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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CARTA DE BRASÍLIA - DA EQUIPA RESPONSÁVEL INTERNACIONAL AOS EQUIPISTAS DE TODO O MUNDO



Queridos equipistas e conselheiros espirituais:

Depois do Encontro de Brasília, o primeiro a ser feito fora da Europa, numa vivência do espírito de internacionalidade do nosso Movimento, dirigimos esta Carta a todos vós, membros das Equipas de Nossa Senhora.

Para aqueles que estiveram em Brasília e tiveram a graça de participar e viver a grande Festa do nosso Movimento, temos a certeza que a profunda experiência em que participaram os levará a “OUSAR O EVANGELHO”.

Para todos os que não puderam estar presentes, a Equipa Responsável Internacional gostaria que ouvissem esta voz que ressoa no coração de todos, e com a força do Amor façam “jorrar rios de água viva” neste mundo que pede com ousadia que “Partamos e façamos o mesmo que Ele fez”.

Estas considerações que nos ocorrem no final do Encontro Internacional de Brasília, que foi um momento de imensa felicidade, queremos partilhá-las com todos vós, no sentido de serem inspiradoras para os próximos tempos, nos quais, ao ritmo e no sentir com o coração da Igreja, desejamos caminhar, na obediência e na fidelidade ao Senhor. Sabemos que é na obediência que se vive a liberdade, e na fidelidade que se vive o amor, porque a fidelidade é a vitória do amor sobre o tempo, transformando-nos em anunciadores da liberdade.

«No último dia de festa, que é o mais solene, Jesus ficou de pé e gritou: “Se alguém tem sede, venha a mim, e aquele que acredita em Mim, beba.” É como diz a Escritura: “Do seu seio jorrarão rios de água viva.” Jesus disse isto, referindo-se ao Espírito que deveriam receber os que acreditassem n’Ele (Jo 7, 3739a).

Este texto do Evangelho convida-nos a contemplar o mistério de Cristo, como a fonte onde temos sempre de ir beber a água que mata a sede de paz e de felicidade que todos desejamos, mas que pelas nossas forças não podemos alcançar.

A orientação geral “OUSAR O EVANGELHO” é um desafio que nos conduzirá a ser:

I.                    Casais: Ousar ter um coração pleno do Amor de Cristo

“ Se alguém tem sede, venha a Mim, e aquele que acredita em Mim, beba”. ( Jo 7, 37b, 38a)

1.                  Voltar à Fonte

Como Casais das Equipas de Nossa Senhora, somos convidados nos próximos anos a renovar este esforço de voltar às origens, ao mistério de Cristo e da Igreja, pois é neste grande amor que encontramos a nossa razão de ser.

Este convite a que os casais das Equipas de Nossa Senhora regressem à fonte deverá concretizar-se na fidelidade à Carta Fundadora (1947), revisitando os textos inspiradores do carisma, mística e pedagogia do nosso Movimento -assentes em três pilares fundamentais: Orientações de Vida; Pontos Concretos de Esforço e Vida de Equipa -e, mais recentemente, num desejo de fidelidade criativa, bem expressa no Segundo Fôlego.

Todos somos mobilizados para este percurso de retorno às origens, para que a vivência da
espiritualidade conjugal, eixo da nossa vida, seja cada vez mais fecunda nestes tempos de grandes mudanças no mundo, mudanças que representam um desafio. Ousemos, pois, o Evangelho na fidelidade e na coerência da Fé “acolhendo os valores e as necessidades na medida em que sejam assimiláveis e em união ao Carisma Fundador” (padre Caffarel – discurso de Chantilly; Maio1987).

Na base de uma espiritualidade conjugal e familiar, podemos caminhar no sentido da redescoberta sempre mais profunda do sentido da fé, aqui entendida, como nos convida Bento XVI, como adesão a Deus, cujo amor reconhecemos na história e nas nossas vidas, como pessoas e como casais.

2. A relação do homem e da mulher, que nas Equipas de Nossa Senhora é iluminada e fortalecida pela graça do sacramento, é vivida no e com o Senhor. É importante aceitar as diferenças entre os cônjuges, não só na sua complementaridade psicológica e afectiva, mas também tendo em conta a diferenciação pessoal (sexual) inscrita no pensamento de Deus, que assim criou o homem à sua imagem e semelhança, e homem e mulher os criou (Gen 1,27), como se lê nas Sagradas Escrituras: “E Deus viu que era tudo muito bom” (Gen 1,31).
No matrimónio cristão celebramos a redenção do homem e da mulher no que diz respeito também à dinâmica dos afectos e das paixões. 
Pelo dom do Espírito Santo e com o auxílio da graça, é possível passar de um amor passional para a dinâmica de um amor oblativo.
Para o casal cristão, o próximo mais próximo e prioritário é o próprio cônjuge. Este é chamado a ser constantemente um “bom samaritano” para o outro, vivendo a partir do outro e ao serviço das necessidades dele, em vez de seguir espontaneamente os desejos e projectos pessoais e a própria satisfação. Só é possível viver a santidade em qualquer estado de vida cristã, mas muito particularmente no matrimónio, seguindo a lógica da cruz, ou seja, o amor oblativo, de dar a vida um pelo outro. 
A nossa maior ousadia será a vivência da nossa relação conjugal -movida sempre pelo amor e pela abnegação – que deve ser testemunho de vida do casal e da família.
Em Chantilly, o Padre Caffarel afirmava a este respeito: “Não existe amor sem abnegação, e não se pode praticar uma abnegação que não venha do amor”, pois só um amor abnegado e fiel é verdadeiro. E continuava: “A vida conjugal comporta grandes riquezas mas também grandes exigências”.

