Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de concentrar-me brevemente sobre um
dos termos com o qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja, aquele do “Povo
de Deus” (cfr. Const. Dog. Lumen Gentium, 9; Catecismo da Igreja Católica,
782). E o faço com algumas perguntas, sobre as quais cada um poderá refletir.
1. O que significa dizer ser “Povo de Deus”? Antes
de tudo quer dizer que Deus não pertence propriamente a algum povo; porque Ele
nos chama, convoca-nos, convida-nos a fazer parte do seu povo, e este convite é
dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus “quer a salvação
para todos” (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós para formarmos um
grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos todos os
povos (cfr Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, “não há
judeu nem grego… pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28). Gostaria
de dizer também a quem se sente distante de Deus e da Igreja, a quem está
temeroso ou indiferente, a quem pensa não poder mais mudar: o Senhor chama
também você a fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor! Ele
nos convida a fazer parte deste povo, povo de Deus.
2. Como tornar-se membros deste povo? Não é através
do nascimento físico, mas através de um novo nascimento. No Evangelho, Jesus
diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar
no Reino de Deus (cfr Jo 3, 3-5). É através do Batismo que nós somos
introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser
alimentado e crescer em toda a nossa vida. Perguntamo-nos: como faço crescer a
fé que recebi no Batismo? Como faço crescer esta fé que eu recebi e que o povo
de Deus possui?
3. Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É
a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo segundo o mandamento novo que nos
deixou o Senhor (cfr Jo 13, 34). Um amor, porém, que não é estéril
sentimentalismo ou algo vago, mas que é o reconhecer Deus como único Senhor da
vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão, superando divisões,
rivalidades, incompreensões, egoísmos; as duas coisas andam juntas. Quanto
caminho temos ainda a percorrer para viver concretamente esta nova lei, aquela
do Espírito Santo que age em nós, aquela da caridade, do amor! Quando nós
olhamos para os jornais ou para a televisão tantas guerras entre cristãos, mas
como pode acontecer isso? Dentro do povo de Deus, quantas guerras! Nos bairros,
nos locais de trabalho, quantas guerras por inveja,
ciúmes! Mesmo na própria família, quantas guerras internas! Nós precisamos
pedir ao Senhor que nos faça entender bem esta lei do amor. Quanto é belo
amar-nos uns aos outros como verdadeiros irmãos. Como é belo! Façamos uma coisa
hoje. Talvez todos tenhamos simpatias e antipatias; talvez tantos de nós
estamos um pouco irritados com alguém; então digamos ao Senhor: Senhor, eu
estou irritado com esta pessoa ou com esta; eu rezo ao Senhor por ele e por
ela. Rezar por aqueles com os quais estamos irritados é um belo passo nesta lei
do amor. Vamos fazer isso? Façamos isso hoje!
4. Que missão tem este povo? Aquela de levar ao
mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama
todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar a massa, sal que dá o
sabor e que preserva da corrupção, ser uma luz que ilumina. Ao nosso redor,
basta abrir um jornal – como disse – e vemos que a presença do mal existe, o
Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vocês
acreditam nisso: que Deus é mais forte? Mas o digamos juntos, digamos juntos
todos: Deus é mais forte! E sabem por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor,
o único Senhor. E gostaria de acrescentar que a realidade às vezes escura,
marcada pelo mal, pode mudar, se nós primeiro levamos a luz do Evangelho
sobretudo com a nossa vida. Se em um estádio, pensemos aqui em Roma no
Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, em uma noite escura, uma
pessoa acende uma luz, será apenas uma entrevista, mas se os outros setenta mil
expectadores acendem cada um a própria luz, o estádio se ilumina. Façamos
que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos levaremos a luz do Evangelho a
toda a realidade.
5. Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o
Reino de Deus, iniciado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até
a conclusão, até a segunda vinda de Cristo, vida nossa (cfr Lumen gentium, 9).
A finalidade então é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o
Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor
sem medidas, uma alegria plena.
Queridos irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de
Deus, segundo o grande desígnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de
Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus
neste nosso mundo, que muitas vezes está perdido, necessitado de ter respostas
que encorajem, que dêem esperança, que dêem novo vigor no caminho. A Igreja
seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa sentir-se
acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho.
E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja
deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos
sair destas portas e anunciar o Evangelho.
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