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domingo, 24 de junho de 2012

SÃO JOÃO BATISTA


O mês de junho é um tempo de muitas comemorações e acontecimentos. Na Igreja os santos juninos, Coração de Jesus e de Maria, e na sociedade o grande evento da Conferência da ONU sobre a sustentabilidade do planeta.
Já comemoramos Santo Antônio, tão querido de todo o povo brasileiro. Dia 24, a natividade de São João, o Batista, cai num domingo, e sua festa prevalece. Da mesma maneira, no domingo seguinte, iremos celebrar São Pedro e São Paulo, solenidade transferida do dia 29. As festas que envolvem este mês são chamadas festas juninas ou joaninas em homenagem principalmente a São João. Suas origens estão nos países católicos europeus do século IV. No Brasil, logo que começaram, adaptaram-se às culturas afro e indígenas.
Os símbolos populares e paralitúrgicos das festas juninas estão ligados, também, a São João: a fogueira, os mastros, os fogos, a capelinha, a palha e o manjericão. Estas e outras histórias compõem o alegre cenário das festas juninas em louvor a São João, e fazem parte da cultura popular de nosso povo, devoto dos santos e cheios de alegria por festejá-los. Porém, ao lado dos festejos populares, devemos conhecer a vida e o exemplo de São João Batista.
Ele, segundo nos relata o Evangelho de Lucas, era filho de Zacarias, um sacerdote do templo, e de Isabel, mulher estéril e de idade avançada. É o precursor de Jesus, e preparou-lhe os caminhos pregando a conversão e o arrependimento dos pecados. Batizou muitos com o batismo da penitência e, quando Jesus foi batizado, manifestou-se a Trindade e a Sua missão.
João se vestia com pele de animais e se alimentava de gafanhotos, sempre pregando sobre o arrependimento sincero e a conversão do coração. Ele pregava para endireitar os caminhos do Senhor, aplainando suas veredas. Gostava de pregar sobre a Palavra de Deus e a vinda do Messias, até que, ao encontrar-se com Jesus, aponta-O como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo", enfatizando que não lhe é digno sequer de desamarrar as sandálias de seus pés e ensinando que ele, João, batizava com água, mas aquele que viria depois dele, referindo-se ao Messias, Ele sim os batizaria no Espírito Santo e no fogo.
O discurso de João e a sua pregação sobre a vinda do Messias eram muito atraentes, porque esta era a esperança de todo o povo: o Messias que viria para restaurar Israel. Sua morte está ligada a uma decisão injusta devido à sua denúncia diante da situação de infidelidade do Rei Herodes, como conhecemos.
João Batista é a "voz que grita no deserto" pedindo que sejam preparados e aplainados os caminhos do Senhor. Essa vinda deveria ser preparada pela penitência. João se preparou para a missão de precursor do Cristo no deserto, mais uma vez por meio da oração e da penitência. Embora muitas vezes fosse considerado como o Messias, ele logo situa as pessoas negando esse fato, apontando que não era digno sequer de desamarrar suas sandálias. Apontava a seus discípulos o caminho a seguir: Eis o Cordeiro de Deus! Quem com Ele caminha só pode chegar ao verdadeiro caminho, que é Cristo. A quem ele amou, seguiu e anunciou com total afinco e disponibilidade. Mais uma vez é Deus mesmo realizando proezas na vida de seus santos. Que nossa vida seja imitação perfeita destes homens e mulheres do passado que, como João Batista, prepararam e caminharam nas veredas do Senhor.
João Batista sempre foi categórico ao afirmar "Eu não sou o Messias" (Jo 1, 20). Ao contrário, João foi a primeira "testemunha" de Jesus, tendo recebido a indicação do Céu: "Aquele sobre Quem vires o Espírito descer e permanecer é que batiza no Espírito Santo" (Jo 1, 33). Isto acontece precisamente quando Jesus, tendo recebido o batismo, saiu da água: João viu descer sobre Ele o Espírito como uma pomba. Foi então que "conheceu" a plena realidade de Jesus de Nazaré, e começou a dá-lo a "conhecer a Israel" (Jo 1, 31), indicando-O como Filho de Deus e redentor do homem: "Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29).
A Solenidade da Natividade de São João Batista nos ensina precisamente isso: anunciar ao mundo Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Levemos a sério a chamada universal de conversão pregada por João Batista e sejamos discípulos-missionários de Jesus Cristo, o Redentor!
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

