English Spain Français Deutsch Italian

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A PORTA ESTREITA



Certa vez estava Jesus a ensinar em público quando alguém se aproximou e o indagou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (1) A resposta de Cristo veio como uma incógnita da seguinte maneira: “Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita” (2). Perguntamos, será que aquele que havia feito a indagação conseguiu entender a resposta do messias? E nós, entendemos?
Logicamente, aquele que o indagou gostaria de ter recebido uma resposta simples como “Sim” ou “Não”. Porém, atrás da resposta de Cristo existe uma infinidade para se compreender. Quando Jesus responde que é preciso fazer esforço significa que é necessário se empenhar com ânimo, ou seja, com todas as forças que lhe são possíveis, para então, entrar pela porta estreita. Mas, será que a porta do céu é estreitíssima, se é assim, então, aqueles mais avantajados terão mais dificuldades por entrar no Reino dos Céus.
Certamente Cristo não se refere a uma porta física ou qualquer coisa do gênero, e sim se refere a um modo de vida, a uma postura frente às diversas possibilidades que nos cercam. Para compreender tal sentido visualizemos a seguinte estória.
Era uma vez uma pequena aldeia africana. A fonte de água situava-se quilômetros apenas e os habitantes da aldeia, gratos por esse caso favorável, viviam na maior alegria. As mulheres encarregadas de buscar a água gozavam de grande prestígio: todos os dias distribuíam a vida à comunidade. Salomé, muito hábil, levava sempre duas bilhas: uma estava em perfeito estado, mas a outra, um tanto gasta, perdia água. Esta bilha envergonhada com suas rachaduras, perguntou-lhe certo dia:
– Por que você não escolhe uma bilha que rende mais? Você não vê que desperdiço água, que não cumpro com minha missão? Quando chego à aldeia, estou vazia.
– Melhor dizendo: meio cheia, respondeu Salomé.
Mas vem comigo.
Salomé tomou a bilha sob o braço e a levou pelo caminho da fonte:
– Quando volto trago sempre tua amiga no lado direito e você no lado esquerdo. Agora, olha para o chão. A bilha olhou. No lado direito só havia poeira. Mas no lado esquerdo, flores.
A porta estreita do evangelho nos indica o modo de se por diante da vida cotidiana, muitas das vezes desejamos produzir, ganhar dinheiro, estar bem vestidos, bem alimentados e passear muito. E, quando temos algum probleminha logo procuramos sanar a dificuldade, tal como a bilha com suas rachaduras que desejava que fosse trocada por outra. No entanto, a bilha rachada não percebida que através de suas rachaduras dava vida a outras vidas.
A porta estreita por diversas vezes causa dor, dificuldades que parece até intermináveis. Mas quais são as portas estreitas de nossas vidas? Para um casal recém casado após algum tempo juntos logo perceberão mais os defeitos do parceiro ou da parceira do que as virtudes, eis aqui um porta estreita. Para um casal que teve o primeiro filho, no início tudo é alegria, mas no segundo, no terceiro mês de vida do bebê logo perceberão a sua porta estreita, ou seja, terá que acordar de madrugada para acudir o filho ou a filha que está em prantos. Para um noviço que ao chegar ao convento, no primeiro mês tudo é novo, tudo lhe inspira, mas a hora que lhe bate a saudade da família e, começa as dificuldades, logo percebe a sua porta estreita. Estes e tantos outros exemplos é que podemos elencar acerca da porta estreita de nossas vidas.
É necessário fazer esforço para entrar pela porta estreita, não é fácil deixar nossa situação cômoda para ir ao encontro do irmão que necessita de nossa ajuda. Já pensou em fazer como a Salomé de nossa estória, que de modo simples levava vida para a sua aldeia. Em nossa vida a quantos estamos dando vida, o nosso sorriso dá vida, o nosso “bom dia” dá vida, o nosso olhar carinhoso dá a vida.
Numa outra passagem do evangelho Cristo aponta o caminho da porta estreita, aponta o Reino de Deus cá na terra, com as seguintes palavras: “tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me” (4). Eis a porta estreita. No entanto, é preciso fazer esforço para sair de si, sair de nosso egoísmo, de nossa vida cômoda, e então, ir ao encontro do irmão.
Neste domingo lembramos a Vocação Laical, e através destes apontamentos podemos entender que aqueles que abraçam esta vocação são como a Salomé e como a bilha, que por meio de suas condições possíveis possibilitam a vida a tantas outras vidas.
Aos leigos, aos casados, aos sacerdotes, aos religiosos, a todos nós é preciso auscultar, acolher e guardar em nossos corações o que o Senhor nos fala:
“Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita”
Frei Osvaldo Maffei, OFM
(1) Lc 13,23 - (2) Lc 13,24ª - (3) Autor desconhecido - (4) Mt 25,35-36

Nenhum comentário:

Postar um comentário