Brasília, 25/07/2012 - 08:30:00 H
Imagino que o samaritano tinha planeado o seu dia. Tinha tudo
o que era necessário para a viagem: dinheiro, vinho, azeite e pão. E
então viu o homem ferido à beira da estrada, encheu-se de compaixão e os
seus planos foram transtornados. Provavelmente, teve que utilizar a sua
própria roupa para lhe ligar as feridas. O azeite e o vinho tiveram que
ser usados para as feridas, e o dinheiro dado ao estalajadeiro.
Prometeu-lhe dinheiro que ainda não tinha: «Trata bem dele e, o que
gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar».
Há um provérbio inglês que diz: «Se queres fazer Deus rir, conta-lhe os teus planos». O amor perturba os meticulosos planos que fazemos para as nossas vidas. Se amamos, temos, em certo sentido, de perder o controlo sobre as nossas vidas, porque não podemos prever com antecedência o que o amor nos vai pedir. Um dominicano francês veio passar um tempo na minha comunidade em Oxford. Aprendeu bengali para poder partilhar a vida com os mais pobres dos pobres de Calcutá. Na altura, eu era estudante e perguntei-lhe o que é que ele contava fazer por eles. Respondeu: «Como posso saber antes de eles me dizerem?».
Penso que muitos de vocês viram o filme Dos homens e dos deuses. É uma história verídica de uma pequena comunidade de monges trapistas que viviam nas montanhas do Atlas na Argélia. Estavam profundamente integrados na aldeia muçulmana local, e viram-se então envolvidos na escalada do conflito violento entre os terroristas e o exército. Tiveram de decidir se deviam ficar ou partir. Sabiam que, se ficassem, seriam certamente mortos. Quando estabeleceram a comunidade, nunca imaginaram que a sua vocação exigiria a sua morte. Um dos monges mais novos diz ao Prior: «Mas eu não me fiz monge para morrer». E o Pior responde: «Mas já deste a tua vida». Foram decapitados no dia 21 de Maio de 1996. Esta foi uma exigência inesperada do amor.
á conhecem isto no vosso casamento. Quando se dão um ao outro no amor, não sabem antecipadamente o que isso vos custará. Jantei com um amigo e a sua mulher. Ela está agora perdida no nevoeiro do Alzheimer. Quando eram jovens recém-casados, nunca imaginaram que o seu amor se tornaria tão profundo, tão alargado, e que ele cuidaria dela quando ela já nem sempre se lembra de quem ele é. Quando José ficou noivo de Maria, não podia saber que isso envolveria criar alguém que não era seu filho, o Salvador do mundo.
A nossa sociedade considera assustadora a imprevisibilidade do amor, razão pela qual muitos casais assinam acordos pré-nupciais. Temos medo de correr riscos. Um historiador e filósofo canadiano, Charles Taylor, afirmou que, a partir do séc. XVI, assistimos ao avanço da cultura do controlo. Quando as pessoas deixaram de acreditar na suave providência de Deus, tivemos que tomar o controlo do mundo. Tudo tem de ser gerido, avaliado, controlado.
Até a Igreja é muitas vezes tentada pela cultura do controlo! Mas o amor exige mais do que o que sabemos antecipadamente e dá mais do que podemos imaginar.
Quererá isto dizer que devemos abdicar de todo o controlo das nossas vidas? Devemos tornar-nos passivos, prisioneiros dos outros, à mercê das circunstâncias? As nossas vidas perderão toda a direcção quando reagimos aos acontecimentos? Não, porque a liberdade mais profunda consiste em dar a vida. Jesus é a pessoa mais livre que alguma vez existiu. E o seu grande acto de liberdade foi entregar-se a nós sem reservas. «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gálatas 5,1). É esta a liberdade do casamento, arriscar dar-se a outra pessoa. A pessoa que não ousa correr esse risco mas quer sempre manter o controlo de tudo fica prisioneira do seu medo.
É a mesma coisa na vida religiosa. Somos chamados a viver esta incerteza com alegria. Um dos meus maiores amigos na Ordem é um dominicano francês chamado Jean Jacques. Formou-se em economia, foi para a Argélia estudar irrigação, aprendeu árabe, ensinou lá na universidade. Foi duro, mas satisfê-lo profundamente. Então, um dia o seu Provincial telefonou-lhe para lhe pedir que voltasse para França para ser mestre de estudos. Ele ficou completamente desconcertado; ficou desgostoso, e então lembrou-se da alegria de ter entregado a sua vida sem condições. Então, foi comprar uma garrafa de champanhe para celebrar com os amigos a sua liberdade. Uns anos mais tarde, fui eleito Mestre da Ordem e precisava urgentemente de ter alguém que eu conhecesse no Conselho Geral. Procurei Jean Jacques e pedi-lhe que viesse. Perguntou se podia pensar no assunto. E eu disse que sim. Pediu um mês. E eu dei-lhe um dia. Ele disse que sim. Mais champanhe! O champanhe da liberdade.
