Brasília, 24/07/2012 - 10:00h
Somos Terezinha e Daniel Godri - Equipe 40 – Nossa Senhora da
Fraternidade. - setor B - Curitiba - Paraná.
Temos 3 filhos e estamos neste movimento há 30 anos.
Nosso principal desejo é que este depoimento seja para maior gloria da Santíssima Trindade e em louvor a Maria Santíssima nossa mãe e mãe de Deus.
Há 15 anos atrás, nosso filho Daniel Junior na época com 17 anos e inspirado no evangelho do bom samaritano, onde Jesus disse VAI TU E FAÇA O MESMO, e também noutra passagem onde Jesus disse TUDO QUE FIZEREM A UM DOS PEQUENINOS É A MIM QUE O FAZEIS, teve a iniciativa de fazer um trabalho voluntario no Hospital Erasto Gaertner junto às crianças que estavam em tratamento para cura do câncer. Nosso filho fazia visitas frequentes e percebendo que as crianças tinham poucos motivos para sorrir, começou a se vestir de palhaço, mais ou menos como fazem hoje os Doutores da Alegria.
Daniel Junior procurava fazer brincadeiras com as crianças para que a dor fosse esquecida e ao menos temporariamente as lagrimas fossem transformadas em boas gargalhadas. Também percebeu que a grande maiorias das crianças internadas eram oriundas de regiões distantes de todo o Brasil , muitos procedentes de famílias pobres, sem recursos, sem conhecidos na cidade e alguns pais sem saberem sequer ler e escrever.
Muitos conseguiram albergue nas casas de apoio mantidas pelos órgãos públicos, mas como Curitiba recebia mais pacientes do que a capacidade de acolhimento, Daniel Junior também observou que aqueles pais que não tinham um lugar para ficar permaneciama noite inteira sem dormir, perambulando pelas dependências do hospital.
Nosso filho sugeriu que comprássemos uma casa e a mobiliasse de tal modo que seria para eles um abrigo seguro onde pudessem recuperar não só as suas forças físicas, mas, principalmente onde pudesse recuperar a esperança, a fé , um lugar onde revigorassem o corpo e o espírito.
Assim fizemos e como as maiorias dos tratamentos são de longa duração, muitos permaneceram conosco nesta casa por vários anos, fazendo dela seu segundo lar.
Vivenciamos vários casos de alegrias mas também de tristezas, de curas
espetaculares mas também de perdas irreparáveis, todas as pessoas foram marcantes
mas algumas em especial nos tocaram profundamente, conforme relataremos abaixo:
Mônica, uma menina de 6 (seis) anos de idade e sua mãe vinda da cidade
de Cuiabá, estado do Mato Grosso, foram os primeiros. Como a menina tinha
leucemia e precisava de um transplante de medula óssea ficaram muitos anos
conosco, correndo contra o tempo na busca de um doador pois ninguém da sua
família era compatível e a única chance era encontrar um doador no
banco mundial de medula óssea.
Milagrosamente conseguiu uma doadora do Texas, Estados Unidos, fez o transplante , Mônica lutou com a força
de gente grande e hoje está curada.
Mônica visita Curitiba apenas para consultas de manutenção.
