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terça-feira, 9 de outubro de 2012

ESPECIAL DE FIM DE ANO

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CARTA DE BRASÍLIA - DA EQUIPA RESPONSÁVEL INTERNACIONAL AOS EQUIPISTAS DE TODO O MUNDO



Queridos equipistas e conselheiros espirituais:

Depois do Encontro de Brasília, o primeiro a ser feito fora da Europa, numa vivência do espírito de internacionalidade do nosso Movimento, dirigimos esta Carta a todos vós, membros das Equipas de Nossa Senhora.

Para aqueles que estiveram em Brasília e tiveram a graça de participar e viver a grande Festa do nosso Movimento, temos a certeza que a profunda experiência em que participaram os levará a “OUSAR O EVANGELHO”.

Para todos os que não puderam estar presentes, a Equipa Responsável Internacional gostaria que ouvissem esta voz que ressoa no coração de todos, e com a força do Amor façam “jorrar rios de água viva” neste mundo que pede com ousadia que “Partamos e façamos o mesmo que Ele fez”.

Estas considerações que nos ocorrem no final do Encontro Internacional de Brasília, que foi um momento de imensa felicidade, queremos partilhá-las com todos vós, no sentido de serem inspiradoras para os próximos tempos, nos quais, ao ritmo e no sentir com o coração da Igreja, desejamos caminhar, na obediência e na fidelidade ao Senhor. Sabemos que é na obediência que se vive a liberdade, e na fidelidade que se vive o amor, porque a fidelidade é a vitória do amor sobre o tempo, transformando-nos em anunciadores da liberdade.

«No último dia de festa, que é o mais solene, Jesus ficou de pé e gritou: “Se alguém tem sede, venha a mim, e aquele que acredita em Mim, beba.” É como diz a Escritura: “Do seu seio jorrarão rios de água viva.” Jesus disse isto, referindo-se ao Espírito que deveriam receber os que acreditassem n’Ele (Jo 7, 3739a).

Este texto do Evangelho convida-nos a contemplar o mistério de Cristo, como a fonte onde temos sempre de ir beber a água que mata a sede de paz e de felicidade que todos desejamos, mas que pelas nossas forças não podemos alcançar.

A orientação geral “OUSAR O EVANGELHO” é um desafio que nos conduzirá a ser:

I.                    Casais: Ousar ter um coração pleno do Amor de Cristo

“ Se alguém tem sede, venha a Mim, e aquele que acredita em Mim, beba”. ( Jo 7, 37b, 38a)

1.                  Voltar à Fonte

Como Casais das Equipas de Nossa Senhora, somos convidados nos próximos anos a renovar este esforço de voltar às origens, ao mistério de Cristo e da Igreja, pois é neste grande amor que encontramos a nossa razão de ser.

Este convite a que os casais das Equipas de Nossa Senhora regressem à fonte deverá concretizar-se na fidelidade à Carta Fundadora (1947), revisitando os textos inspiradores do carisma, mística e pedagogia do nosso Movimento -assentes em três pilares fundamentais: Orientações de Vida; Pontos Concretos de Esforço e Vida de Equipa -e, mais recentemente, num desejo de fidelidade criativa, bem expressa no Segundo Fôlego.

Todos somos mobilizados para este percurso de retorno às origens, para que a vivência da
espiritualidade conjugal, eixo da nossa vida, seja cada vez mais fecunda nestes tempos de grandes mudanças no mundo, mudanças que representam um desafio. Ousemos, pois, o Evangelho na fidelidade e na coerência da Fé “acolhendo os valores e as necessidades na medida em que sejam assimiláveis e em união ao Carisma Fundador” (padre Caffarel – discurso de Chantilly; Maio1987).

Na base de uma espiritualidade conjugal e familiar, podemos caminhar no sentido da redescoberta sempre mais profunda do sentido da fé, aqui entendida, como nos convida Bento XVI, como adesão a Deus, cujo amor reconhecemos na história e nas nossas vidas, como pessoas e como casais.

