English Spain Français Deutsch Italian

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

HÓSTIA

Tão logo um católico escute a palavra “hóstia”, o primeiro pensamento que lhe vem à mente é o pão ázimo, cortado em formato circular, ofertado e consagrado a cada Liturgia Eucarística – pão este que provavelmente tenha origem na “matzá”, o pão sem levedura utilizado na tradição judaica na celebração de Pessah (Páscoa – Passagem), cujo uso remete a uma prescrição mosaica (cf. Ex 12, 15).

Porém o termo “hóstia” tem sua origem no vocábulo latino “hostia”, que vem a significar oblação, vítima. E reconhecendo no dom eucarístico do Pão Consagrado a presença real e transubstancial do Cordeiro Imolado (cf. Apo 5, 6-14) , a vítima perfeita que livremente ofertou-se ao Pai em favor da humanidade (cf. Heb 10, 10-14), é que esse termo latino passou a ser empregado ao pão ázimo que é consagrado e distribuído aos fiéis, na liturgia latina. Por extensão, a mesma palavra acabou sendo utilizada de modo mais genérico a todo pão ázimo para uso litúrgico.

Sendo “hóstia” sinônimo de oblação e vítima, neste último caso em referência a “vítima pascal” - cujo cordeiro da Antiga Aliança era uma prefiguração do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29), o uso dessa terminologia evidencia a relação da Eucaristia (a Ação de Graças por excelência) com a paixão, morte e ressurreição de Cristo. A instituição do Sacramento da Eucaristia não pode ser isolada de seu contexto fundante, a “Paixão de Cristo”, ou seja, o “Amor do Esposo”, amor este que o leva a se entregar em radical “kenosis” (esvaziar-se , entrega) por toda a humanidade, e o faz aceitar o sofrimento, a cruz e a morte. Cristo como um Novo Adão “adormecido” no leito da cruz, tem de seu costado retirado “sangue e água”, em cujo simbolismo os santos padres (na linha da teologia joanina, cf. I Jo 5, 6-8) viram como sinais da Eucaristia e do Batismo, sacramentos comuns a todos os que são inseridos na Igreja. Deste modo, todos os que receberam o Batismo e comungam da Eucaristia, tem suas vidas renascidas em Cristo, mediante a inserção destes na Igreja, que é a Esposa (Apo 21, 2.9.17). Por fim, ao terceiro dia, o Cordeiro que fora imolado, ressuscita, para então completar esse “Mistério da Fé” que nos é garantia de vida eterna (cf. Jo 6, 51).

O uso da expressão “hóstia” (vítima) não está relacionado tão somente ao aspecto sacrifical da Eucaristia, pois essa “Vítima Pascal”, passando pela Ação de Graças da Quinta-feira Santa (a Paixão), foi livremente ao encontro da cruz e da morte, passou pela sepultura, para dentre os mortos recobrar a vida, findando tal “passagem” (Páscoa). Se Cristo pode ressuscitar é porque anteriormente havia morrido, assim todos esses elementos se inter-relacionam, se complementam. O Cordeiro Imolado está miraculosamente vivo, ele ostenta as chagas como sinal de sua vitória sobre a morte (cf. Apo 5, 6-14).

A graça de Deus vai progressivamente, pela ação do Espírito Santo, plasmando a imagem de Cristo em cada batizado, isto por meio da Igreja, que como Esposa do Cordeiro, gera, nutre e educa a todos os que nasceram pelo Batismo. Assim de certo modo, os elementos terrenos da vida de Jesus – todos redentores, são misticamente configurados em cada um de seus discípulos. Vamos encontrar em vários cristãos que, de certo modo puderam participar dessa oblação existencial de Cristo, a eles a Igreja assiste com o Sacramento da Unção dos Enfermos. E mesmo os que não passaram pela cruz da enfermidade, são chamados pelo Apóstolo a se configurarem mais intimamente a Cristo, ao se oferecerem livremente “como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, este será o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1).

Fonte:

Nenhum comentário:

Postar um comentário