Alan, uma criança de 3 (três) anos de idade vindo com sua mãe da cidade
de Alta Floresta, estado do Mato Grosso, tinha câncer no olho direito. Depois
de todas as tentativas possíveis, os médicos optaram por extrair o olho direito
para tentar salvar o olho esquerdo pois perceberam que já estava ocorrendo a
metástase, o câncer rapidamente estava se alastrando. Foi colocada uma prótese
no olho extirpado, apesar da dor e da dificuldade de adaptação ,Alan brincava e
fazia travessuras dignas de um bom filme de ficção. Uma manhã, Alan estava
brincando ao sol no jardim da casa quando o carteiro pediu para ele chamar sua
mãe pois ela teria que assinar o recebimento de uma correspondência. Antes de chamá-la
Alan perguntou ao carteiro se o mesmo queria ver o seu olho... O carteiro sem
saber de nada disse que sim. Alan sem a menor cerimônia tirou a prótese com
seus pequenos dedinhos e a mostrou para o carteiro. A mãe do Alan nos contou
que encontrou o carteiro paralisado, pálido e sem conseguir dizer uma só
palavra. Infelizmente a doença se agravou, os médicos tiveram que extrair
também o olho esquerdo. A mãe prevendo o desfecho final, mesmo não sendo
católica praticante, pediu para que Alan fosse batizado. Fomos convidados para
ser os padrinhos e daquele dia em diante os padres da nossa comunidade passaram
a atender todos que passariam pela casa. Alan viveu alguns anos totalmente cego
vindo a falecer com 8 (oito) anos de idade. Nas inúmeras seções de radioterapia
e quimioterapia, as famílias conversavam entre elas e assim novas famílias eram
indicadas para virem conhecer nossa casa.
Há alguns anos divulgamos nossa casa na Carta Mensal, um casal equipista
de Minas Gerais ouvindo falar de uma moça da cidade de Valença estado do Rio de
Janeiro e que precisava de acolhida, encaminhou -nos uma jovem mulher, a
querida Maria Luiza. Fez transplante e não foi bem sucedida. Até hoje vem até
Curitiba e se mantêm através de altas doses de medicação.
Marcos que gostava de ser chamado de Marquinhos era um menino gordinho de
5 (cinco) anos de idade ,vindo da cidade de Alta Floresta com sua mãe, seu pai,
sua irmã. Marquinhos também tinha leucemia. Como na casa sempre fazemos orações
comunitárias, Marquinhos fazia questão de distribuir e recolher os terços bem
como opinar sobre as canções que juntos entoávamos.
Mesmo sem saber ler, Marquinhos recitava em voz alta todos os dias o salmo 23 O SENHOR É MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ... e também era a
canção que queria incluir nos cânticos e nos fazer cantar quase todos os dias. Quando
tinha 9 (nove ) anos de idade, pediu para receber a primeira comunhão. Conseguimos
catequistas voluntários que vinham até a casa para fazerem a preparação do mesmo.
A doença se agravou e Marquinhos não pode fazer sua primeira comunhão na igreja
juntos com outras crianças mas Terezinha conseguiu autorização e levou um diácono
ao hospital onde algumas horas antes de falecer Marquinhos recebeu a santa eucaristia.
Terezinha sussurrou nos ouvidos do Marquinhos que ele iria receber Jesus. Marquinhos
embora semi consciente esboçou um sorriso de gratidão e de louvor. Terezinha viu
uma lagrima nos olhinhos do mesmo, não lagrima de dor mas uma lagrima diferente
que rolou por sua bochecha gordinha. Marquinho que para Jesus era como uma
ovelha bastante fofinha , naquele dia veio a falecer. Aquela ovelha gordinha e
fofinha estava finalmente sendo confortada nos braços do Bom Pastor.
Sara, uma adolescente de 13 anos de idade, veio com sua mãe, pai e irmão
da cidade de Pontalina, estado de Goiás.
Fez transplante de medula óssea e como houve rejeição por parte do seu
organismo, teve que tomar remédios fortíssimos por muito tempo, prejudicando
seus rins que aos poucos também pararam de funcionar. O irmão que tinha sido o
doador da medula óssea também doou um rim para a mesma. Esta família além das
orações comunitárias fazia diariamente, mesmo quando estava no hospital a
novena de São José, novena esta que foi sugerida pelo então nosso conselheiro
espiritual Monsenhor Luiz Gonzaga. Anos e anos de lutas, mesmo contra todas as
probabilidades, Sara milagrosamente ficou curada, vem para Curitiba apenas para
consultas de manutenção. A promessa que fez para nós é que seremos convidados
para o seu casamento, esperamos que seja em breve. Com certeza São José há de
ajudar.