2. A relação do homem e da mulher, que nas Equipas de Nossa Senhora é iluminada e fortalecida pela graça do sacramento, é vivida no e com o Senhor. É importante aceitar as diferenças entre os cônjuges, não só na sua complementaridade psicológica e afectiva, mas também tendo em conta a diferenciação pessoal (sexual) inscrita no pensamento de Deus, que assim criou o homem à sua imagem e semelhança, e homem e mulher os criou (Gen 1,27), como se lê nas Sagradas Escrituras: “E Deus viu que era tudo muito bom” (Gen 1,31).
No matrimónio cristão celebramos a redenção do homem e da mulher no que diz respeito também à dinâmica dos afectos e das paixões. 
Pelo dom do Espírito Santo e com o auxílio da graça, é possível passar de um amor passional para a dinâmica de um amor oblativo.
Para o casal cristão, o próximo mais próximo e prioritário é o próprio cônjuge. Este é chamado a ser constantemente um “bom samaritano” para o outro, vivendo a partir do outro e ao serviço das necessidades dele, em vez de seguir espontaneamente os desejos e projectos pessoais e a própria satisfação. Só é possível viver a santidade em qualquer estado de vida cristã, mas muito particularmente no matrimónio, seguindo a lógica da cruz, ou seja, o amor oblativo, de dar a vida um pelo outro. 
A nossa maior ousadia será a vivência da nossa relação conjugal -movida sempre pelo amor e pela abnegação – que deve ser testemunho de vida do casal e da família.
Em Chantilly, o Padre Caffarel afirmava a este respeito: “Não existe amor sem abnegação, e não se pode praticar uma abnegação que não venha do amor”, pois só um amor abnegado e fiel é verdadeiro. E continuava: “A vida conjugal comporta grandes riquezas mas também grandes exigências”.

II . Casais: Ousar acolher e tomar conta dos Homens

“Do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7, 38b)

3. O Movimento das Equipas de Nossa Senhora, sendo e devendo permanecer um movimento de espiritualidade, deve não só aprofundar para dentro a espiritualidade conjugal, mas também irradiá-la para fora, para aquelas situações problemáticas que muitos homens e mulheres hoje vivem e que não conseguem resolver. Todos os seus dons e carismas são suscitados e dados pelo Espírito Santo para o bem comum, para a promoção da unidade, da caridade e da santidade, para que irradie, como sinal visível, para o mundo. 
Como afirmava o Padre Caffarel, dirigindo-se aos casais das Equipas de Nossa Senhora e lembrando o encontro com Paulo VI (1968): “Estou plenamente convencido de que vocês compreenderam de imediato que não são apenas os destinatários, mas sim os mensageiros diante desses milhares de casais … a respeito dos quais nos pedia o Papa que tivéssemos presentes em nosso pensamento”.

4. As Equipas de Nossa Senhora devem ser um Movimento, comunidades a caminho, dando razões de esperança às novas gerações, para que não tenham medo de correr o risco de celebrar o seu amor no Senhor (1Cor 7). O matrimónio é uma graça e uma missão.
Como nos dizia o Padre Caffarel, no editorial da carta mensal nº1, intitulado “O Êxito da Caridade”: “O amor fraterno é extraordinariamente fecundo. Ao seu redor e com seu influxo o mal retrocede e o deserto torna-se fértil”. 
É urgente ajudar, até onde a caridade fraterna nos possa levar, os casais em dificuldade, bem como aqueles que fracassaram no amor e tentaram uma segunda oportunidade. (cf. Familiaris Consortio, nºs 80 a 85). É urgente testemunhar a todos que a única palavra que faz sentido é a do perdão; por mais complexa que seja a situação do homem, por mais duro que seja o coração humano, o coração de Deus é diferente, é maior do que o nosso (cf 1 Jo 3, 20).