TODOS OS CRISTÃO SÃO CHAMADOS A SER SAL DA TERRA E LUZ


 “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mateus 5,11-12).
Esses foram os últimos versículos que ouvimos no domingo passado, agora na continuação das bem-aventuranças Jesus muda o tom do sermão nos dizendo: “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo”, esse contexto é para os cristãos perseguidos.
Todos os cristãos são chamados a ser sal da terra e luz do mundo, mas principalmente os perseguidos.
Que tipo de perseguição sofremos hoje na Igreja? Podemos ver pela vida de São Pio de Pietrelcina. Um frade que tinha estigmas, eram aspectos físicos de sua santidade, mas também aspectos interiores extraordinários, como o da perseguição, perseguição não somente dos de fora, mas dos que estavam dentro da Igreja. Ele, marcado pelo sofrimento e zelo pelas almas, dizia: “A salvação das almas custam sangue”. É aquilo que está no livro de Hebreus 9,22: “Não há redenção sem derramamento de sangue”. Quantas vezes, Padre Pio foi considerado um homem clinicamente morto, com febres de mais de 50°C, nesse período em que se encontrava doente, ele recebeu as chagas.
Um homem com um dom, a experiência de confessar-se com ele era extraordinária porque ele lia a alma das pessoas, e também tinha um grande amor pela alma dos seus filhos espirituais, quando lhes falava: “Quando o Senhor me chamar, eu direi: 'Senhor, eu fico aqui, na porta do Paraíso. Entrarei quando tiver visto entrar o último de meus filhos espirituais'”.
Ele realizava esse grande prodígio: Atender confissões e celebrar Santa Missa de forma especial. Padre Pio foi chamado a se configurar a Cristo de outras formas, não somente no físico, por meio das chagas, mas pelas calúnias, quando foi condenado injustamente, alguns padres e bispos tiveram inveja dele, com tudo isso, ele nunca falou mal da Igreja.
Com ele aprendemos que cada alma deve ser salva, e que cada alma tem preço de sangue. Ele pagou o preço da salvação de muitos, foi o único sacerdote que teve as chagas de Nosso Senhor, todos os outros foram leigos.
A Boa Nova desse grande santo italiano é ter se configurado a Cristo Crucificado. Jesus sofreu e morreu na cruz por todos, mas Ele escolhe algumas pessoas para partilhar Seu sofrimento.
“Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5,16).
Jesus nos diz por intermédio de Padre Pio: “Vai, ama-me de volta! Seja você também caluniado, chagado por mim! Ama-me de volta!”
Por isso, Padre Pio brilha como luz, assim também que a sua luz brilhe para o mundo no seu sofrimento. Olhe a história da Igreja que está marcada por tantos inimigos de fora, mas também de dentro. O inimigo que devemos temer não é o que está no externo, mas no interno, aquele que não quer que sejamos fiéis a Deus.
Outro exemplo que temos é o bem-aventurado José de Anchieta que não teve medo dos bárbaros de fora, mas dos bárbaros dentro dele, ainda seminarista escrevia poemas para a Virgem Maria como modo de preservar sua castidade.
Reze, portanto, pelas conversões. Igreja Celeste são cidades iluminadas edificadas na montanha que não podem ser escondidas, enquanto isso na terra precisamos dessa batalha, para que nossa chama não se apague. Estamos em perigo, a Igreja triunfante já está plenamente realizada, aqui estamos em luta, contra os inimigos de Deus que estão fora e dentro da Igreja, e infiltrados nela, que estão fora e dentro de nós.
Mas a nossa luz não é nossa, é como a luz da lua que não tem luz própria, mas que reflete a luz do Sol, assim é a Igreja. Vivemos o mistério da lua que reflete a luz de Cristo. É a luz de Cristo que precisa brilhar!
Padre Paulo Ricardo