Gerson, veio do interior do estado da Bahia, um homem com 30 (trinta)
anos, casado já com um filho pequeno. Ele veio sem a menor esperança de cura,
inclusive afirmada pelos médicos de sua cidade, antes mesmo de realizar a
viagem. Fez o transplante aqui em Curitiba e se recuperou. O próprio medico que
fez o transplante disse incrédulo que apenas fez o transplante para não ser
negligente porque também acreditava que seria inútil. Milagrosamente Gerson
hoje está curado, trabalhando e levando a vida normalmente.
Jailson, um jovem de 23( vinte e três ) anos de idade veio da cidade de
Jaboatão dos Guararapes, estado do Pernambuco, com sua mãe, (na grande maioria
dos casos é sempre a mãe que acompanha). Pelos exames, seu tratamento tinha enormes
chances de dar tudo certo. Uma madrugada recebeu a ligação para levar com
urgência ao hospital a dona Lalá como ele carinhosamente chamava sua mãe. Lá
chegando recebemos a noticia que Jailson tinha acabado de falecer. Vimos Dona
Lalá se ajoelhar junto ao corpo ainda quente do seu filho e em alta voz fazer
uma oração de entrega a Maria para que Maria o entregasse a seu filho Jesus, afinal,
Maria mais do que ninguém conhecia a dor de ter um filho recém-falecido em seus
braços.
Jéssica, uma menina de 3 (três) anos de idade, veio com sua mãe adotiva,
pois era de uma tribo indígena de Caarapó, estado do Mato Grosso do Sul. Jéssica
era devota de Nossa Senhora Aparecida, após as orações comunitárias fazia
questão que todos os presentes beijassem a imagem de Nossa Senhora e assim com
seu gesto simples e singelo transformou muitos corações de voluntários que
frequentavam nossa casa, alguns não eram católicos e muitos nem sequer tinham
fé em Deus. Jéssica está completamente curada, também convenhamos, tendo Nossa
Senhora Aparecida como mãe, não poderia ter tido uma intercessora melhor.
Rivaldo, um menino de 11 (onze) anos de idade, veio de Vicenza, interior
de Pernambuco, filho de cortadores de cana (bóias frias). Tinha muitos irmãos,
a única doadora compatível foi sua irmã que tinha doença mental, era
tetraplégica e vivia em uma cadeira de rodas. Após transplante, voltou para sua
cidade e estava vivendo normalmente. A família não ministrou os medicamentos
conforme orientação medica e seu estado se agravou novamente.
Infelizmente a leucemia retornou e de volta ao hospital de Curitiba já na
UTI ficou com baixa imunidade ficando com o corpo todo chagado, em carne viva,
talvez semelhante ao corpo desfigurado do Senhor Jesus quando foi tirado da
cruz. Faleceu com 15 anos de idade.
Luiz Gustavo, era um menino de 4 (quatro) anos de idade, veio de
Sorriso, estado do Mato Grosso, acompanhado de sua mãe. Ficou 3 anos conosco,
estava a maior parte do tempo com tubos na boca e no aparelho digestivo. Implorava
para ir ao colo de sua mãe o que era impossível por causa dos aparelhos e das tubulações.
Vendo a gravidade à mãe pediu o batismo para o filho, foi atendida prontamente,
levamos o Padre Lino que realizou o batismo no hospital. No dia
seguinte ao batismo houve uma melhora inexplicável, Luiz Gustavo saiu das
tubulações, pediu para tomar banho, pediu para colocar talco e queria
muito perfume em seu corpinho, também brincou bastante. O melhor de tudo é que
naquele dia o menino pode passar quase todo o tempo aproveitando o colo de sua
mãe. Na manhã do dia seguinte Luiz Gustavo faleceu, com certeza agora deve
aproveitar bastante o céu e como gostava muito do colo de sua mãe, com certeza
também deve pedir para ficar todos os dias no colo de Nossa Senhora.
