POR QUE FAZER RETIRO? (DINÂMICA DA EQUIPE 12 - AGOSTO DE 2013)
Vinde à parte, para algum lugar
deserto, e descansai um pouco (Mc 6,31).
O Movimento têm em conta não
existir melhor oportunidade para uma experiência com Cristo que o Retiro. O
“Casal chamado a contemplar a Face de Cristo”.
Contemplar a Face de Cristo!...
Como? S. João da Cruz ensina: O Pai pronunciou uma Palavra; essa Palavra é seu
Filho, e Ele o pronuncia para sempre no silêncio eterno; e é no silêncio que a
alma tem de ouvi-lo. Cristo só pode ser ouvido no silêncio, na meditação. Assim
se completa o trio de PCE conducentes ao conhecimento de Cristo – Escuta da
Palavra, Meditação e Retiro. “Á parte, num lugar deserto”, longe das
preocupações rotineiras, no silêncio exterior e interior, poderemos sentir Deus
dentro de nós, escutá-lo sem interrupção, meditar sua Palavra e fazer dela o
molde de nossa vida.
O próprio Jesus considerou isso
indispensável: Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e
eu nele produz muito fruto; porque, sem mim nada podereis fazer. Convencidos?
Nem todos. Talvez Nanci e eu nos sentíssemos desobrigados do Retiro por
estarmos “sem tempo”, “sem dinheiro” e “sem com quem deixar os filhos”. Como
despertar? Às vezes é preciso um choque. Jesus usou esse recurso na parábola do
homem rico, cujos campos produziram muito e planejava “descansar, comer, beber
e regalar-se”; mas morreria naquela noite (cf. Lc 12,13).
Imaginemos, então, que pouco
tempo depois eu sofresse um infarto, mas sobrevivesse. Em repouso numa cama de
UTI, na certa refletiria sobre a “sorte” que tive. Estaria preocupado com as
despesas médicas? Sim, mas acharia que valeu a pena. O trabalho que esperasse,
e os filhos ficariam com amigos da equipe. Comigo, só a mulher, e apenas quando
permitido pelo médico.
A reflexão não se limitaria a
coisas materiais. E se tivesse morrido? Com um pouco de juízo, mudaria minha
vida. Não só a vida sedentária, carente de exercício físico, mas a vida
espiritual. Talvez lembrasse meu sábio pai, que, quando contava algum “caso”
envolvendo alguém falecido, advertia:... fulano hoje está na verdade, e nós na
mentira! É possível que entendesse: “Mentira tem pernas curtas”. Assim a vida
terrena. Já a vida espiritual, como a verdade, é eterna. Fizera a opção errada!
– Priorizara a mentira!..
No Encontro em Itaici, Cida e
Raimundo lembravam que “não somos seres humanos tendo uma experiência
espiritual, mas seres espirituais tendo uma experiência humana” (Pe. T. de
Chardin). Ora, todo homem precisa se fazer as perguntas fundamentais: Quem sou
eu? Por que vim ao mundo? Claro, não foi para esgotar-me na busca de bens e
confortos passageiros. “Buscai primeiro o Reino de Deus...”
Mais tarde, o “enfartado” se
conscientizaria de muitas coisas. O risco de morte o faria reconsiderar a
inconsistência de suas desculpas para não fazer o retiro. E o retiro poderia
tê-lo despertado da vida estressante...
A vida sem a perspectiva da
eternidade nos arrasta para o materialismo. Nossas necessidades são inventadas
pela mídia e, inconscientes, exigimos nossa cota de prazer aqui e agora. Tal
ótica mundana esconde a realidade: somos mais que o corpo e suas necessidades.
No mundo, deveríamos agir como o estrangeiro saudoso, que cumpre os deveres do
país que o abriga, mas tem o coração ligado à pátria distante. Se junta algum
dinheiro, é para viver melhor no lugar de origem. Assim o cristão: amealha para
o Reino tesouros que não enferrujam nem podem ser roubados. A Palavra nos
alerta sobre as preocupações excessivas, mas nossos ouvidos estão fechados. É
preciso parar para refletir.
No Retiro, nossos olhos e
ouvidos poderão se abrir, então perceberemos nossa eterna fuga da dor do vazio
no prazer, confundido este com felicidade. Ilusão substituída por outra, e
outra... e o vazio só aumenta. Só Deus pode preenchê-lo: “Ó Deus... por ti
madrugo. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra
seca, esgotada, sem água”, clamava o Rei Davi (Sl 63, 2).
O despertar pode ser semelhante
ao que acontece com uma criança: passa o dia absorvida em seus brinquedos, mas,
no fim da tarde, irrequieta, chora e pede resoluta: “Agora eu quero minha mãe”.
Alguém já disse que o mundo é uma feira de vaidades, que ilude a criança com
doces e brinquedos, fazendo-a esquecer de sua verdadeira herança.
Mas onde está nossa mãe, nossa
herança? Onde, enfim, está Deus? “Tarde aprendi a amar-te, ó Beleza tão antiga
e tão nova, tarde aprendi a amar-te! Tu estavas dentro de mim, e eu estava no
mundo.... Eu te buscava fora de mim, e corrompido..., deixei-me atrair pelas
coisas adoráveis de tua criação. Tu estavas comigo mas eu não estava contigo”,
confessou Santo Agostinho (Confissões X, 27).
Sabemos onde Ele está. O Retiro
pode ser a porta.
Nanci
e Rubens Chiaroti
CRR
Região Paraná Norte.
Carta
Mensal de Abril 2006
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