II . Casais: Ousar acolher e tomar conta dos Homens

“Do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7, 38b)

3. O Movimento das Equipas de Nossa Senhora, sendo e devendo permanecer um movimento de espiritualidade, deve não só aprofundar para dentro a espiritualidade conjugal, mas também irradiá-la para fora, para aquelas situações problemáticas que muitos homens e mulheres hoje vivem e que não conseguem resolver. Todos os seus dons e carismas são suscitados e dados pelo Espírito Santo para o bem comum, para a promoção da unidade, da caridade e da santidade, para que irradie, como sinal visível, para o mundo. 
Como afirmava o Padre Caffarel, dirigindo-se aos casais das Equipas de Nossa Senhora e lembrando o encontro com Paulo VI (1968): “Estou plenamente convencido de que vocês compreenderam de imediato que não são apenas os destinatários, mas sim os mensageiros diante desses milhares de casais … a respeito dos quais nos pedia o Papa que tivéssemos presentes em nosso pensamento”.

4. As Equipas de Nossa Senhora devem ser um Movimento, comunidades a caminho, dando razões de esperança às novas gerações, para que não tenham medo de correr o risco de celebrar o seu amor no Senhor (1Cor 7). O matrimónio é uma graça e uma missão.
Como nos dizia o Padre Caffarel, no editorial da carta mensal nº1, intitulado “O Êxito da Caridade”: “O amor fraterno é extraordinariamente fecundo. Ao seu redor e com seu influxo o mal retrocede e o deserto torna-se fértil”. 
É urgente ajudar, até onde a caridade fraterna nos possa levar, os casais em dificuldade, bem como aqueles que fracassaram no amor e tentaram uma segunda oportunidade. (cf. Familiaris Consortio, nºs 80 a 85). É urgente testemunhar a todos que a única palavra que faz sentido é a do perdão; por mais complexa que seja a situação do homem, por mais duro que seja o coração humano, o coração de Deus é diferente, é maior do que o nosso (cf 1 Jo 3, 20).

Outra questão importante para todas as Equipas, embora em momentos diferentes, é o envelhecimento dos casais. A espiritualidade do Movimento deverá ser uma preciosa ajuda para que as pessoas e os casais possam envelhecer com dignidade e viver a graça e o carisma próprios de cada fase da vida.
É importante que os Casais das Equipas de Nossa Senhora sejam fecundos na irradiação de uma cultura de presença e de solidariedade com todos aqueles que passam por grandes dificuldades. Ser óleo da consolação, procurando viver a caridade de uma forma inventiva, ao ajudar todos os que estão em dificuldade a viver o melhor possível as suas vidas com o espírito do Evangelho e o sentir da Igreja. 

III. Casais: Ousar partir para o Mundo ao serviço da Igreja
“Jesus disse isto, referindo-se ao Espírito que deveriam receber os que acreditassem n’Ele”. (Jo 7, 39)

5. O Movimento das Equipas de Nossa Senhora deverá nos tempos atuais dar sinais de esperança, aquele olhar confiante no presente e no futuro, porque sabemos em quem confiamos, as nossas vidas estão nas mãos de Deus; os nossos nomes, desde o batismo, inscritos no livro da vida. O apelo à santidade em casal, como específico da graça e do carisma das Equipas de Nossa Senhora, deve ser vivido também como missão, que pressupõe a fidelidade aos pontos concretos de esforço, sobretudo à oração conjugal e ao dever de se sentar
A missão traduzir-se-á na disponibilidade e abertura ao sentir da Igreja e às suas urgências pastorais mais imediatas, como seja a tarefa da nova evangelização dos casais e das famílias, do evangelho da santidade vivida na vocação e na missão do sacramento do matrimónio. 
O Movimento das Equipas de Nossa Senhora deve formar e preparar os seus casais para partirem em missão para o mundo, dando testemunho da sua vocação de casal cristão.
Assim, os casais das Equipas de Nossa Senhora sentir-se-ão membros vivos e activos de uma grande comunidade, a Igreja, que ultrapassa todas as fronteiras, porque constituída por casais cristãos de todos os continentes, de todas as raças e culturas, nas quais se compõe e se executa a divina sinfonia do amor.

Conclusão

Iluminados pela luz deste Encontro de Brasília, esperamos que o Movimento cresça cada vez mais em riquezas espirituais, recebendo a força das vossas energias e a ousadia do vosso serviço.
As ENS permanecerão firmes na unidade e na fidelidade ao seu Carisma, mas também estarão abertas ao mundo e aos sinais dos tempos, com um novo ardor, um novo vigor, um novo fôlego.
Casais das Equipas de Nossa Senhora, sejamos na Igreja e no mundo de hoje, sinais de esperança e fermento de novas gerações que acreditam na Vida, dando testemunho de que o Sacramento do Matrimónio é caminho de Amor, Felicidade e Santidade.
Confiemos em Maria, nossa Mãe, que nos guiará para irmos e fazermos o mesmo que ELE fez.

Paris, 1 de Setembro de 2012

A Equipa Responsável Internacional

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