Foi no Monte Carmelo que o profeta Elias desafiou, sozinho, os 450
sacerdotes adoradores de Baal, a que preparassem dois novilhos, o colocassem
sobre a lenha e invocassem o seu “Deus” Baal para que consumissem àquela
oferenda com o fogo. Ele faria o mesmo
com um novilho e invocaria o Senhor Deus, único e verdadeiro. Os sacerdotes que adoravam Baal clamaram e gritavaram o nome de Baal
desde a manhã até o meio-dia e nada. Elias dizia, ele não está ouvindo, porque
o maior é Deus. Três horas da tarde e o fogo não desceu do céu.
Então, Elias pegou o boi que estava sobre as pedras do sacrifício e
disse, agora vocês façam um rego em volta, e eles fizeram um rego profundo,
agora joguem 100 litros de água em cima do boi das pedras, da lenha, do rego.
Joguem de novo! E joguem de novo! Até que o rego, a lenha, as pedras, o
novilho, e tudo em volta, ficassem muito encharcados. Agora, mostra Senhor Deus, que não há nenhum
outro aqui e quando ele acabou de falar isso o fogo desceu do céu e consumiu o
boi, a pedra, a lenha, a pedra, e só ficou poeira ali, não restou nada.
Ao ver o que aconteceu povo dizia, só Javeh é o verdadeiro Deus. Aí
Elias mandou que pegassem os sacerdotes de Baal e passassem a fio de espada, pois
são falsos profetas. Por isso o símbolo do Carmelo é uma mão segurando uma
espada, por causa deste episódio da vida do profeta Elias. Então Elias foi pra
uma gruta, ali no Monte Carmelo, e foi o primeiro eremita, ficando nessa gruta.
Um dia Deus lhe disse “Elias saia daí que eu quero falar com você” e
Elias atendeu, aí veio um terremoto poderoso, e Deus não estava no terremoto; veio
uma tempestade de granizo poderosa, e Deus não estava na tempestade; depois veio um furacão violento e Deus não
estava; então, veio uma brisa suave, e Deus estava nela. Pra mostrar que apesar
da violência do episódio, Deus é um Deus de amor. E ali, depois do profeta
Elias, sempre teve alguém rezando no Carmelo, inclusive no tempo dos Cristãos,
também.
Na primeira cruzada, um grupo de cruzados, isso é bonito saber, vendo
a violência da guerra pra reconquistar a terra santa dos muçulmanos, foi pro Monte
Carmelo, fez votos de pobreza e viveu ali na maior humildade, no século IX, e a
gruta que o profeta Elias usava se transformou numa capela, chamada de Nossa Senhora
Stella Maris (Estrela do Mar), no alto
onde dá pra ver o mar. E foi ali, a Stela Maris
que passou a ser a devoção mariana desses monges, que foram os primeiros
carmelitas, surgindo a devoção de Nossa Senhora do Carmo, ou Stela Maris, ou Monte
Carmelo.
Hoje a devoção de Nossa Senhora do Carmo é uma invocação da Igreja
muito importante principalmente para os consagrados, para nós padres, porque é
a única imagem de Nossa Senhora em que ela esta vestida com o hábito religioso,
está vestida de freira. E no século XIII ela deu a São Simão Stock o escapulário
e fez a promessa que aquele que estiver usando o escapulário, seria protegido
por ela, e foi uma promessa que a Igreja abraçou, e confirmou, que é que se nós
morrermos usando o escapulário, no próximo sábado estaria no céu, se a gente
for pro purgatório, com pecados leves, no sábado seguinte a gente vai pro céu. Por
isso é muito importante usarmos o escapulário. Depois do terço, a maior devoção
de Nossa Senhora é o escapulário. Todo devoto de Nossa Senhora, de verdade,
anda com o terço e o escapulário, que é o cúmulo da proteção dela.
Aqui em Cabo Frio, quando eu era pároco, um dia um rapaz me procurou chorando
muito porque tinha passado um grande perigo no mar. Isso aconteceu por volta de 1991, a mãe dele
era devota de Nossa Senhora do Carmo e deu a ele um escapulário, fez a
imposição na Igreja e tudo, e ele usava o escapulário.. Eu nunca mais vi esse
rapaz! E Ele contou pra mim, chorando muito que estava no mar e pegou um
redemoinho, uma correnteza e estava se afogando ,e foi resgatado pelos salva-vidas,
e quando ele acordou no hospital a sensação que ele teve era como se fosse um sonho, e ele não se
lembrava da onda, do redemoinho, não se lembrava de nada, ele se lembrava que
ele sonhou. O que foi que ele sonhou? Olha que bonito,... eu tenho uma pena de
quem não tem fé! Uma pena enorme. Ele sonhou que estava realmente no mar, se
afogando, e que durante o afogamento ele viu um pano de tecido marrom, ( o
escapulário é marrom), e foi segurando aquele tecido marrom até o espelho d’água,
e quando chegou ali ele viu Nossa Senhora do Carmo, e ela falou assim: “você
tem sorte, a sua mãe te entrega muito a mim.” A mãe deu o escapulário e o entregava
a Nossa Senhora, mesmo. Não foi uma visão, foi durante o coma, aquele período
inconsciente que ele estava, ele teve essa sensação, poxa, como é poderoso isso!