Outra questão importante para todas as Equipas, embora em momentos diferentes, é o envelhecimento dos casais. A espiritualidade do Movimento deverá ser uma preciosa ajuda para que as pessoas e os casais possam envelhecer com dignidade e viver a graça e o carisma próprios de cada fase da vida.
É importante que os Casais das Equipas de Nossa Senhora sejam fecundos na irradiação de uma cultura de presença e de solidariedade com todos aqueles que passam por grandes dificuldades. Ser óleo da consolação, procurando viver a caridade de uma forma inventiva, ao ajudar todos os que estão em dificuldade a viver o melhor possível as suas vidas com o espírito do Evangelho e o sentir da Igreja. 

III. Casais: Ousar partir para o Mundo ao serviço da Igreja
“Jesus disse isto, referindo-se ao Espírito que deveriam receber os que acreditassem n’Ele”. (Jo 7, 39)

5. O Movimento das Equipas de Nossa Senhora deverá nos tempos atuais dar sinais de esperança, aquele olhar confiante no presente e no futuro, porque sabemos em quem confiamos, as nossas vidas estão nas mãos de Deus; os nossos nomes, desde o batismo, inscritos no livro da vida. O apelo à santidade em casal, como específico da graça e do carisma das Equipas de Nossa Senhora, deve ser vivido também como missão, que pressupõe a fidelidade aos pontos concretos de esforço, sobretudo à oração conjugal e ao dever de se sentar
A missão traduzir-se-á na disponibilidade e abertura ao sentir da Igreja e às suas urgências pastorais mais imediatas, como seja a tarefa da nova evangelização dos casais e das famílias, do evangelho da santidade vivida na vocação e na missão do sacramento do matrimónio. 
O Movimento das Equipas de Nossa Senhora deve formar e preparar os seus casais para partirem em missão para o mundo, dando testemunho da sua vocação de casal cristão.
Assim, os casais das Equipas de Nossa Senhora sentir-se-ão membros vivos e activos de uma grande comunidade, a Igreja, que ultrapassa todas as fronteiras, porque constituída por casais cristãos de todos os continentes, de todas as raças e culturas, nas quais se compõe e se executa a divina sinfonia do amor.

Conclusão

Iluminados pela luz deste Encontro de Brasília, esperamos que o Movimento cresça cada vez mais em riquezas espirituais, recebendo a força das vossas energias e a ousadia do vosso serviço.
As ENS permanecerão firmes na unidade e na fidelidade ao seu Carisma, mas também estarão abertas ao mundo e aos sinais dos tempos, com um novo ardor, um novo vigor, um novo fôlego.
Casais das Equipas de Nossa Senhora, sejamos na Igreja e no mundo de hoje, sinais de esperança e fermento de novas gerações que acreditam na Vida, dando testemunho de que o Sacramento do Matrimónio é caminho de Amor, Felicidade e Santidade.
Confiemos em Maria, nossa Mãe, que nos guiará para irmos e fazermos o mesmo que ELE fez.

Paris, 1 de Setembro de 2012

A Equipa Responsável Internacional

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CATÓLICO ORANTE


Uma sugestão do nosso querido Pe. Alan no Retiro das ENS 2012.
Confira: Católico Orante

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O AMOR DE DEUS E AO PRÓXIMO

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22, 37 – 40). 

Falar do amor não é fácil e vivê-lo é mais difícil ainda. A dificuldade do falar está no risco que se pode ter, no risco da infinita possibilidade da contradição; ou seja, no falar que não corresponde ao agir. O testemunho de Jesus de Nazaré não é sinônimo de um discurso sobre o amor. Certamente ele falou do valor do amor, mas não disse dizendo, mas disse amando. Por isso, até os confins dos séculos foi, é e continuará sendo o modelo por excelência de pessoa essencialmente amorosa, portanto, plenamente humano. 

