Liturgia: Mistério da Salvação - Parte IV
Neste
 quarto artigo sobre os ensinamentos de Monsenhor Guido Marini, o leitor
 é convidado a fazer uma reflexão sobre o real sentido da participação 
ativa durante a liturgia.
 
Os santos são os melhores exemplos de participação ativa na Liturgia 
da Igreja. Sendo a santidade o principal efeito de uma profunda vivência
 litúrgica, nada mais natural que sejam eles as primeiras referências 
neste assunto, que foi tratado de forma tão especial pelo Concílio 
Vaticano II. Santo Tomás de Aquino, por exemplo, não podia celebrar os 
Santos Mistérios sem derramar copiosas lágrimas diante da Eucaristia. De
 acordo com alguns biógrafos, o doutor angélico tinha o costume de 
encostar a cabeça no Tabernáculo, a fim de sentir o palpitar do Sagrado 
Coração de Jesus. Santo Tomás dizia que a Eucaristia era o sacramento da
 Paixão do Senhor e que, portanto, "tudo que é efeito da Paixão 
de nosso Senhor, é também efeito desse sacramento, não sendo esse outra 
coisa que não a aplicação em nós da Paixão do Senhor".
Outro santo a indicar a correta vivência da liturgia é São Padre Pio 
de Pietrelcina. Quando perguntaram a ele como um fiel deveria assistir à
 Santa Missa, logo respondeu: "Como a assistiam a Santa Virgem Maria e 
as Santas mulheres. Como São João assistiu ao Sacrifício Eucarístico e 
ao Sacrifício sangrento da cruz". Na Celebração, o homem é levado a 
reconhecer a Páscoa de Cristo - assim como o centurião a reconheceu - e a
 adorá-lo "em espírito e em verdade". Deste modo, explica o mestre de 
cerimônias pontifícias, Monsenhor Guido Marini, "não é possível participar sem adorar". Em linhas gerais, resume a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia, do Concílio Vatincano II:
"É por isso que a Igreja procura, solícita e cuidadosa, 
que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou 
espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, ativa e 
piedosamente, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações; sejam 
instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor;
 dêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer 
juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia 
imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador (38), progridam na 
unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em 
todos".
Por outro lado, ao longo dos últimos anos, pôde-se 
perceber um enorme distanciamento de muitas comunidades da correta 
participação ativa, tal como pede a Igreja. Infelizmente, essa má 
interpretação do que quer dizer a Constituição Sacrosanctum Conciliumm 
introduziu uma série de abusos e falsas inculturações, ao ponto de a 
Santa Missa acabar se tornando mais um espetáculo de bizarrices, que o 
Sacrifício Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, também
 reduziu-se a participação dos fiéis a atividades como leitura, canto ou
 alguns gestos que, em muitos casos, não expressam a realidade do 
momento litúrgico. É verdade que, quando bem realizado, o serviço 
próprio de cada um durante a Celebração Eucarística é participação 
ativa, mas, alerta Guido Marini, "tudo isso não significaria 
participação verdadeiramente ativa, se não conduzisse para a adoração do
 mistério da salvação em Cristo Jesus, morto e ressuscitado por nós".
A Sacrosanctum Concilium age de forma contundente a favor da
 obediência às normas litúrgicas, "de modo que nos seminários e 
institutos religiosos a vida seja totalmente impregnada de espírito 
litúrgico" (17). Além disso, exorta os sacerdotes para que "guiem o 
rebanho não só com palavras mas também com o exemplo" (19). Proíbe 
expressamente falsas criatividades quando determina que além da Santa Sé
 e dos bispos em comunhão com ela, "ninguém mais, mesmo que seja
 sacerdote, ouse, por sua iniciativa, acrescentar, suprimir ou mudar 
seja o que for em matéria litúrgica" (22). Finalmente, pede 
para que "não se introduza inovações, a não ser que uma utilidade 
autêntica e certa da Igreja o exija, e com a preocupação de que as novas
 formas como que surjam a partir das já existentes" (23). Perante essas 
prerrogativas parece óbvio o quanto certas celebrações mundo à fora 
estão afastadas do espírito litúrgico pedido pelo Concílio Vaticano II.
Urge, pois, redescobrir a beleza contida na autêntica celebração litúrgica
 dos mistérios cristãos, para que assim - e somente assim - tanto 
sacerdotes, quanto fiéis, possam saborear a ação salvífica de Nosso 
Senhor Jesus Cristo. Neste sentido, esclarece o Monsenhor Guido Marini, "somente
 quem adora o mistério, acolhendo-o na própria vida, demonstra ter 
compreendido o que está celebrando e, portanto, ser verdadeiramente 
participante da graça do ato litúrgico". 
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
 





 
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