Por isso que todos nós devemos usar o escapulário, eu não uso mais, eu uso um
terço, com uma medalha que substitui, por que eu sou alérgico demais, não posso
usar nada no meu pescoço. Depois do terço a maior devoção de Nossa Senhora é o
escapulário. Todo devoto, mesmo, de Nossa Senhora usa o terço e o escapulário,
que são os sinais grandes da devoção dela.
A devoção de Nossa Senhora do
Carmo não é pedir a Deus que faça coisas extraordinárias em nossa vida. A
devoção do Carmelo ensina isso pra gente. Para ser santo e agradar a Deus não
peça a Deus pra ter uma vida extraordinária. É assim que é o Carmelo, peça a
Deus pra você viver a sua vida ordinária de modo extraordinário. Como é que eu vou me santificar? Eu não vou
me santificar indo pra África ou indo pra Bagdá pra seguir Jesus Cristo, ou coisa
do tipo me arranja uma fé, e você vai. Não! É ser mais humilde, é viver a sua
vida mesmo, de um modo extraordinário. É ser pai, ser esposo, esposa, irmão, e
em seu ambiente de trabalho, é viver ali o evangelho. Quer dizer você vai viver
a sua vida mesmo, com tudo que ela tem, com a sua família, com seu trabalho,
com o seu lazer. Só que você vai viver tudo isso de modo espiritual, de modo EXTRAORDINÁRIO.
E por isso é tão importante a
devoção do Carmelo. E a Igreja deve muito à devoção Carmelo. Os maiores Santos.
A Igreja deve muito a três espiritualidades, três homens, três ordens
religiosas, que reformaram a Igreja Católica: O Carmelo (carmelitas), Os
Inacianos (Santo Inácio de Loyola), que comemoramos ontem, grande homem! E São
Francisco. São as maiores! Mais São Domingos, ele pregava a doutrina, mas São
Francisco, Santa Teresa D’Avila (Carmelo) e Santo Inácio, não dá pra entender o
estilo de vida católico de hoje sem esses três, a influência deles é muito
poderosa. E isso é muito bonito! Poxa Padre, eu peço a Deus, me dê uma obra
grande, obra grande de caridade, de amor, pra eu poder trabalhar, ajudar essa
obra, e tal,... mas Deus te deu uma obra melhor ainda, a sua família, faz por
ela, o seu ambiente de trabalho, seja cristão onde você está, seja onde quer
que você trabalhe, o Luis Geraldo na Câmara, seja bom ali, seja sal ali, seja
luz ali, isso é o que Deus quer. É viver a sua vida mesmo, não precisa ficar
procurando outra vida. Dê a sua mesmo, com tudo o que ela tem, é isso que Deus
quer, que você dê essa vida pra ele, com tudo o que ele te deu, as suas lutas,
com as dores, com as alegrias, é isso o que Deus quer, que você faça o seu
trabalho de modo extraordinário.
Ana lia é médica, a Vera também,
a minha outra equipe tem dois médicos, vida de médico é difícil, porque você vê
a dor todo dia, todo dia você vê gente morrer, você vê gente doente, gente
sofrendo, sabe qual é a grande tendência, a grande tendência é se acostumar com
a dor. Viver de modo extraordinário é nunca se acostumar com a dor ou o
sofrimento do outro.