Toda reflexão honestamente cristã deve sempre partir de Cristo Jesus, o Filho do Amor. Se pudéssemos encontrar Jesus por aí e perguntar-lhe sobre a missão recebida de seu Pai a ser desempenhada no mundo, certamente responderia: Eu vim ao mundo para amar os seres humanos e pelo amor salvá-los de sua escravidão e solidão. Toda a mensagem evangélica resume-se no amor: este consiste na lei de Cristo. Conduzido pelo amor, o ser humano encontra a salvação. 

O amor fundamentou e deu sentido a todas as palavras e gestos de Jesus de Nazaré. Tudo fez e disse por amor ao ser humano. Portanto, amar é sair de si, é transbordar-se, doar-se, abrir-se, entrar em comunhão, expandir-se, é encontrar-se com Deus no próximo. Toda pessoa que procurar Deus no mais profundo de si e dedicar toda a sua vida numa relação ensimesmada sem o contato com o outro, pensando que encontrou a Deus, engana-se a si mesmo. Não se pode dizer que Deus está dentro de cada homem e por isso cada ser humano basta-se a si mesmo. 

A vida de Jesus de Nazaré sempre foi um constante encontro com as pessoas, com estas e suas circunstâncias. O outro sempre está no seu contexto. O outro é vida e suas relações, suas histórias, dramas, traumas, complexos, cultura, pensamento e expressões variadas de comportamentos. Eis que se nos apresenta um dos maiores desafios para amar o próximo: amá-lo na sua singularidade, nunca segundo o meu querer. O querer sobre o outro é sempre uma violência contra a sua liberdade. Nem a vontade de Deus se impõe, porque ele sempre propõe, jamais impõe nada a quem quer que seja. É uma falta de respeito e de amor querer que o outro atenda aos nossos caprichos satisfazendo, assim, as nossas vontades. 

Assim sendo, só existe amor onde há liberdade. Toda pessoa precisa da liberdade para amar de verdade. Logo, não há amor em toda relação pautada na dominação e/ou controle do outro. Também não há amor onde existe o apego: amar não é apegar-se. Ama-se quando se promove a liberdade do outro. O amor deve ser caminho de liberdade. A liberdade está intimamente ligada à gratuidade e esta, por sua vez, se traduz nas relações desinteressadas. O amor é livre e libertador e quem ama começa a experimentar já nesta vida o gozo da plena liberdade. 

O maior inimigo do amor não é o ódio, mas a indiferença. Muita gente se convence disso, mas insiste na prática da indiferença, que se manifesta na frieza, no esquecimento do outro, na insensibilidade. A intolerância, a perseguição, a incompreensão, o desprezo, a hostilidade e tantos outros males são manifestações da indiferença. Estes males escravizam as pessoas tornando-as infelizes. Não há autêntica felicidade fora do amor que se faz doação. 

O amor a Deus não quer dizer que Deus esteja carente e necessitado do nosso amor. Deus nos ama porque sabe que nós necessitamos do seu amor para vivermos, sermos salvos e felizes. Somente Ele é completo e é a fonte do verdadeiro amor. Com Deus aprendemos a amar o próximo; por isso que o amor a Deus de todo o coração, alma e entendimento é o maior e o primeiro mandamento. Deus nos ama na liberdade para nos tornar livres, na incondicionalidade para amarmos incondicionalmente o próximo. 

Inseridos na religião precisamos tomar cuidado com os sistemas religiosos. Estes são constituídos de leis, normas, códigos, regras, disciplina e de múltiplas orientações a respeito de tudo. Nada pode impedir a prática do amor. Nenhum sistema religioso pode se colocar acima do mandamento do amor. Ninguém está obrigado a obedecer a qualquer que seja a lei que se oponha ao amor a Deus e ao próximo. Nenhuma lei salva, mas somente o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (cf. Rm 5, 5). O fiel cumprimento dos preceitos religiosos não nos assegura felicidade nem salvação, mas somente o amor.

