Brasília, 23/07/2012 - 11:00 h
«Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em
Mim e Eu nele, esse dá muito fruto». As Equipas de Nossa Senhora
oferecem uma forma privilegiada de viver esta promessa de Cristo. Porque
vos ajudam, irmãos e irmãs, a desenvolver em toda a vossa vida a
riqueza do sacramento do matrimónio. Aproximamo-nos um pouco do dom
deste sacramento quando compreendemos que o vínculo entre o esposo e a
esposa se encontra ligado — é a imagem da vide e dos ramos — ao amor de
Cristo pela sua Igreja, isto é, pela humanidade que Ele resgata pelo seu
sangue e santifica pelo seu Espírito. Pelo sacramento do matrimónio, a
união do homem e da mulher torna-se sinal do amor de Deus pela
humanidade, tornando-se o marido o sinal mais sensível e mais imediato
do amor de Deus por aquela que ele recebe como esposa, e tornando-se a
esposa o mesmo para o marido. Isto só é possível porque o amor que os
une um ao outro pode agora de alguma maneira ir beber ao amor de Deus
por nós manifestado em plenitude em Jesus e por Jesus.
Mas o discurso de Jesus leva-nos ainda mais longe. Ouvistes, irmãos e irmãs, que em primeiro lugar se fala dos ramos que não dão fruto e que são cortados, que secam e são lançados ao fogo, e, quando fala dos ramos que dão fruto, o Senhor anuncia que vão ser limpos. Ora, «limpar» é tirar o musgo, cortar os raminhos inúteis, para que a seiva circule melhor e o ramo dê mais fruto. O que Jesus quer dizer deve compreender-se a partir da primeira frase: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor». Jesus é a vide de que o Pai cuida, Jesus é a vide a que o Pai corta os ramos mortos e limpa os ramos capazes de dar fruto em abundância. A imagem da vide corresponde em S. João à imagem do corpo em S. Paulo. Ambas exprimem a relação íntima, a relação vital, que Jesus veio criar entre Ele e cada um daqueles que o Pai Lhe dá. Ambas procuram dizer que o que faz viver Jesus, o Filho eterno, passa para seus discípulos, para aqueles que Lhe estão ligados, para aqueles que Ele une a Si e em Si, fazendo deles membros do seu corpo, os ramos através dos quais a cepa dá fruto. A vide não é, portanto, Jesus na sua individualidade ou na sua solidão. A vide é Jesus com todos aqueles de que Ele faz seus discípulos. Os escassos versículos do discurso depois da Ceia dedicados à vide, abarca, por conseguinte, toda a história. Ao longo dos séculos, o Pai, o verdadeiro agricultor, corta e limpa a vide que é o seu Filho para que ela dê cada vez mais fruto. Jesus coloca sob o olhar dos discípulos, sob o nosso olhar, uma visão da humanidade inteira, pelo menos de toda a humanidade que se enxerta n’Ele, e faz com que percebamos que o Pai trabalha sem cessar para que os ramos, cada ramo, sejam o mais fecundos possível e resistam a todas as provações dos séculos.
Desde já, irmãos e irmãs, podemos tirar desta visão uma lição rica de consolação: experimentamos dolorosamente os sobressaltos da história, experimentamos dolorosamente os efeitos de uma certa secularização que, pelo menos nas nossas sociedades ocidentais, põe violentamente em causa os fundamentos do matrimónio e da família. Somos abanados, somos postos à prova, somos minuciosamente examinados, e isso porque Deus prova a nossa fidelidade. Vemos as nossas sociedades desfazerem-se, precipitarem-se, algumas quase completamente, em assombrosos caminhos de decomposição social. No meio de tudo isso, não esqueçamos a visão da vide. Seremos ramos que, demasiado abanados, se partem, perdem a sua relação com a cepa, ou a provação terá como resultado limpar-nos, ou seja, libertar-nos do que nos estorva: bens materiais, ideias pré-concebidas, a procura de um certo conforto ou do prazer, a angústia do sucesso, nosso ou dos nossos filhos, e ainda tantas outras coisas?