O MUNDO PRECISA DE PESSOAS QUE SEJAM LUZ



Reaviva a luz que está em ti, retempera o sal que está em ti porque tu és o sal da terra. Veja, isto se trata de uma confirmação, não por nós mesmos, mas sim porque fomos feitos para ser sal da Terra. Antigamente não havia geladeira, salgava-se tudo, para salvar os alimentos. Sem que o mundo perceba, o príncipe deste mundo vem tirar as pessoas, e estas pessoas acham que estão “abafando”, e, por isto justamente, a sociedade está estagnada nesta “maravilha” que o príncipe das trevas oferece, mas é Deus que tem que salgar para que nós não nos decomponhamos.
O professor Felipe Aquino tendo feito doutorado em Física Nuclear, hoje ele diz que o mundo não se explica sem Deus, pois a Física necessita de Deus. Há estrelas que se distanciam do sol, a nossa sociedade está assim, se afastando de Deus, ela esta se corrompendo. Ontem eu estava acompanhando o show da noite pela Canção Nova, e acabei mudando para outros canais, acabei parando em um dos outros canais e vi o “Big Brother”, o tempo que fiquei vendo, eu fiquei envergonhado da nossa tv brasileira, já não se faz mais arte, porque nossa sociedade está gostando disto, a nossa sociedade está se decompondo por escolha dela.
Infelizmente a nossa sociedade não tem sido cristã de forma certa, não estamos sendo o sal da terra, porque estamos literalmente nas trevas, você é a luz do mundo, Deus não fala que você deve ser e sim que você já é. Nós temos que brilhar porque é a finalidade da luz, pois a luz tem que ficar o mais alto que puder para que possa iluminar o ambiente.
É preciso que sejamos luz, porque Deus te constitui como luz, as trevas precisam da luz, pois elas pedem, clamam pela luz, o mundo precisa de luz. Se nossa sociedade está assim é porque não encontra outro jeito de ser, porque nós cristãos temos sido omissos, então o mundo não tem nos visto, eles pensam que os estamos copiando. Deus precisa que nós sejamos luz para o mundo, então os cristãos precisam ser luz.
Imagine as trevas precisam da luz, mas não encontram luz! Antigamente era uma vela com pavil que era usada junto com vinagre, tudo muito frágil. Nós somos frágeis, a sociedade não imaginava como seria uma lâmpada. Uma vela em si não é nada, mas quando é colocada junto ao fogo, ela se faz luz e faz a sua diferença, por isso você tem que se ascender em Deus.
Você é um jogo para o demônio, mas quando Deus ascende você, o mundo aplaude, porque o mundo precisa de pessoas diferentes que sejam Luz! Talvez você seja menos do que uma vela, não te menosprezando, talvez você seja um palito de fósforo, mas juntos, sem a vergonha de ser luz, você faz a diferença. A grande vergonha da cristandade é de ser diferente, imagine uma sociedade inteira que não conhece a luz, que vive em trevas, com certeza eles se acostumariam porque não conhecem a luz, mas quando eles conhecem um agir diferente, uma qualidade diferente, uma luz, eles a seguem.
Embora você seja um palito, seria um espetáculo se unidos estivessem, fariam a diferença. Não tenha vergonha de ser luz, de desempenhar o papel da luz, peça agora para que você tenha atitude de filho da luz, para até mesmo que você repare o tempo que você havido perdido devido a vergonha de ser luz.
O Senhor proclamou que tu és o sal da terra, mas pensamos que ser bom não está na moda, que sermos injustos, desonestos é que está no auge, e já se criaram toda uma cultura de que ser verdadeiro não está na moda. A sociedade precisa que sejamos diferentes, ser justos, se você olhar bem vai ver que isto é que está na moda, porque é o que eles procuram em seu coração, afirmo que ser de Deus está na moda. E graças a Deus a Canção Nova está provando que ser de Deus está na moda.
Nós sabemos que quando o comércio quer fixar uma moda, ele começa pelos jovens. Nós temos que mostrar aos jovens esta diferença, para que vivam como filhos de Deus, porque ser de Deus está na moda, e o mundo tem que ver que esta é a mais linda moda. Na Idade Media, os historiadores dizem que é a era das trevas, mas não é, lá havia uma sociedade cristã, mas deixando isto de lado, muita gente diz que Deus era uma raridade, Deus fez maravilhas lá, e Deus pode fazer o mesmo aqui.