Neste sentindo, ensina-nos o apóstolo Tiago: “Religião pura e sem mancha diante de Deus, nosso pai, é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em aflição, e manter-se livre da corrupção deste mundo” (Tg 1, 27). Socorrer os órfãos e as viúvas em aflição significa colocar-nos a serviço dos empobrecidos e marginalizados; manter-se livre da corrupção deste mundo quer dizer que não devemos nos comprometer com as estruturas injustas, que geram as diversas formas de opressão existentes no mundo. O amor ao próximo consiste neste socorro do outro e neste manter-se (permanecer) livre da corrupção. 

A verdadeira felicidade do ser humano se encontra no amor, dom gratuito de Deus para ser vivido entre nós, seres humanos: é caminho de humanização. Por isso, é tempo perdido buscarmos nossa felicidade fora do amor. O que existe fora deste é a ilusão de tudo aquilo que passa, porque somente o amor permanece para sempre. 


Tiago de França 

Postado por Caminhando com Jesus / domingo, 23 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O SONHO DE DOM BOSCO

Dom Bosco teve sonhos proféticos. Um deles foi assim: ele viu a barca da Igreja em meio a uma grande tempestade: ondas encapeladas, um vento terrível. Na frente da barca da Igreja estava o Papa, de braços abertos, conduzindo-a. Atrás dele estava a cristandade enfrentando toda aquela tempestade. 

Então, Dom Bosco observou que o Papa estava conduzindo a barca para uma direção. E viu duas colunas. Em cima da coluna menor estava a imagem de Nossa Senhora, e em cima da coluna mais alta estava a Eucaristia. Quando a barca da Igreja se colocou no meio daquelas duas grandes colunas, todo o mar se acalmou! O que Jesus afirmou aconteceu: 

"E Eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16,18).

Esse sonho é profético! Se a barca da Igreja, hoje, está nessa tempestade, é porque a família está em tempestade! A Igreja é formada pelas "Igrejas domésticas" que são as nossas famílias. E o Papa está conduzindo a barca da Igreja, a barca das nossas famílias, na direção de Maria e da Eucaristia. Nunca houve um Santo Padre que insistisse tanto nesse assunto como o saudoso João Paulo II. Ele (assim como todos os Papas que existiram e, agora, Bento XVI) conduziu e agora Bento XVI continua conduzindo a família, em meio a essa tempestade, na direção certa. É preciso que estejamos com o Papa, o sucessor de Pedro e o representante de Jesus Cristo na Terra! 

Deus o abençoe!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

domingo, 9 de setembro de 2012

A VIDA É A ARTE DOS BONS ENCONTROS!


Amigos, há um mês estávamos vivenciando o XI Encontro Internacional em Brasília. Ainda temos presente o calor da acolhida fraterna, os novos amigos que fizemos na equipe mista e em outros momentos. Realmente mais um sopro do Espírito Santo ao do Padre Caffarel, a realização destes encontros para solidificar o movimento.

Como os apóstolos após a transfiguração, descemos da montanha e agora estamos na planície ousando o evangelho, pórem não é fácil. Deus nos ajude no anúncio da boa nova!

Bom final de semana!

Alexandre


A VIDA É A ARTE DOS BONS ENCONTROS!

É nos bons encontros da vida que garantimos os vínculos de existências saudáveis.

É no encontro com a terra que a semente germina. É no encontro com a água que os peixes multiplicam a vida. É no encontro com a luz que tudo adquire identidade e vigor. É nos bons encontros da vida que garantimos os vínculos de existências saudáveis. A vida é a vasta rede dos mil encontros que vai configurando a própria história pessoal. Viver é encontrar-se e encontrar-se é viver.

No acontecer da vida, um dos componentes mais surpreendentes é o encontro. Cruzamos uns com os outros nos caminhos da vida. Tropeçamos em tantos pés e, no entanto, em raras ocasiões nos encontramos. Existem muitas formas de encontros: há encontros fortuitos, outros evitados, tantos provocados e desejados e tantos rejeitados. Também são diversos os níveis de encontro: físico, amistoso, comercial, familiar, profissional, social, religioso etc. Porém, não é comum, nem fácil, o encontro profundamente humano.