Estamos num tempo em que o cristianismo, ou melhor, o que Cristo revelou a respeito da família é rejeitado por muitos e combatido por alguns. Não tiremos a conclusão de que tudo está perdido, de que Deus está acabado, e a sua Igreja com Ele, assim como tudo aquilo de que gostamos no matrimónio, os filhos, as relações amplas e ricas entre numerosos membros. Também não nos resignemos a um «mundo moderno» que seja uma fatalidade, quaisquer que sejam as nossas convicções e os nossos desejos. Não, irmãos e irmãs, a imagem da vide — e é muito mais do que uma imagem — chama-nos a isso: acreditemos que o próprio Pai se serve dessas coisas para nos limpar e procuremos guardar melhor a Palavra de Deus, viver melhor os mandamentos, enraizar melhor no Senhor Jesus. Alegremo-nos, ao menos, por termos oportunidade ou oportunidades de verificar e mostrar a quê ou a quem estamos realmente ligados: à imagem que temos de nós próprios ou à imagem que julgamos que os outros têm de nós, ou então à presença de Jesus em nós, ao acolhimento do seu Espírito para que Ele nos renove e da sua Palavra para a pormos em prática e fazermos resplandecer no meio do mundo, no meio dos outros, os seus frutos cheios de doçura, de sabor, de substância.
S. Paulo di-lo nos poucos versículos da Epístola aos Gálatas que foram proclamados. Di-lo em termos mais complicados do que S. João, mas, afinal, talvez ainda mais claros. O Apóstolo opõe vida segundo a Lei e vida em Cristo ou vida de Cristo em mim. Qual é a origem da minha vida? A minha fidelidade à lei — e a lei é, para Paulo, a lei de Moisés, a lei de Deus — ou o dom de Deus? Vós, casais cristãos, que é que vos faz viver? A conformidade à imagem que tendes de vós próprios, da vossa dignidade de baptizados e do vosso estatuto de esposo ou esposa na sociedade — que não são coisas más, muito pelo contrário? Ou a alegria de conhecer Cristo Jesus, de guardar os seus mandamentos, de viver o que temos de viver como o devemos viver para estarmos unidos a Ele e levar aos outros o que Ele nos dá? A mesma pergunta, mais temível ainda, é válida para nós, bispos e padres, não tenhais dúvida. Que é que nos faz viver? A ideia que temos da Igreja, dos seus ministros, ou o serviço de Cristo, recebido na sua Palavra e nos seus sacramentos, e também naquele que Ele põe no meu caminho para eu fazer dele meu próximo? A lei de Deus — S. Paulo insiste nisto na Epístola aos Romanos — é santa e santificadora. Mas podemos fazer dela um uso incorrecto para nos autoglorificarmos. O que está em jogo, o que temos de manter no mundo agitado em que nos encontramos desde há algumas décadas, não é uma ordem moral ou uma ordem social, ainda que inspirada no Evangelho. Mas é no mais íntimo, na raiz de nós próprios, o vínculo a Cristo, o lugar da sua cruz no íntimo do nosso coração, a adesão de todas as fibras do nosso ser à sua oferenda «para glória de Deus e salvação do mundo». Queridos amigos, enviados ao mundo para aí viver do Evangelho, não temos de defender uma «ideia da família» mas a qualidade absoluta do movimento do homem para a mulher e da mulher para o homem, em que se reflecte alguma coisa, muito mais do que alguma coisa, da relação de Deus com a humanidade, de Cristo com a Igreja.
Permiti que retome a palavras do salmista, as palavras de David: «Vinde, filhos, escutai-me, vou ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida, que deseja longos dias de felicidade?». Cantámo-las ou ouvimo-las cantar como o cântico da Igreja inteira que se dirige à humanidade. «Vinde, filhos, escutai-me». Jesus é o verdadeiro David, o verdadeiro salmista. Chama-nos a escutar o que tem para nos dizer. A primeira lição do sábio diz respeito ao temor de Deus, não ao medo de Deus mas ao temor que significa o respeito, a admiração, o encantamento e o serviço. Jesus, o Filho, põe-nos diante do Pai, diante do verdadeiro senhor da história que tira partido de tudo para que aqueles que estão enxertados no seu Filho único, aqueles que o Filho Lhe apresenta como irmãos e irmãs, dêem frutos para a eternidade. E vós, e nós, todos juntos, por nossa vez, vamos para o mundo proclamando: «Vinde, filhos escutai-me, vou ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida, que deseja longos dias de felicidade?». Queridos membros das Equipas de Nossa Senhora, enraizados em Cristo, enxertados n’Ele, vós não procurais salvaguardar um modelo, mas viver na verdade do que Deus nos dá, porque é Ele quem no-lo dá. Quem quiser virá ter connosco. Quem não quiser não virá. Mas não duvidemos que, se estivermos verdadeiramente enraizados em Jesus, Deus Pai fará com que as vossas vidas dêem fruto em abundância.