A nossa época, pode ser a era de Deus, porque podemos fazer esta diferença. Este acampamento cheio de jovens vem a provar que Deus está na moda. Aquilo que na ciência não pode acontecer, para Deus pode, aquilo que na natureza e no homem não pode acontecer, em Deus pode, porque Deus vai fazer através de nós. O sal bom é aquele fininho, mas quando junto, pode salgar melhor, quando nós nos unimos Deus estará na moda e melhor, Deus vai compor este mundo. Repita comigo salmo 111, “Uma luz brilha nas trevas para os justos, permanece para sempre o bem que fez!”.
 Homilia - Padre Jonas Abib no domingo de carnaval

SAL DA TERRA E LUZ NO MUNDO


Jesus usa três comparações – sal, luz e lâmpada – para nos mostrar o que significa ser cristão, ou, em outras palavras, para apresentar o sentido da presença e da ação da comunidade cristã no mundo.
O sal é o alimento fundamental para a vivência: preserva, conserva os alimentos e lhes dá sabor. A comunidade cristã, seguindo a Jesus, preserva, conserva a vida e lhe dá sabor humano.
A primeira carta de São João diz: “Deus é luz”, porque sua presença ilumina a vida do homem, conferindo-lhe significado. A comunidade cristã é luz do mundo porque testemunha Jesus e se torna, desse modo sinal que revela o sentido que Deus dá à vida. Ninguém vive sem a luz. Ela possibilita enxergar o caminho para andar e ninguém caminha sem um sentido na vida.
Por fim, a simbologia da lâmpada: ninguém a acende para colocá-la debaixo de uma vasilha. Não podemos nos esconder nem nos fechar, caso contrário, nosso testemunho já não tem mais sentido.
É sal da terra, é luz do mundo, é cidade visível que fica no alto do monte. Essas imagens, utilizadas por Jesus, convergem para a mesma direção: o testemunho da vida a serviço dos outros. Fica bem claro que não existimos unicamente para nós mesmos, mas também em função dos outros, de toda a humanidade.
Somente seremos sal, luz e lâmpada quando dermos testemunho de Jesus, vivendo o que Ele proclamou nas bem-aventuranças. O homem moderno pode descobrir, para além da linguagem e das ideias, que Deus se encontra na simplicidade e a falta de luz nos nossos corações é o que impede de fazermos deste mundo um mundo melhor.
Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O PODER DO DIÁLOGO NO MATRIMÔNIO - "DEVER DE SENTAR-SE"



                                      Muitas vezes, as pessoas se fecham para quem se ama.

A última Encíclica do Santo Padre, o Papa Bento XVI, “Caritas in Veritate”, de 29 de junho de 2009, apresenta uma proposta de vida, na qual as pessoas devem viver a verdade. Esta verdade deverá ser procurada, expressa e encontrada na caridade; e toda caridade precisa ser compreendida, avaliada e praticada à luz da verdade. O Papa usa a expressão “ágape” para falar de caridade e “logos” para dizer da verdade. E afirma que da verdade (logos) sai a palavra dia-logos: diálogo, comunicação, comunhão. A comunhão é fruto do diálogo.

No matrimônio, o diálogo entre os cônjuges é a fonte para que o amor se alimente, cresça e frutifique em obras na própria vida do casal e também frutos de transformação da sociedade. A base do diálogo é e será sempre a verdade, mas a forma de se dizer a verdade precisa ser a caridade, com respeito à outra pessoa. Vemos muitos casais em crises conjugais por causa da falta de diálogo, por não expressarem livremente a sua opinião, causando sempre a depressão no outro, que se sente sufocado por viver a partir da verdade do cônjuge, sem poder se dizer. Eu diria até sem ser valorizado como pessoa. Por isso, o diálogo é fundamental no matrimônio.