Tantos encontros deixam marcas ruins e lembranças indesejadas, outros são tão superficiais que logo passam ao esquecimento. Há encontros que geram alegria e outros, tristeza. Acontecem encontros que mudam o rumo da história pessoal e se eternizam num amor comprometido. Há encontros que escravizam e outros que libertam. Muitos encontros enriquecem a vida, outros a empobrecem.

A vida é a arte dos bons encontros. Não podemos ignorar que esta arte vem carregada de responsabilidade. A pessoa não é um terreno de invasões. Nem Deus invade e nem arromba a porta da liberdade de seus filhos para provocar encontros. Pela imensa sacralidade de cada pessoa, todo o encontro precisa ser precedido por um imenso respeito e cuidado.

A arte dos bons encontros não é comum. Em todos os dias manejamos coisas, tratamos com pessoas e nos enfrentamos com muitos acontecimentos vitais. Porém, para que aconteça um bom e verdadeiro encontro temos que nascer sempre de novo, nos despojar dos preconceitos, nos libertar dos mecanismos de defesa e nos abrir para uma comunicação solidária e amorosa.

Para que aconteça um bom encontro necessitamos desalojar de nosso coração todas as resistências e obscuridades que impedem a transparência e a comunicação. Como em tudo o que faz parte da gratuidade do amor, a iniciativa do bom encontro é sempre de cada um de nós. Aqui vale o empenho da confiança para podermos ser acolhedores de quem vem ao nosso encontro. Confiança não é louca ingenuidade, mas confiança prudente de quem sabe a arte do necessário cuidado.

A sagrada experiência humana dos bons encontros não se improvisa. Encontros que geram amizade, mútua ajuda e comunhão de destino precisam ensaiar um caminho de aprofundamento, gradual e progressivo de conhecimento, confiança e corresponsabilidade. Um antigo filósofo dizia que “só seremos amigos verdadeiros, depois que comermos juntos um alqueire de sal”. Com isso confirmava que os bons encontros garantem a durabilidade, na medida de sua alegre seriedade.

Luiz Turra

Fonte: 
Edição 5.305 – Ano 104 – Caxias do Sul - RS, 25 de julho de 2012.

Publicado no Blog:
http://alexandrealana.blogspot.com.br/http://alexandrealana.blogspot.com.br/

MENSAGEM DO PAPA - ENCONTRO INTERNACIONAL DAS EQUIPES DE NOSSA.SENHORA

Boletim da Santa Sé


Eminência Reverendíssima,
O Sumo Pontífice, informado da realização em Brasília do XI Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora, me incumbiu de vir por este meio fazer chegar a sua paterna saudação aos participantes e a todos casais do Movimento nascido duma clarividente intuição pastoral do Servo de Deus Henri Caffarel, sacerdote, e cuja missão não viu diminuir, com o passar do tempo, sua atualidade e urgência, antes de certa forma aumentou à luz dos problemas e dificuldades que o matrimônio e a família experimentam hoje rodeados por uma atmosfera de crescente secularização.
Neste contexto, os casais das Equipes de Nossa Senhora proclamam, não tanto com palavras como sobretudo com a vida, as verdades fundamentais sobre o amor humano e sobre o seu significado mais profundo: «Um homem e uma mulher que se amam, um sorriso de criança, a paz de um lar: eis uma pregação sem palavras, mas extraordinariamente persuasiva, na qual cada homem pode já pressentir, como que por transparência, o reflexo de outro amor e o seu apelo infinito» (Paulo VI, Aos casais das equipes de Nossa Senhora, 4 de maio de 1970).
Claro, este ideal pode parecer demasiado alto. Por isso mesmo, o Movimento incentiva os seus membros a beberem constantemente nas fontes da graça do sacramento do matrimônio e da participação na Eucaristia dominical; para além do recurso à graça dos sacramentos, lhes propõe, com grande sabedoria, um «método» rico de compromissos e sugestões simples e concretas para viverem no dia a dia a espiritualidade encarnada de esposos cristãos.