Ámen
Mas o discurso de Jesus leva-nos ainda mais longe. Ouvistes, irmãos e irmãs, que em primeiro lugar se fala dos ramos que não dão fruto e que são cortados, que secam e são lançados ao fogo, e, quando fala dos ramos que dão fruto, o Senhor anuncia que vão ser limpos. Ora, «limpar» é tirar o musgo, cortar os raminhos inúteis, para que a seiva circule melhor e o ramo dê mais fruto. O que Jesus quer dizer deve compreender-se a partir da primeira frase: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor». Jesus é a vide de que o Pai cuida, Jesus é a vide a que o Pai corta os ramos mortos e limpa os ramos capazes de dar fruto em abundância. A imagem da vide corresponde em S. João à imagem do corpo em S. Paulo. Ambas exprimem a relação íntima, a relação vital, que Jesus veio criar entre Ele e cada um daqueles que o Pai Lhe dá. Ambas procuram dizer que o que faz viver Jesus, o Filho eterno, passa para seus discípulos, para aqueles que Lhe estão ligados, para aqueles que Ele une a Si e em Si, fazendo deles membros do seu corpo, os ramos através dos quais a cepa dá fruto. A vide não é, portanto, Jesus na sua individualidade ou na sua solidão. A vide é Jesus com todos aqueles de que Ele faz seus discípulos. Os escassos versículos do discurso depois da Ceia dedicados à vide, abarca, por conseguinte, toda a história. Ao longo dos séculos, o Pai, o verdadeiro agricultor, corta e limpa a vide que é o seu Filho para que ela dê cada vez mais fruto. Jesus coloca sob o olhar dos discípulos, sob o nosso olhar, uma visão da humanidade inteira, pelo menos de toda a humanidade que se enxerta n’Ele, e faz com que percebamos que o Pai trabalha sem cessar para que os ramos, cada ramo, sejam o mais fecundos possível e resistam a todas as provações dos séculos.
Desde já, irmãos e irmãs, podemos tirar desta visão uma lição rica de consolação: experimentamos dolorosamente os sobressaltos da história, experimentamos dolorosamente os efeitos de uma certa secularização que, pelo menos nas nossas sociedades ocidentais, põe violentamente em causa os fundamentos do matrimónio e da família. Somos abanados, somos postos à prova, somos minuciosamente examinados, e isso porque Deus prova a nossa fidelidade. Vemos as nossas sociedades desfazerem-se, precipitarem-se, algumas quase completamente, em assombrosos caminhos de decomposição social. No meio de tudo isso, não esqueçamos a visão da vide. Seremos ramos que, demasiado abanados, se partem, perdem a sua relação com a cepa, ou a provação terá como resultado limpar-nos, ou seja, libertar-nos do que nos estorva: bens materiais, ideias pré-concebidas, a procura de um certo conforto ou do prazer, a angústia do sucesso, nosso ou dos nossos filhos, e ainda tantas outras coisas?
Estamos num tempo em que o cristianismo, ou melhor, o que Cristo revelou a respeito da família é rejeitado por muitos e combatido por alguns. Não tiremos a conclusão de que tudo está perdido, de que Deus está acabado, e a sua Igreja com Ele, assim como tudo aquilo de que gostamos no matrimónio, os filhos, as relações amplas e ricas entre numerosos membros. Também não nos resignemos a um «mundo moderno» que seja uma fatalidade, quaisquer que sejam as nossas convicções e os nossos desejos. Não, irmãos e irmãs, a imagem da vide — e é muito mais do que uma imagem — chama-nos a isso: acreditemos que o próprio Pai se serve dessas coisas para nos limpar e procuremos guardar melhor a Palavra de Deus, viver melhor os mandamentos, enraizar melhor no Senhor Jesus. Alegremo-nos, ao menos, por termos oportunidade ou oportunidades de verificar e mostrar a quê ou a quem estamos realmente ligados: à imagem que temos de nós próprios ou à imagem que julgamos que os outros têm de nós, ou então à presença de Jesus em nós, ao acolhimento do seu Espírito para que Ele nos renove e da sua Palavra para a pormos em prática e fazermos resplandecer no meio do mundo, no meio dos outros, os seus frutos cheios de doçura, de sabor, de substância.