O que seria, então, o diálogo? Arrisco afirmar que a base é a escuta; não o falar. Para se aprender a dialogar com os outros é preciso aprender a ouvi-lo sem qualquer preconceito, sem querer corrigi-lo ou interferir em sua fala. Toda pessoa precisa ser ouvida, precisa ter alguém que a escute e dê atenção às suas aspirações, sofrimentos, anseios diários... Enfim, todos precisamos que alguém nos acolha com amor e nos escute por um momento do dia. Acho este o ponto essencial no diálogo: um fala e o outro escuta, depois o outro fala e o primeiro escuta. O fruto do diálogo deverá ser o consenso, uma opinião comum.

Quando tudo isso não acontece, as pessoas acabam se fechando e não se comunicando com quem ama, porque este não soube ouvi-la ou, então, interpretou a sua fala de forma errônea, distorcendo aquilo que ouviu e reagindo de forma agressiva ou indeferente.

O centro do diálogo é a busca da verdade, e a verdade é Jesus Cristo. Nele podemos encontrar o ponto de unidade para o diálogo, por isso a importância do casal rezar juntos. Quem reza junto consegue conversar e dialogar de forma madura, com respeito. Podemos até discordar da opinião dos outros, mas é sempre bom separar o fato da pessoa. Separe e preserve sempre a pessoa; discuta opiniões. Toda discussão tem de ter como base o amor.

A verdade dita sem amor torna-se agressiva e não produz o efeito de ajuda para a melhora do outro. Se aprendermos a viver o diálogo pela verdade, mas ajustado ao amor de Deus, poderemos ser mais felizes no nosso matrimônio. Leia a Encíclica do Papa Bento XVI.

Deus o abençoe!

Diácono Paulo Lourenço

http://blog.cancaonova.com/diaconopaulo/

Homilia do Padre Angelo Epis no II Encontro em Florianópolis





Tema: “Casal cristão, célula de evangelização”.
Leitura: At 18, 1-4, 24-26 – O casal Priscila e Aquila acolhe Paulo.
Salmo: Sal 103(102) 1.2a.14-15.24.27-28 - Bendize o Senhor!
Evangelho: Mt 10,5-9.23-33 – A missão dos doze.

Queridíssimos irmãos, antes de tudo, a minha cordial saudação e a alegria de estar aqui com vocês neste segundo encontro das Equipes brasileiras. O seu país, particularmente amado por Padre Caffarel, é hoje também amado por todos os casais das Equipes de Nossa Senhora espalhadas pelo mundo. Neste momento, em particular, todos os casais são gratos porque a sua Super-Região aceitou hospedar o próximo Encontro internacional em 2012. A E.R.I., com a solicitação que nos foi dirigida, quis destacar a vivacidade e a força de seu país. Ao mesmo tempo, com esta escolha, quis dizer a todos que o Movimento é internacional e que sair dos limites da Europa para escutar as exigências, perguntas e propostas de vocês é escutar todos os equipistas do mundo. Em nome de todos, obrigado!
A palavra de Deus que vocês escolheram sugere algumas reflexões que eu quero propor-lhes. Jesus revela o seu rosto mais autêntico, na própria medida de Deus. Vendo as multidões, vendo-nos, vendo a nossa contemporaneidade, Jesus tem um sentimento de compaixão. Não de juízo, não de crítica, não de indiferença, não de raiva. De compaixão!

