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domingo, 9 de junho de 2013

A PALAVRA DO PAPA FRANCISCO - COMO SOU FIEL A CRISTO?

HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO
Praça de São Pedro
VII Domingo de Páscoa, 12 de Maio de 2013

Prezados irmãos e irmãs
Neste sétimo Domingo do Tempo de Páscoa reunimo-nos com alegria para celebrar uma festa da santidade.
Demos graças a Deus que fez resplandecer a sua glória, a glória do Amor, sobre os Mártires de Otranto, sobre Madre Laura Montoya e sobre Madre María Guadalupe García Zavala. Saúdo todos vós que viestes para esta festa — da Itália, da Colômbia, do México e de muitos outros países — e agradeço-vos! Queremos olhar para os novos Santos à luz da Palavra de Deus há pouco proclamada. Uma Palavra que nos convidou à fidelidade a Cristo, inclusive até ao martírio; que chamou a nossa atenção para a urgência e a beleza de anunciar Cristo e o seu Evangelho a todos; e que nos falou do testemunho da caridade, sem a qual até o martírio e a missão perdem o seu saber cristão.
Quando nos falam do diácono Estêvão, o protomártir, os Actos dos Apóstolos insistem em dizer que ele era um homem «cheio de Espírito Santo» (6, 5; 7, 55). Que significa isto? Significa que estava cheio do Amor de Deus, que toda a sua pessoa, a sua vida, estava animada pelo Espírito de Cristo ressuscitado, a ponto de seguir Jesus com uma fidelidade total, até ao dom de si próprio.
Hoje a Igreja propõe à nossa veneração uma plêiade de mártires, que em 1480 foram chamados juntos ao testemunho supremo do Evangelho. Cerca de oitocentas pessoas, que sobreviveram ao cerco e à invasão de Otranto, foram decapitadas nos arredores daquela cidade. Rejeitaram negar a própria fé e morreram confessando Cristo ressuscitado. Onde encontraram a força para permanecer fiéis? Precisamente na fé, que nos leva a ver além dos limites do nosso olhar humano, além dos confins da vida terrena, que nos faz contemplar «os céus abertos» — como diz santo Estêvão — e o Cristo vivo à direita do Pai. Queridos amigos, conservemos a fé que recebemos e que constitui o nosso tesouro verdadeiro; renovemos a nossa fidelidade ao Senhor, até no meio dos obstáculos e das incompreensões; Deus nunca nos fará faltar força e serenidade. Enquanto veneramos os Mártires de Otranto, peçamos a Deus que ajude os numerosos cristãos que, precisamente nesta época e em muitas regiões do mundo, ainda hoje sofrem violências, e lhes dê a coragem da fidelidade e de responder ao mal com o bem.
A segunda ideia podemos tirá-la das palavras de Jesus, que ouvimos no Evangelho: «Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que pela sua palavra hão-de crer em mim. Para que todos sejam um só, assim como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti, para que também eles estejam em Nós e o mundo creia que tu me enviaste» (Jo 17, 20). Santa Laura Montoya foi um instrumento de evangelização, primeiro como mestra e depois como mãe espiritual dos indígenas, nos quais infundiu a esperança, acolhendo-os com este amor aprendido de Deus, e levando-os até Ele com uma pedagogia eficaz que respeitava a sua cultura e não se opunha a ela. Na sua obra de evangelização, Madre Laura fez-se verdadeiramente toda por todos, segundo a expressão de são Paulo (cf. 1 Cor 9, 22). Também hoje as suas filhas espirituais levam o Evangelho aos lugares mais recônditos e necessitados, como uma espécie de vanguarda da Igreja.
Esta primeira santa nascida na linda terra colombiana ensina-nos a ser generosos com Deus, a não viver a fé solitariamente — como se fosse possível viver a fé de modo isolado — mas a comunicá-la, a irradiar a alegria do Evangelho com a palavra e o testemunho de vida, onde quer que nos encontremos. Seja qual for o lugar onde vivemos, devemos irradiar esta vida do Evangelho. Ensina-nos a ver o rosto de Jesus reflectido no outro, a vencer a indiferença e o individualismo, que corrói as comunidades cristãs e o nosso próprio coração, e ensina-nos também a acolher todos sem preconceitos, sem discriminação nem reticências, com um amor autêntico, oferecendo-lhes o melhor de nós mesmos e, sobretudo, compartilhando com eles o que possuímos de mais precioso, que não são as nossas obras nem as nossas organizações, não! O que temos de mais valioso é Cristo e o seu Evangelho.
Por fim, uma terceira reflexão. No Evangelho de hoje, Jesus reza ao Pai com as seguintes palavras: «Dei-lhes a conhecer o Teu nome e dá-lo-ei a conhecer para que o amor com que me amaste esteja neles e Eu esteja neles também» (Jo 17, 26). A fidelidade dos mártires até à morte e a proclamação do Evangelho a todos enraízam-se, encontram a sua raiz, no amor de Deus que foi derramado nos noss0s corações pelo Espírito Santo (cf. Rm 5, 5) e no testemunho que devemos dar deste amor na nossa própria vida. Santa Guadalupe García Zavala sabia-o bem. Renunciando a uma vida cómoda — quantos danos causa a vida cómoda, o bem-estar! O aburguesamento do coração paralisa-nos — e renunciando a uma vida cómoda para seguir o chamamento de Jesus, ensinava a amar a pobreza, para poder amar em maior medida os pobres e os enfermos. Madre «Lupita» ajoelhava-se no chão do hospital diante dos doentes, dos abandonados, para os servir com ternura e compaixão. E isto chama-se «tocar a carne de Cristo». Os pobres, os abandonados, os enfermos e os marginalizados são a carne de Cristo. E Madre «Lupita» tocava a carne de Cristo, ensinando-nos este modo de agir: não nos devemos envergonhar, não devemos ter medo, não devemos sentir repugnância de «tocar a carne de Cristo». Madre «Lupita» tinha entendido o que significa este «tocar a carne de Cristo». Também hoje as suas filhas espirituais procuram reflectir o amor de Deus nas obras de caridade, sem evitar sacrifícios e enfrentando-os com mansidão e constância apostólica (hypomonē), suportando com coragem qualquer obstáculo.
Esta nova santa mexicana convida-nos a amar como Jesus nos amou, e isto exige que não nos fechemos em nós mesmos, nos nossos problemas, nas nossas ideias, nos nossos interesses, neste pequeno mundo que nos causa tantos danos, mas que saiamos para ir ao encontro de quantos precisam de atenção, de compreensão e de ajuda, para lhes levar a proximidade calorosa do amor de Deus através de gestos concretos de delicadeza, de carinho sincero e de amor.
Fidelidade a Cristo e ao seu Evangelho, para o anunciar com a palavra e com a vida, dando testemunho do amor de Deus através do nosso amor, com a nossa caridade para com todos: são exemplos e ensinamentos luminosos, que nos oferecem os santos hoje proclamados, mas que suscitam também perguntas na nossa vida cristã: como sou fiel a Cristo? Levemos em nós mesmos esta interrogação, para pensar nela durante o dia: como sou fiel a Cristo? Sou capaz de «fazer ver» a minha fé com respeito, mas também com coragem? Estou atento ao próximo, dou-me conta de quem tem necessidades, vejo em todas as pessoas, irmãos e irmãs que devo amar? Peçamos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria e dos novos santos, que o Senhor faça transbordar a nossa vida com o júbilo do seu amor. Assim seja!

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