciência não pode explicar. Um milagre floresce sempre no meio de um povo que pede todas as graças.

Para terminar, uma canonização, cuja primeira etapa é a beatificação, é para o bem do povo cristão e da sociedade humana. Pensamos que a mensagem do Pe. Caffarel sobre o amor e a oração deve ser conhecida por todos. O Pe. Caffarel foi-nos dado por Deus; temos de o dar a conhecer aos casais e a todos os que procuram o Senhor. Não podemos guardar para nós tal tesouro. Falar do Pe. Henri Caffarel é evangelizar os homens e as mulheres que procuram a felicidade.
 

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