Neste gesto percebo o reflexo do amor de Cristo que permite a Padre Caffarel a sabedoria de responder aos primeiros casais que procuravam uma espiritualidade: “Façamos o caminho juntos!”. Isto é, gastemos uma parte do nosso tempo, da nossa vida, para alguma coisa importante. Busquemos a vontade do Senhor no matrimônio cristão. No matrimônio há o chamado para a santidade! O matrimônio é lugar de santificação.
Hoje, diante de nós, está uma multidão, um mundo cheio de dúvidas, que busca a verdade. Nós somos o sinal de Cristo e junto com Ele temos que ter compaixão, não julgar. Juntos com Jesus devemos procurar caminhos, não fechar estradas. Por isso Jesus inventa a Igreja! Vocês casais, junto com suas famílias, são a Igreja doméstica.
Não nos contentamos em ser um número na Igreja, mas quisemos ser pedras vivas que edificam o templo vivo ao redor de Cristo. Não é fácil entender e amar a Igreja. São muitas suas fragilidades, muitos os contra-testemunhos, muitas as pessoas que se dizem crentes e que nem vivem como homens, muitas as incoerências, muitos os erros na história para não duvidarmos quando se fala da Igreja. A escolha e o envio dos doze por parte de Jesus é um sinal também para nós. Com aqueles doze inicia-se a construir o Reino, primeiro junto com Ele, para depois se tornarem capazes de conduzir para pastagens verdejantes por onde eles

Primeiro serão conduzidos!
O nosso encontrar-nos, às vezes, nos faz alcançar os nossos limites e nos faz defrontar com o desejo de uma Igreja que vive, pensa e faz sempre as mesmas coisas. Estamos com certeza apaixonados por percursos de unidade, mas não de unanimismo. Olhar para os doze, enviados dois a dois, nos faz pensar e nos encoraja: ninguém sonharia em colocar juntos doze pessoas tão radicalmente diferentes para realizar um projeto! Pescadores acostumados à praticidade e à rudeza colocados ao lado de intelectuais como Mateus e João; tradicionalistas como Tiago junto com publicanos, pecadores públicos, terroristas como Simão do grupo dos Zelotas, dispostos a matar o invasor romano.
Israel inteiro está neste grupo, a inteira humanidade em sua intensa diversidade. A Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus, diferentes entre si em tudo exceto no amor ao Mestre, chamados a anunciar o Evangelho com simplicidade e verdade. À humanidade ferida e frágil que necessita de um guia, Jesus propõe um pedaço da humanidade, igualmente frágil e ferida,.transfigurada.pelo.Amor.A missão proposta aos doze é desconcertante: devem dirigir-se às ovelhas perdidas de Israel. É um convite atual e urgente: a Igreja precisa de testemunhas que a reconduzam ao aprisco do Pai. Os primeiros destinatários do anúncio do Evangelho somos justamente nós cristãos. Peço-lhes que neste encontro não pensem para quem anunciar o Evangelho: acolham-no vocês, acolhamo-lo nós.
A pobreza e o escândalo da Encarnação é também isso: Deus escolhe se fazer anunciar por meio de pessoas inconstantes e duvidosas. Nós somos, para os irmãos desgarrados, o consolo de Deus.

Não tenham medo! É a outra expressão que lemos na Palavra de hoje. Não tenham medo: vocês valem mais do que muitos passarinhos! Um Deus que cuida dos passarinhos e depois se perde amo­roso em contar os cabelos da minha cabeça. E, no entanto, os passarinhos con­tinuam a cair, os ino­centes a morrer, as crianças a serem vendidas. E Deus a tranqüilizar os seus: «Não temais, nem um passarinho cairá em terra sem a vontade de vosso Pa­i ». E nos garante: nem um passarinho cairá em terra «sem que Deus saiba», de um Senhor envolvido no vôo e na dor das suas criaturas. Nada acontecerá na ausência de Deus, mas no mundo pessoas demais caem no chão sem que Deus queira, coisas demais acontecem con­tra a vontade de Deus: cada ódio, cada guerra, cada injustiça. Mas nada acontece «sem que Deus saiba». Ele se inclina até mim. Entrelaça a sua esperan­ça com a minha, o seu respiro com o respiro do homem, está no reflexo mais profundo das nossas lágrimas para multi­plicar a coragem. Por isso o mundo precisa de homens e mulheres que são reflexo do amor de Deus.
Não tenham medo daqueles que matam o corpo: o cor­po não é a vida, você não é o seu corpo. Assim mesmo o reencontrará: nem mesmo um cabelo se perderá. Para o amante nada daquilo que pertence ao amado é insignificante.
A imagem dos passarinhos e dos cabelos contados, destas criaturas efêmeras e frágeis, me leva aos ministérios que somos chamados a cumprir: Leva-me aos mais frágeis entre os irmãos, aos idosos, aos doentes, aos excepcionais, aos que não podem mais trabalhar e produzir, e se sen­tem inúteis e impotentes. É a ele que Jesus diz: «Não temas: tu vales mais.
Ainda que a tua vida fosse leve co­mo a de um passarinho ou frágil como um cabelo, tu vales mais, porque existes, vi­ves, és amado, e Deus se entrelaça com a tua vida». O amor conjugal nos torna todos os dias sabedores das palavras que devemos dizer a estes nossos irmãos: Senhor, fiz po­uco durante a minha existência e agora não consigo fazer mais nada. E Ele responde: Tu vales mais, não porque produzes, trabalhas, tens sucesso, mas porque existes, gratuitamente como os passarinhos, fragilmente como os cabelos, nas mãos de Deus. Sobre ti está a sua cura, sobre ti está o seu respiro. Onde você acaba, começa Deus.
Gritem dos telhados! Eis a função da Igreja: anunciar a cada homem a ternura de Deus. Para isso precisa encher os pulmões e gritar dos telhados aquilo que experimentamos dentro de nós. Nesta não-lógica de Deus, que confia nas nossas frágeis mãos do anúncio, encontramos hoje o seu desejo de anunciar aos homens o seu verdadeiro rosto.