Entre eles,sublinha-se o «dever de sentar-se», isto é, o compromisso de manter periodicamente um tempo de diálogo pessoal entre os cônjuges, durante o qual fazer presente um ao outro, com toda a sinceridade e num clima de escuta mútua, os problemas e os assuntos relevantes para a vida de casal.

No nosso mundo tão marcado pelo individualismo, o ativismo, a pressa e a distração, o diálogo sincero e constante entre os esposos é essencial para evitar que surjam, cresçam e endureçam incompreensões que, infelizmente, muitas vezes acabam em rupturas insanáveis que já ninguém ajuda a consertar. Por isso, cultivem este valioso hábito de sentar-se um ao lado do outro para falarem e se ouvirem, para compreenderem um ao outro sempre de novo no meio das surpresas e dificuldades do longo caminho.
Dentro de três íneses estaremos comemorando o cinqüentenário da abertura do Concilio Vaticano II, que, em muitos dos seus documentos, ofereceu à Igreja do nosso tempo uma visão renovada do valor do amor humano, da vida conjugai e da família; nessa ocasião começaremos o Ano da Fé, para reencontrar toda a vivacidade e a alegria do anúncio da fé no nosso mundo e no nosso tempo.

Sua Santidade Bento XVI convida os casais cristãos á serem «o rosto sorridente e doce da Igreja», os melhores e mais convincentes arautos da beleza do amor sustentado e alimentado pela fé, dom de Deus oferecido com largueza e generosidade a todos, para que possam encontrar cada dia o sentido da sua vida.


E, como sinal de gratidão eclesial, de estímulo para os novos desafios em aberto e como penhor de graças e luzes do Alto para os trabalhos do XI Encontro Mundial das Equipes de Nossa Senhora, o Santo Padre concede aos participantes e respectivas famílias a implorada Bênção Apostólica.
Aproveito o ensejo para testemunhar a Vossa Eminência Reverendíssima os meus sentimentos de fraterna estima em Cristo Senhor.


Vaticano, 5 de julho de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

HÓSTIA

Tão logo um católico escute a palavra “hóstia”, o primeiro pensamento que lhe vem à mente é o pão ázimo, cortado em formato circular, ofertado e consagrado a cada Liturgia Eucarística – pão este que provavelmente tenha origem na “matzá”, o pão sem levedura utilizado na tradição judaica na celebração de Pessah (Páscoa – Passagem), cujo uso remete a uma prescrição mosaica (cf. Ex 12, 15).

Porém o termo “hóstia” tem sua origem no vocábulo latino “hostia”, que vem a significar oblação, vítima. E reconhecendo no dom eucarístico do Pão Consagrado a presença real e transubstancial do Cordeiro Imolado (cf. Apo 5, 6-14) , a vítima perfeita que livremente ofertou-se ao Pai em favor da humanidade (cf. Heb 10, 10-14), é que esse termo latino passou a ser empregado ao pão ázimo que é consagrado e distribuído aos fiéis, na liturgia latina. Por extensão, a mesma palavra acabou sendo utilizada de modo mais genérico a todo pão ázimo para uso litúrgico.

