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domingo, 14 de abril de 2013

XI ENCONTRO INTERNACIONAL DAS ENS - BRASÍLIA/DF - TESTEMUNHO: CONFLITO E PAZ NO MUNDO DE HOJE (Terezinha e Danile Godri)



 Brasília, 24/07/2012 - 10:00h


 Somos Terezinha e Daniel Godri - Equipe 40 – Nossa Senhora da Fraternidade. - setor B - Curitiba - Paraná.


Temos 3 filhos e estamos neste movimento há 30 anos.



Nosso principal desejo é que este depoimento seja para maior gloria da Santíssima Trindade e em louvor a Maria Santíssima nossa mãe e mãe de Deus.



Há 15 anos atrás, nosso filho Daniel Junior na época com 17 anos e inspirado no evangelho do bom samaritano, onde Jesus disse VAI TU E FAÇA O MESMO, e também noutra passagem onde Jesus disse TUDO QUE FIZEREM A UM DOS PEQUENINOS É A MIM QUE O FAZEIS, teve a iniciativa de fazer um trabalho voluntario no Hospital Erasto Gaertner junto às crianças que estavam em tratamento para cura do câncer. Nosso filho fazia visitas frequentes e percebendo que as crianças tinham poucos motivos para sorrir, começou a se vestir de palhaço, mais ou menos como fazem hoje os Doutores da Alegria.



Daniel Junior procurava fazer brincadeiras com as crianças para que a dor fosse esquecida e ao menos temporariamente as lagrimas fossem transformadas em boas gargalhadas. Também percebeu que a grande maiorias das crianças internadas eram oriundas de regiões distantes de todo o Brasil , muitos procedentes de famílias pobres, sem recursos, sem conhecidos na cidade e alguns pais sem saberem sequer ler e escrever.



Muitos conseguiram albergue nas casas de apoio mantidas pelos órgãos públicos, mas como Curitiba recebia mais pacientes do que a capacidade de acolhimento, Daniel Junior também observou que aqueles pais que não tinham um lugar para ficar permaneciama noite inteira sem dormir, perambulando pelas dependências do hospital.



Nosso filho sugeriu que comprássemos uma casa e a mobiliasse de tal modo que seria para eles um abrigo seguro onde pudessem recuperar não só as suas forças físicas, mas, principalmente onde pudesse recuperar a esperança, a fé , um lugar onde revigorassem o corpo e o espírito.



Assim fizemos e como as maiorias dos tratamentos são de longa duração, muitos permaneceram conosco nesta casa por vários anos, fazendo dela seu segundo lar.



Vivenciamos vários casos de alegrias mas também de tristezas, de curas espetaculares mas também de perdas irreparáveis, todas as pessoas foram marcantes mas algumas em especial nos tocaram profundamente, conforme relataremos abaixo:



Mônica, uma menina de 6 (seis) anos de idade e sua mãe vinda da cidade de Cuiabá, estado do Mato Grosso, foram os primeiros. Como a menina tinha leucemia e precisava de um transplante de medula óssea ficaram muitos anos conosco, correndo contra o tempo na busca de um doador pois ninguém da sua família era compatível e a única chance era encontrar um doador no banco mundial de medula óssea.

Milagrosamente conseguiu uma doadora do Texas, Estados Unidos,  fez o transplante , Mônica lutou com a força de gente grande e hoje está curada.

Mônica visita Curitiba apenas para consultas de manutenção.