S. Paulo di-lo nos poucos versículos da Epístola aos Gálatas que foram proclamados. Di-lo em termos mais complicados do que S. João, mas, afinal, talvez ainda mais claros. O Apóstolo opõe vida segundo a Lei e vida em Cristo ou vida de Cristo em mim. Qual é a origem da minha vida? A minha fidelidade à lei — e a lei é, para Paulo, a lei de Moisés, a lei de Deus — ou o dom de Deus? Vós, casais cristãos, que é que vos faz viver? A conformidade à imagem que tendes de vós próprios, da vossa dignidade de baptizados e do vosso estatuto de esposo ou esposa na sociedade — que não são coisas más, muito pelo contrário? Ou a alegria de conhecer Cristo Jesus, de guardar os seus mandamentos, de viver o que temos de viver como o devemos viver para estarmos unidos a Ele e levar aos outros o que Ele nos dá? A mesma pergunta, mais temível ainda, é válida para nós, bispos e padres, não tenhais dúvida. Que é que nos faz viver? A ideia que temos da Igreja, dos seus ministros, ou o serviço de Cristo, recebido na sua Palavra e nos seus sacramentos, e também naquele que Ele põe no meu caminho para eu fazer dele meu próximo? A lei de Deus — S. Paulo insiste nisto na Epístola aos Romanos — é santa e santificadora. Mas podemos fazer dela um uso incorrecto para nos autoglorificarmos. O que está em jogo, o que temos de manter no mundo agitado em que nos encontramos desde há algumas décadas, não é uma ordem moral ou uma ordem social, ainda que inspirada no Evangelho. Mas é no mais íntimo, na raiz de nós próprios, o vínculo a Cristo, o lugar da sua cruz no íntimo do nosso coração, a adesão de todas as fibras do nosso ser à sua oferenda «para glória de Deus e salvação do mundo». Queridos amigos, enviados ao mundo para aí viver do Evangelho, não temos de defender uma «ideia da família» mas a qualidade absoluta do movimento do homem para a mulher e da mulher para o homem, em que se reflecte alguma coisa, muito mais do que alguma coisa, da relação de Deus com a humanidade, de Cristo com a Igreja.
Permiti que retome a palavras do salmista, as palavras de David: «Vinde, filhos, escutai-me, vou ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida, que deseja longos dias de felicidade?». Cantámo-las ou ouvimo-las cantar como o cântico da Igreja inteira que se dirige à humanidade. «Vinde, filhos, escutai-me». Jesus é o verdadeiro David, o verdadeiro salmista. Chama-nos a escutar o que tem para nos dizer. A primeira lição do sábio diz respeito ao temor de Deus, não ao medo de Deus mas ao temor que significa o respeito, a admiração, o encantamento e o serviço. Jesus, o Filho, põe-nos diante do Pai, diante do verdadeiro senhor da história que tira partido de tudo para que aqueles que estão enxertados no seu Filho único, aqueles que o Filho Lhe apresenta como irmãos e irmãs, dêem frutos para a eternidade. E vós, e nós, todos juntos, por nossa vez, vamos para o mundo proclamando: «Vinde, filhos escutai-me, vou ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida, que deseja longos dias de felicidade?». Queridos membros das Equipas de Nossa Senhora, enraizados em Cristo, enxertados n’Ele, vós não procurais salvaguardar um modelo, mas viver na verdade do que Deus nos dá, porque é Ele quem no-lo dá. Quem quiser virá ter connosco. Quem não quiser não virá. Mas não duvidemos que, se estivermos verdadeiramente enraizados em Jesus, Deus Pai fará com que as vossas vidas dêem fruto em abundância.
Ámen
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