English Spain Français Deutsch Italian

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

FÉ E VIDA (A Trindade, comunidade de amor)




Depois de ter contemplado cada uma das três Pessoas, temos que considerar, agora, sua vida em comum. Já nesta terra, a mais alta perfeição não é a pessoa isolada, por perfeita que seja, mas sim a de uma comunidade de pessoas que se amam. A perfeição divina atinge sua mais esplendorosa beleza na comunidade trinitária, onde tudo é comum entre as Pessoas divinas.

Viver juntos e ter tudo em comum: não é a aspiração inata e a grande alegria do amor na terra? Não era esta a gozosa experiência da primeira comunidade cristã, na qual se reflita o amor trinitário? “Todos os crentes viviam unidos e tinham tudo em comum...” lemos nos Atos dos Apóstolos. Entre as três pessoas da Trindade tudo era comum. “Tudo o que é meu é teu e o que é teu é meu” (Jo 17, 10), disse Jesus dirigindo-se a seu Pai. A natureza divina, com todas as suas perfeições e suas riquezas (santidade, poder; ciência, bondade, beleza...), é comum às três Pessoas. O Pai, o Filho e o Espírito Santo tem uma mesma visão das coisas e do mundo, uma única vontade, uma única atividade.

Evitemos, porém uma concepção estática demais desta divina colocação em comum. Depois de ter dito que tudo é comum, é preciso esclarecer imediatamente que tudo é perpétua mudança, diálogo incessante. Assim ocorre entre os seres que se amam. O que cada Pessoa recebe das outras duas, na Trindade, é restituído de imediato às outras duas em um arroubo de amor: não retém nada, não possui nada com exclusividade.

Devemos compreender que este intercâmbio ininterrupto de amor não provoca nenhuma confusão entre as Pessoas, mas cada uma, ao se dar as outras, afirma em toda beleza a sua própria personalidade. O dom de si mesma nunca é perda, mas afirmação de si mesma. Aquele que se guarda é que perde. Aquele que se dá, triunfa. O dom de si mesma é, conjuntamente, criador de cada uma das personalidades e da comunidade.

Deste modo, se torna manifesto, para nós, que amar é ser um, sem deixar de ser vários, cada um entregue a todos e todos entregues a cada um. É viver entre vários um único amor, uma só vida, uma só felicidade. É verdadeiramente esplêndida, de uma verdade inimaginável, a ordem da comunidade trinitária. Enquanto os homens perseguem, sem poder realmente alcança-lo, este sonho da unidade na pluralidade, em Deus, é realidade. Tal é o sentido desta afirmação em nosso Credo, que nos é familiar: um só Deus em três Pessoas. Uma palavra expressa este milagre da unidade na pluralidade: a palavra harmonia. As relações das três Pessoas divinas produzem a suprema harmonia, da qual toda harmonia terrestre é somente um eco muito remoto.

Diante dos primeiros discípulos de Jesus Cristo, os pagãos exclamavam: “Vede como se amam...” E, entretanto, aquela comunidade era só um pálido reflexo da Trindade. A homenagem deve ser dada as três Pessoas divinas: “Vede como se amam!...”

Assim, pois, a grande revelação, que Cristo tem por missão oferecer a terra, é expressa deste modo: Deus, o verdadeiro Deus, o Deus vivo, é comunidade de amor. Mais simples: “Deus é amor” (1 Jo. 4, 16). Quão ridícula e pretensiosa nos parece a definição de René de Chateaubriand faz de Deus: “O celibatário dos mundos!”. No único Deus, não há solidão, mas a fecundidade do amor o calor de uma tríplice Presença.

Se já é verdade que para os filhos é uma grande sorte ter um pai e uma mãe que se amem, quão grande deveria ser a nossa felicidade por termos um Deus que é comunidade de amor; um sol em nosso céu! Eu gosto desta definição do contemplativo Paul Claudel: “Existe um homem que julgou inútil olhar outra coisa que não seja o sol”.

(...) Nossa posição, nossa pátria para nós, batizados, é a comunidade trinitária. Ali, no Filho e com o Filho, na Igreja e com a Igreja, estamos totalmente abertos, totalmente acolhedores à efusão de amor ao Pai, que converte cada um de nós em Seu Filho, no sentido forte da palavra.

No Filho, com o Filho, estamos todos avançando para o Pai em um grande ímpeto de gozosa gratidão. Com o Pai e o Filho exultamos de gozo em seu amor comum, o Espírito Santo, aquele que os Padres da Igreja, como eu dizia antes a vocês, chamam de “A Festa Divina”. Este é o mistério profundo da vida da Igreja e, portanto, da vida cristã individual. “Por Jesus Cristo, Nosso Senhor. Com Ele e nEle, a Vós, Deus todo poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda Glória, pelos séculos dos séculos.”

Mas não podemos esquecer que, se estamos chamados desde agora a viver com o Filho na intimidade do Pai, também devemos, como Ele, nos dirigirmos aos homens como enviados do Pai.

Para traduzir meu pensamento, volto a minha comparação do filho em um matrimônio humano: ele não é apenas chamado através do amor de seu pai e da sua mãe, mas também é testemunha deste amor. Igualmente nós, chamados através do amor do Pai e do Filho, devemos ser entre os homens, as testemunhas de seu amor mútuo, ou mais precisamente, devemos ser totalmente transparentes ao Espírito Santo que nos habita, do qual eu lhes dizia que é eterna testemunha do amor do Pai e do Filho.

Sim, a Igreja inteira, e também cada um de nós, deve ser testemunha do amor do Pai e do Filho, e isto deve acontecer para que os homens, nossos irmãos, compreendam esta Boa Nova, de que são eles também chamados pelo amor do Pai e do Filho e pela sua eterna alegria. Esta é a mais elevada concepção do apostolado cristão.


Texto de Padre Caffarel, do livro CENTELHAS DE SUA MENSAGEM.

ENS, SUPER-REGIÃO BRASIL  

Nenhum comentário:

Postar um comentário