Alan, uma criança de 3 (três) anos de idade vindo com sua mãe da cidade de Alta Floresta, estado do Mato Grosso, tinha câncer no olho direito. Depois de todas as tentativas possíveis, os médicos optaram por extrair o olho direito para tentar salvar o olho esquerdo pois perceberam que já estava ocorrendo a metástase, o câncer rapidamente estava se alastrando. Foi colocada uma prótese no olho extirpado, apesar da dor e da dificuldade de adaptação ,Alan brincava e fazia travessuras dignas de um bom filme de ficção. Uma manhã, Alan estava brincando ao sol no jardim da casa quando o carteiro pediu para ele chamar sua mãe pois ela teria que assinar o recebimento de uma correspondência. Antes de chamá-la Alan perguntou ao carteiro se o mesmo queria ver o seu olho... O carteiro sem saber de nada disse que sim. Alan sem a menor cerimônia tirou a prótese com seus pequenos dedinhos e a mostrou para o carteiro. A mãe do Alan nos contou que encontrou o carteiro paralisado, pálido e sem conseguir dizer uma só palavra. Infelizmente a doença se agravou, os médicos tiveram que extrair também o olho esquerdo. A mãe prevendo o desfecho final, mesmo não sendo católica praticante, pediu para que Alan fosse batizado. Fomos convidados para ser os padrinhos e daquele dia em diante os padres da nossa comunidade passaram a atender todos que passariam pela casa. Alan viveu alguns anos totalmente cego vindo a falecer com 8 (oito) anos de idade. Nas inúmeras seções de radioterapia e quimioterapia, as famílias conversavam entre elas e assim novas famílias eram indicadas para virem conhecer nossa casa.



Há alguns anos divulgamos nossa casa na Carta Mensal, um casal equipista de Minas Gerais ouvindo falar de uma moça da cidade de Valença estado do Rio de Janeiro e que precisava de acolhida, encaminhou -nos uma jovem mulher, a querida Maria Luiza. Fez transplante e não foi bem sucedida. Até hoje vem até Curitiba e se mantêm através de altas doses de medicação.

Marcos que gostava de ser chamado de Marquinhos era um menino gordinho de 5 (cinco) anos de idade ,vindo da cidade de Alta Floresta com sua mãe, seu pai, sua irmã. Marquinhos também tinha leucemia. Como na casa sempre fazemos orações comunitárias, Marquinhos fazia questão de distribuir e recolher os terços bem como opinar sobre as canções que juntos entoávamos.



Mesmo sem saber ler, Marquinhos recitava em voz alta todos os dias o salmo 23 O SENHOR É MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ... e também era a canção que queria incluir nos cânticos e nos fazer cantar quase todos os dias. Quando tinha 9 (nove ) anos de idade, pediu para receber a primeira comunhão. Conseguimos catequistas voluntários que vinham até a casa para fazerem a preparação do mesmo. A doença se agravou e Marquinhos não pode fazer sua primeira comunhão na igreja juntos com outras crianças mas Terezinha conseguiu autorização e levou um diácono ao hospital onde algumas horas antes de falecer Marquinhos recebeu a santa eucaristia. Terezinha sussurrou nos ouvidos do Marquinhos que ele iria receber Jesus. Marquinhos embora semi consciente esboçou um sorriso de gratidão e de louvor. Terezinha viu uma lagrima nos olhinhos do mesmo, não lagrima de dor mas uma lagrima diferente que rolou por sua bochecha gordinha. Marquinho que para Jesus era como uma ovelha bastante fofinha , naquele dia veio a falecer. Aquela ovelha gordinha e fofinha estava finalmente sendo confortada nos braços do Bom Pastor.



Sara, uma adolescente de 13 anos de idade, veio com sua mãe, pai e irmão da cidade de  Pontalina, estado de Goiás. Fez transplante de medula óssea e como houve rejeição por parte do seu organismo, teve que tomar remédios fortíssimos por muito tempo, prejudicando seus rins que aos poucos também pararam de funcionar. O irmão que tinha sido o doador da medula óssea também doou um rim para a mesma. Esta família além das orações comunitárias fazia diariamente, mesmo quando estava no hospital a novena de São José, novena esta que foi sugerida pelo então nosso conselheiro espiritual Monsenhor Luiz Gonzaga. Anos e anos de lutas, mesmo contra todas as probabilidades, Sara milagrosamente ficou curada, vem para Curitiba apenas para consultas de manutenção. A promessa que fez para nós é que seremos convidados para o seu casamento, esperamos que seja em breve. Com certeza São José há de ajudar.