Faz parte da nossa missão encorajar as pessoas a correrem o risco do amor. Talvez, por vezes, os jovens vivam em união de facto porque têm medo de assumir esse compromisso. Ou as pessoas em segunda ou terceira união receiem ser feridas de novo e queiram manter o controlo total das suas vidas.
Há um provérbio inglês que diz: «Se queres fazer Deus rir, conta-lhe os teus planos». O amor perturba os meticulosos planos que fazemos para as nossas vidas. Se amamos, temos, em certo sentido, de perder o controlo sobre as nossas vidas, porque não podemos prever com antecedência o que o amor nos vai pedir. Um dominicano francês veio passar um tempo na minha comunidade em Oxford. Aprendeu bengali para poder partilhar a vida com os mais pobres dos pobres de Calcutá. Na altura, eu era estudante e perguntei-lhe o que é que ele contava fazer por eles. Respondeu: «Como posso saber antes de eles me dizerem?».
Penso que muitos de vocês viram o filme Dos homens e dos deuses. É uma história verídica de uma pequena comunidade de monges trapistas que viviam nas montanhas do Atlas na Argélia. Estavam profundamente integrados na aldeia muçulmana local, e viram-se então envolvidos na escalada do conflito violento entre os terroristas e o exército. Tiveram de decidir se deviam ficar ou partir. Sabiam que, se ficassem, seriam certamente mortos. Quando estabeleceram a comunidade, nunca imaginaram que a sua vocação exigiria a sua morte. Um dos monges mais novos diz ao Prior: «Mas eu não me fiz monge para morrer». E o Pior responde: «Mas já deste a tua vida». Foram decapitados no dia 21 de Maio de 1996. Esta foi uma exigência inesperada do amor.
á conhecem isto no vosso casamento. Quando se dão um ao outro no amor, não sabem antecipadamente o que isso vos custará. Jantei com um amigo e a sua mulher. Ela está agora perdida no nevoeiro do Alzheimer. Quando eram jovens recém-casados, nunca imaginaram que o seu amor se tornaria tão profundo, tão alargado, e que ele cuidaria dela quando ela já nem sempre se lembra de quem ele é. Quando José ficou noivo de Maria, não podia saber que isso envolveria criar alguém que não era seu filho, o Salvador do mundo.
A nossa sociedade considera assustadora a imprevisibilidade do amor, razão pela qual muitos casais assinam acordos pré-nupciais. Temos medo de correr riscos. Um historiador e filósofo canadiano, Charles Taylor, afirmou que, a partir do séc. XVI, assistimos ao avanço da cultura do controlo. Quando as pessoas deixaram de acreditar na suave providência de Deus, tivemos que tomar o controlo do mundo. Tudo tem de ser gerido, avaliado, controlado.
Até a Igreja é muitas vezes tentada pela cultura do controlo! Mas o amor exige mais do que o que sabemos antecipadamente e dá mais do que podemos imaginar.
Quererá isto dizer que devemos abdicar de todo o controlo das nossas vidas? Devemos tornar-nos passivos, prisioneiros dos outros, à mercê das circunstâncias? As nossas vidas perderão toda a direcção quando reagimos aos acontecimentos? Não, porque a liberdade mais profunda consiste em dar a vida. Jesus é a pessoa mais livre que alguma vez existiu. E o seu grande acto de liberdade foi entregar-se a nós sem reservas. «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gálatas 5,1). É esta a liberdade do casamento, arriscar dar-se a outra pessoa. A pessoa que não ousa correr esse risco mas quer sempre manter o controlo de tudo fica prisioneira do seu medo.
É a mesma coisa na vida religiosa. Somos chamados a viver esta incerteza com alegria. Um dos meus maiores amigos na Ordem é um dominicano francês chamado Jean Jacques. Formou-se em economia, foi para a Argélia estudar irrigação, aprendeu árabe, ensinou lá na universidade. Foi duro, mas satisfê-lo profundamente. Então, um dia o seu Provincial telefonou-lhe para lhe pedir que voltasse para França para ser mestre de estudos. Ele ficou completamente desconcertado; ficou desgostoso, e então lembrou-se da alegria de ter entregado a sua vida sem condições. Então, foi comprar uma garrafa de champanhe para celebrar com os amigos a sua liberdade. Uns anos mais tarde, fui eleito Mestre da Ordem e precisava urgentemente de ter alguém que eu conhecesse no Conselho Geral. Procurei Jean Jacques e pedi-lhe que viesse. Perguntou se podia pensar no assunto. E eu disse que sim. Pediu um mês. E eu dei-lhe um dia. Ele disse que sim. Mais champanhe! O champanhe da liberdade.
Faz parte da nossa missão encorajar as pessoas a correrem o risco do amor. Talvez, por vezes, os jovens vivam em união de facto porque têm medo de assumir esse compromisso. Ou as pessoas em segunda ou terceira união receiem ser feridas de novo e queiram manter o controlo total das suas vidas.
Encorajemo-nos uns ao outros a ter a coragem de deixar que Deus vire do avesso os nossos planos!
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