Somos chamados a gritar dos telhados que Deus conta também os cabelos da nossa cabeça, que Deus não é feio e incompreensível como o imaginamos, que Deus ama carinhosamente os passarinhos e conhece seus sofrimentos, que Deus, o Deus de Jesus, é esplêndido. Gritar dos telhados que Deus é grande, que Deus nos ama, que Deus está presente, como o coração do apaixonado que, cheio, quer comunicar a todos a sua experiência.
Ao homem indiferente ou arrastado pelo caos da vida, Jesus anuncia o rosto suave de um Deus que caminha conosco. Gritem dos telhados! E me lembro de todas as situações em que nos envergonhamos de ser cristãos, em que afirmamos que cremos, sim, mas com muitos parênteses, com muitas objeções, para não fazer má figura diante da "modernidade", toda vez que tentamos ser cristãos "politicamente corretos", quando nos entregamos aos compromissos para ser acolhidos neste hipócrita mundo liberal que é liberal somente com quem pensa como ele.
No fundo, porém, temos medo da nossa fé, acreditamos que devemos quase desculpar-nos por crer, que as nossas razões vacilam diante do pensamento moderno. Mas é assim? Talvez sim, para muitos.
Precisamos aprofundar a nossa fé, de sacudir a poeira da rotina e do tradicionalismo, para redescobrir o rosto extraordinariamente humano e misericordioso, confiável e racional do Deus de Jesus Cristo.