Junior, um jovem com corpo atlético veio com sua mãe de Salvador, Bahia,
moravam em uma área carente. Junior era muito bom no futebol, havia treinado
nas divisões de base dos clubes baianos, mas com leucemia teve que parar com as
partidas de futebol. Com desespero em busca da cura procurou por varias
religiões e começou a se identificar com uma que folgava o sábado e não o
domingo como nós. Procuramos sua igreja mais próxima e sugerimos paraque o
integrante de sua religião os visitasse na nossa casa de apoio. Fez tratamento
e ficou conosco por vários anos. De tanto participar também das nossas orações
diárias o Junior acabou aprendendo a rezar o terço sem que fizéssemos qualquer
imposição. Junior não resistiu ao tratamento e faleceu. Acreditamos que como era um craque bom de bola
deve ter sido escalado para jogar no time de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acreditamos
que Junior no céu tem treinado todo sábado, mas deve estar percebendo que os
jogos oficiais com certeza estão sendo realizados nos domingos, afinal no
domingo todos no céu comemoram e celebram ainda com mais alegria, pois foi no
domingo o dia que o Senhor Jesus ressuscitou.
Tivemos também famílias vindas do estado do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná (interior), Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rondônia e Amazonas.
Todos queriam de uma forma ou de outra pagar pela acolhida e como não
tinham recursos, traziam frutos de sua respectiva terra natal. Eram como os
pastores na noite de natal. Uns traziam bananas, outros côco, outros
caranguejos, queijos, farinhas de mandioca, piqui, e tudo era colocado em
comum. No refeitório da casa faziam suas comidas típicas e do Norte ao Sul do
país eram trocadas as mais belas experiências. Até hoje ainda se comunicam
conosco e também se comunicam entre si, juntos eles formam uma comunidade de
vida e esperança.
Como tinha missa frequentes quando estavam em Curitiba, ainda hoje
muitos confirmam que continuam a
frequentar a igreja e a praticar o catolicismo em suas cidades.
Anualmente procuramos organizar um evento em Curitiba para que todos
possam se reencontrar e celebrar a vida com cânticos, orações e missa de ação de
graças.
Hoje, neste momento nossa casa está acolhendo o menino Wendreu, com 5
(cinco) anos de idade, veio com sua mãe da cidade de Pelotas no estado do Rio
Grande do Sul. Wendreu tem uma doença rara chamada síndrome de Fanconi. Necessita
de um transplante urgente mas como não encontrou doadores estão desesperadamente
buscando auxilio. Sua mãe, mesmo sem muita instrução, criou na cidade de Pelotas,
uma ONG (corrente pela vida) para incentivar as pessoas a serem doadoras. Talvez
seja o caso agora de quem quiser ser um doador de medula óssea procurar um banco
de sangue e fazer o seu cadastro.
Para terminar queremos comentar que ainda hoje não temos muita
experiência com lidar com tudo isto e quando começamos tínhamos menos
experiência ainda. Tivemos muito medo. Medo de não dar conta, medo de não saber
lidar com os problemas, medo de não dar certo, medo de enfrentar a luta diária.
Tínhamos medo também de que as despesas fossem muito além das nossas
possibilidades, quanto a isto queremos testemunhar que isto nunca ocorreu. Acreditem,
sem nenhuma ajuda de órgãos governamentais, sem qualquer dedução de impostos,
sem muitos donativos, percebemos que por mais incrível que pareça as despesas nunca
foram problema, pelo contrário na casa as despesas pareciam menores do que as
de costume. Quando na época da aquisição do imóvel, o investimento saiu de
nossas próprias economias acumuladas durante nossas vidas. Sem muito
conhecimento de causa, adquirimos aquele imóvel. Até hoje não entendemos muito
de imóveis, não entendemos de cambio, de bolsa de valores, enfim, não
entendemos nada de investimentos, mas acreditem, se hoje nos perguntarem sobre
qual foi nosso melhor investimento, respondemos sem qualquer sombra de duvida
que...
FOI O NOSSO INVESTIMENTO MAIS ACERTADO, FOI O MELHOR INVESTIMENTO QUE
FIZEMOS EM TODAS NOSSAS VIDAS.
Deus abençoe
vocês, suas famílias, suas equipes e seus trabalhos.
Deus Seja
Louvado.
Terezinha e
Daniel Godri
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