Gerson, veio do interior do estado da Bahia, um homem com 30 (trinta) anos, casado já com um filho pequeno. Ele veio sem a menor esperança de cura, inclusive afirmada pelos médicos de sua cidade, antes mesmo de realizar a viagem. Fez o transplante aqui em Curitiba e se recuperou. O próprio medico que fez o transplante disse incrédulo que apenas fez o transplante para não ser negligente porque também acreditava que seria inútil. Milagrosamente Gerson hoje está curado, trabalhando e levando a vida normalmente.



Jailson, um jovem de 23( vinte e três ) anos de idade veio da cidade de Jaboatão dos Guararapes, estado do Pernambuco, com sua mãe, (na grande maioria dos casos é sempre a mãe que acompanha). Pelos exames, seu tratamento tinha enormes chances de dar tudo certo. Uma madrugada recebeu a ligação para levar com urgência ao hospital a dona Lalá como ele carinhosamente chamava sua mãe. Lá chegando recebemos a noticia que Jailson tinha acabado de falecer. Vimos Dona Lalá se ajoelhar junto ao corpo ainda quente do seu filho e em alta voz fazer uma oração de entrega a Maria para que Maria o entregasse a seu filho Jesus, afinal, Maria mais do que ninguém conhecia a dor de ter um filho recém-falecido em seus braços.



Jéssica, uma menina de 3 (três) anos de idade, veio com sua mãe adotiva, pois era de uma tribo indígena de Caarapó, estado do Mato Grosso do Sul. Jéssica era devota de Nossa Senhora Aparecida, após as orações comunitárias fazia questão que todos os presentes beijassem a imagem de Nossa Senhora e assim com seu gesto simples e singelo transformou muitos corações de voluntários que frequentavam nossa casa, alguns não eram católicos e muitos nem sequer tinham fé em Deus. Jéssica está completamente curada, também convenhamos, tendo Nossa Senhora Aparecida como mãe, não poderia ter tido uma intercessora melhor.



Rivaldo, um menino de 11 (onze) anos de idade, veio de Vicenza, interior de Pernambuco, filho de cortadores de cana (bóias frias). Tinha muitos irmãos, a única doadora compatível foi sua irmã que tinha doença mental, era tetraplégica e vivia em uma cadeira de rodas. Após transplante, voltou para sua cidade e estava vivendo normalmente. A família não ministrou os medicamentos conforme orientação medica e seu estado se agravou novamente.

Infelizmente a leucemia retornou e de volta ao hospital de Curitiba já na UTI ficou com baixa imunidade ficando com o corpo todo chagado, em carne viva, talvez semelhante ao corpo desfigurado do Senhor Jesus quando foi tirado da cruz. Faleceu com 15 anos de idade.



Luiz Gustavo, era um menino de 4 (quatro) anos de idade, veio de Sorriso, estado do Mato Grosso, acompanhado de sua mãe. Ficou 3 anos conosco, estava a maior parte do tempo com tubos na boca e no aparelho digestivo. Implorava para ir ao colo de sua mãe o que era impossível por causa dos aparelhos e das tubulações. Vendo a gravidade à mãe pediu o batismo para o filho, foi atendida prontamente, levamos o Padre Lino que realizou o batismo no hospital. No dia seguinte ao batismo houve uma melhora inexplicável, Luiz Gustavo saiu das

tubulações, pediu para tomar banho, pediu para colocar talco e queria muito perfume em seu corpinho, também brincou bastante. O melhor de tudo é que naquele dia o menino pode passar quase todo o tempo aproveitando o colo de sua mãe. Na manhã do dia seguinte Luiz Gustavo faleceu, com certeza agora deve aproveitar bastante o céu e como gostava muito do colo de sua mãe, com certeza também deve pedir para ficar todos os dias no colo de Nossa Senhora.