Quando eu operei o coração eu estava
na UTI, em frente assim da minha cama, tinha uma senhorinha morrendo, eu estava
ali vendo, desculpa isso não é crítica não, vinham os enfermeiros e médicos
tratando, tudo direitinho, mas sem calor humano, bem técnico. A velhinha
morreu, eu dei absolvição pra ela, a unção dos enfermos, da cama mesmo, e
depois vieram os enfermeiros cuidar dela, conversando de futebol e empacotando
a senhora, e eu ali vendo aquilo, e tinha vindo uma fila de netas chorando em
volta da cama, como é que pode, enquanto alguns estão chorando, eles ali, é
todo dia, estão acostumados com a dor. Viver de modo extraordinário é não se
acostumar com a dor, é não se conformar
com a dor do outro, isso é ser um médico extraordinário, um advogado
extraordinário, um padeiro extraordinário, uma mãe de família extraordinária,
que não só descasca batata mas está cheia de amor, está vivendo em família de
modo extraordinário o amor pela família, com oração e sacrifícios a Deus. Isso
é que o Carmelo trouxe. Essa espiritualidade da vida, Santa Terezinha dizia, “olha,
eu não consigo fazer grandes coisas, nem tenho saúde pra isso, ela morreu
tuberculosa aos 24 anos, mas o que eu posso eu faço”. Deus quer o ordinário de
modo extraordinário.
A vida espiritual tem uma etapa,
pros leigos também, não é só pra Padres e freiras não, chamada noite escura.
São João da Cruz, o grande místico, que nos ensinou isso. O que é noite escura?
Noite escura é um período em que Deus, no seu amor infinito, tira de nós as
sensações que temos e o gosto pelas coisas espirituais. Quando você reza, ou
está numa missa você se deleita com aquilo, toca o coração, aquilo te emociona
e é muito bom. Só que o risco é que nós seres humanos, nós somos todos
equilibrados, a gente começa a procurar Jesus, não por ele mesmo, mas pelas
sensações gostosas que a gente tem. Aí, de repente, Deus tira. Então, você vê que o amor não é sensação, o
amor é ação; o amor não é sentir, o amor é fazer; senão Deus tira. E às vezes,
dependendo do seu nível espiritual, esse sofrimento é tão grande, interior, que
você não tem mais gosto nenhum pra
rezar. A missa se torna um sacrifício, a oração se torna um sacrifício,
tem gente que até pensa que está entrando em crise de fé. Mas Deus sabe o que
faz, Deus está purificando aquela pessoa, ensinando o verdadeiro amor, e Santa
Terezinha teve isso muito forte. Eu celebrei missa nesse Altar, em Lisieux, um
dia ela acordou de madrugada, 2 horas da manhã, e foi até a capela, toda às escuras,
ela foi até diante do sacrário, bateu no sacrário, onde fica a eucaristia, ela
bateu na porta e perguntou: “Jesus você está aí? Jesus, você está aí? Na
angústia dela, naquele sentimento, então ela dizia que Jesus estava dormindo, e
que ela, Santa Terezinha era a infância espiritual, a espiritualidade dela era
da criança, a Imagem de Jesus, daí Santa Terezinha do Menino Jesus, com a bola
na mão, que era o mundo, representava o mundo, e ela dizia que ele era a
criança que ia brincar com a bola, e ela era a bola, mas Jesus ia dormir e se
esquecia do brinquedo, e neste momento, ela sofria. Ela deu uma capa, ela criou
uma espiritualidade pra àquilo. Então agora, irmão você está na noite escura,
não tem problema não, Jesus vai acordar já, já. Então quer dizer, eu continuo
adorando, eu continuo rezando, mesmo sem sentir aquele gosto, porque Deus está.
E isso vai mexer com a nossa vida.
Às vezes você vai numa paróquia um padre muito bom, piedoso, bom pregador, que
celebra a missa muito bonita, aí você vai na outra paróquia o padre já não
permite muita coisa, não é? Ele está te purificando, isso também faz parte do
plano de Deus, você está aqui porque? ... É pelo padre, ou pelos efeitos? A
gente conta que não, pessoal, mas até nisso Deus atua, Deus sabe o que está
fazendo, e é por isso que ele permite, porque Deus só pode permitir o mal se
ele vai te dar um bem maior, senão ele seria injusto, por maior que seja o mal,
existe um bem novinho, um chamado pra eternidade. E isso é um mal enorme, e eu
jamais permitiria esse mal se dele não tirasse um bem maior. Deus jamais
permitiria o mal como o pai e mãe. Deus é pai. Ana Lia vai dar uma vacina na Laís, a criança esperneia, esperneia, e você diz, vai tomar de
qualquer jeito! Segura as pernas dela, porque ela não sabe que àquela
agulha da espetada e da injeção é um bem
pra ela. A vida precisa nos dar muitas injeções, e às vezes a gente faz como a
Laís, esperneia, esperneia, grita, não quer, fica chateado, mas Deus sabe, que
àquilo ali vai nos curar.
Padre João Luiz
Equipe 12 - Nossa Senhora do Carmo
Setor Lagos
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