Gritem dos telhados! Não nas Igrejas, não nas sacristias, não ao pequeno rebanho, mas na praça, no bar, no escritório. A fé esteve por muito tempo escondida nos tabernáculos, sem ter a coragem de contagiar a nossa vida. Não é este talvez o drama da nossa fé? O de ficar timidamente escondida nos estreitos espaços do Espírito? Não é talvez porque Deus foi expulso da nossa economia, das nossas escolhas, das nossas famílias, da nossa cultura, para ser idolatrado no tempo do sagrado que muitos homens olham com desconfiança no Evangelho, como se quase fosse uma renúncia.à.plena.humanidade?
Gritemos do telhado este Evangelho, responsabilizemo-nos por ele, entremos no grupo de quem leva a sério a ânsia de plenitude que inquieta o Senhor.
Sejamos claros, porém: nada de integralismos nestes tempos de excessos religiosos, em que se sopra sobre o nunca adormecido espectro das guerras de religião.
Viver o Evangelho com seriedade não leva de forma alguma a agir sem o respeito ditado pela caridade. Respeito absoluto pelas idéias e pela experiência humana, com certeza, mas também a exigência de ser reconhecidos cidadãos plenos, com uma experiência forte e reestruturadora da sociedade. Existe o risco de brandir a fé como uma arma, ou o risco da insignificância.
"O amor nos empurra", dizia São Paulo. É o amor em Deus e no homem que faz gritar nos telhados, é a percepção da salvação que pode encher os corações que nos faz sair para indicar a quem vive no medo e na solidão que existe uma plenitude e que esta plenitude tem o rosto e o olhar de Cristo.
O crente, operário da compaixão. «Jesus, vendo as multidões, teve compaixão». O fim de uma carga infinita, belíssima. Jesus sente dor pela dor do mundo. De fato: «A messe é grande», mas não pela quantidade de pessoas, mas porque está brotando no mundo uma grande colheita de cansaços, de espigas inchadas de lágrimas, uma messe de medos como de ovelhas que não têm pastor.
É este seu a­postolado que Jesus confia aos discípulos. Torna-os operários de um trabalho que descreve com seis verbos: preguem, curem, ressuscitem, sanem, libe­rtem e doem. Em primeiro lugar tem o mini­stério da pregação a­postólica, mas unido ao mini­stério da piedade divina, numa relação desbalanceada, de um a cinco. O trabalho nos campos do Senhor se expri­me em gestos concretos, em cin­co obras que mostram como «o Reino dos céus se aproxima» para quem tem o coração fe­rido, e numa sexta obra que proclama a proximidade de Deus. O discípulo é cha­mado a tomar conta da causa de Deus junto com a causa do homem, a tomar conta dos rebanhos e das messes, das dores e das asas, de um mun­do bárbaro e magnífico.
Áquila e Priscila, após ter vivido a experiência da prova que os afastou de Roma, tornam-se acolhedores com Paulo e com outros que encontraram em seu caminho. Revelam a Paulo, desanimado pelos fracassos e amedrontado, o rosto daquele Deus que lhe havia dito “Eu estarei contigo” com a sua acolhida. Ensinam a Apolo com a catequese o caminho da plena comunhão com Cristo. Este casal nos faz vislumbrar um estilo. Lembra-nos um pouco a palavra do Evangelho: «O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos mandou-os, dois a dois, adiante de si, por todas as cidades e lugares para onde tinha de ir....» (Lc 10,1). Isto é, ninguém é mediador único do Evangelho, e ninguém é enviado sozinho. O Evangelho pe­de sempre uma lógica de companhia, de compartilhamento, de comunicação, também na fase em­brionária da comunidade. A vida conjugal é este lugar onde se faz experiência do anúncio, dois a dois.


Colhemos nesta pequena Igreja doméstica, um verdadeiro estilo evangélico: somos pelo menos dois! Estamos em comunhão, porque o Evangelho é uma palavra maior do que eu e a minha compreensão, e não posso carregá-lo sozinho, senão corro o risco de carregar minhas opi­niões, minhas convicções, sacralizando-as.
Por exemplo, Paulo, procurava nunca andar sozinho, como se depreende dos contos nos Atos. Tinha sempre um ou dois companheiros com ele. Às vezes, um parava numa cidade, enquanto Paulo prosseguia; depois um outro voltava para manter os contatos e aprofundar a catequese. A obra evangélica nunca é realizada por um 'dom Quixote' heróico e solitário... Precisa ser ágeis, ter sempre de alguma maneira uma dimensão de sinodalidade, um caminhar juntos no nome do Evangelho. E é uma comunhão não idilíaca, mas trabalhosa; o próprio Paulo se cansa, e briga, e se separa. Brigou com Barnabé e Marcos, depois brigará com Pedro. Cansa-se em compartilhar as opiniões daqueles que têm tendências mais próximas daquelas do hebraísmo do que daquelas que ele desenvolveu. Neste âmbito, o casal, vocês casais são chamados a viver a comunhão entre vocês, em suas casas e a colocar a serviço as suas capacidades. Neste sentido o Movimento nos quer ser de ajuda para levar o Evangelho do amor no mundo.
Como amava dizer-nos Padre Caffarel: lembrem-se de que o motor e o coração de tudo é a Eucaristia. Do viver e fazer Eucaristia deriva o seu estilo de casal a serviço do Evangelho.