Junior, um jovem com corpo atlético veio com sua mãe de Salvador, Bahia, moravam em uma área carente. Junior era muito bom no futebol, havia treinado nas divisões de base dos clubes baianos, mas com leucemia teve que parar com as partidas de futebol. Com desespero em busca da cura procurou por varias religiões e começou a se identificar com uma que folgava o sábado e não o domingo como nós. Procuramos sua igreja mais próxima e sugerimos paraque o integrante de sua religião os visitasse na nossa casa de apoio. Fez tratamento e ficou conosco por vários anos. De tanto participar também das nossas orações diárias o Junior acabou aprendendo a rezar o terço sem que fizéssemos qualquer imposição. Junior não resistiu ao tratamento e faleceu.  Acreditamos que como era um craque bom de bola deve ter sido escalado para jogar no time de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acreditamos que Junior no céu tem treinado todo sábado, mas deve estar percebendo que os jogos oficiais com certeza estão sendo realizados nos domingos, afinal no domingo todos no céu comemoram e celebram ainda com mais alegria, pois foi no domingo o dia que o Senhor Jesus ressuscitou.



Tivemos também famílias vindas do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná (interior), Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rondônia e Amazonas.

Todos queriam de uma forma ou de outra pagar pela acolhida e como não tinham recursos, traziam frutos de sua respectiva terra natal. Eram como os pastores na noite de natal. Uns traziam bananas, outros côco, outros caranguejos, queijos, farinhas de mandioca, piqui, e tudo era colocado em comum. No refeitório da casa faziam suas comidas típicas e do Norte ao Sul do país eram trocadas as mais belas experiências. Até hoje ainda se comunicam conosco e também se comunicam entre si, juntos eles formam uma comunidade de vida e esperança.

Como tinha missa frequentes quando estavam em Curitiba, ainda hoje muitos confirmam que  continuam a frequentar a igreja e a praticar o catolicismo em suas cidades.



Anualmente procuramos organizar um evento em Curitiba para que todos possam se reencontrar e celebrar a vida com cânticos, orações e missa de ação de graças.



Hoje, neste momento nossa casa está acolhendo o menino Wendreu, com 5 (cinco) anos de idade, veio com sua mãe da cidade de Pelotas no estado do Rio Grande do Sul. Wendreu tem uma doença rara chamada síndrome de Fanconi. Necessita de um transplante urgente mas como não encontrou doadores estão desesperadamente buscando auxilio. Sua mãe, mesmo sem muita instrução, criou na cidade de Pelotas, uma ONG (corrente pela vida) para incentivar as pessoas a serem doadoras. Talvez seja o caso agora de quem quiser ser um doador de medula óssea procurar um banco de sangue e fazer o seu cadastro.



Para terminar queremos comentar que ainda hoje não temos muita experiência com lidar com tudo isto e quando começamos tínhamos menos experiência ainda. Tivemos muito medo. Medo de não dar conta, medo de não saber lidar com os problemas, medo de não dar certo, medo de enfrentar a luta diária. Tínhamos medo também de que as despesas fossem muito além das nossas possibilidades, quanto a isto queremos testemunhar que isto nunca ocorreu. Acreditem, sem nenhuma ajuda de órgãos governamentais, sem qualquer dedução de impostos, sem muitos donativos, percebemos que por mais incrível que pareça as despesas nunca foram problema, pelo contrário na casa as despesas pareciam menores do que as de costume. Quando na época da aquisição do imóvel, o investimento saiu de nossas próprias economias acumuladas durante nossas vidas. Sem muito conhecimento de causa, adquirimos aquele imóvel. Até hoje não entendemos muito de imóveis, não entendemos de cambio, de bolsa de valores, enfim, não entendemos nada de investimentos, mas acreditem, se hoje nos perguntarem sobre qual foi nosso melhor investimento, respondemos sem qualquer sombra de duvida que...

FOI O NOSSO INVESTIMENTO MAIS ACERTADO, FOI O MELHOR INVESTIMENTO QUE FIZEMOS EM TODAS NOSSAS VIDAS.



Deus abençoe vocês, suas famílias, suas equipes e seus trabalhos.



Deus Seja Louvado.



Terezinha e Daniel Godri



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