Sendo “hóstia” sinônimo de oblação e vítima, neste último caso em referência a “vítima pascal” - cujo cordeiro da Antiga Aliança era uma prefiguração do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29), o uso dessa terminologia evidencia a relação da Eucaristia (a Ação de Graças por excelência) com a paixão, morte e ressurreição de Cristo. A instituição do Sacramento da Eucaristia não pode ser isolada de seu contexto fundante, a “Paixão de Cristo”, ou seja, o “Amor do Esposo”, amor este que o leva a se entregar em radical “kenosis” (esvaziar-se , entrega) por toda a humanidade, e o faz aceitar o sofrimento, a cruz e a morte. Cristo como um Novo Adão “adormecido” no leito da cruz, tem de seu costado retirado “sangue e água”, em cujo simbolismo os santos padres (na linha da teologia joanina, cf. I Jo 5, 6-8) viram como sinais da Eucaristia e do Batismo, sacramentos comuns a todos os que são inseridos na Igreja. Deste modo, todos os que receberam o Batismo e comungam da Eucaristia, tem suas vidas renascidas em Cristo, mediante a inserção destes na Igreja, que é a Esposa (Apo 21, 2.9.17). Por fim, ao terceiro dia, o Cordeiro que fora imolado, ressuscita, para então completar esse “Mistério da Fé” que nos é garantia de vida eterna (cf. Jo 6, 51).

O uso da expressão “hóstia” (vítima) não está relacionado tão somente ao aspecto sacrifical da Eucaristia, pois essa “Vítima Pascal”, passando pela Ação de Graças da Quinta-feira Santa (a Paixão), foi livremente ao encontro da cruz e da morte, passou pela sepultura, para dentre os mortos recobrar a vida, findando tal “passagem” (Páscoa). Se Cristo pode ressuscitar é porque anteriormente havia morrido, assim todos esses elementos se inter-relacionam, se complementam. O Cordeiro Imolado está miraculosamente vivo, ele ostenta as chagas como sinal de sua vitória sobre a morte (cf. Apo 5, 6-14).

A graça de Deus vai progressivamente, pela ação do Espírito Santo, plasmando a imagem de Cristo em cada batizado, isto por meio da Igreja, que como Esposa do Cordeiro, gera, nutre e educa a todos os que nasceram pelo Batismo. Assim de certo modo, os elementos terrenos da vida de Jesus – todos redentores, são misticamente configurados em cada um de seus discípulos. Vamos encontrar em vários cristãos que, de certo modo puderam participar dessa oblação existencial de Cristo, a eles a Igreja assiste com o Sacramento da Unção dos Enfermos. E mesmo os que não passaram pela cruz da enfermidade, são chamados pelo Apóstolo a se configurarem mais intimamente a Cristo, ao se oferecerem livremente “como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, este será o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1).

Fonte:

terça-feira, 17 de julho de 2012

ESTUDO SOBRE O PURGATÓRIO: ENSINAMENTOS DE SÃO FRANCISCO DE SALES SOBRE O PURGATÓRIO

27 06 2011
 
Pax Domini! Estamos encerrando (ao menos parcialmente) o nosso estudo sobre o purgatório e espero ter ajudado a todos. Este estudo, começou com um podcast (que você pode ouvir aqui) falando sobre a existência do purgatório, e reuniu outros posts que foram “detalhando” o conteúdo do podcast. Quero deixar este post final sobre o tema, com alguns ensinamentos de São Francisco de Sales sobre o purgatório. No próximo post de estudo, iniciaremos um estudo sobre os Anjos. E em breve um estudo sobre as indulgências. Aguarde! Mas por enquanto leia o que diz São Francisco de Sales.
Assim diz São Francisco de Sales sobre o purgatório:
1 – As almas alí vivem uma contínua união com Deus.
2 – Estão perfeitamente conformadas com a vontade de Deus. Só querem o que Deus quer. Se lhes fosse aberto o Paraíso, prefeririam precipitar-se no inferno a apresentar-se manchadas diante de Deus.
3 -Purificam-se de forma voluntária, amorosamente, porque assim o quer Deus.
4 – Querem permanecer na forma que agradar a Deus e por todo o tempo que for da vontade Dele.
5 – São invencíveis na prova e não podem ter um movimento sequer deimpaciência, nem cometer qualquer imperfeição.
6 – Amam mais a Deus do que a si próprias, com amor simples, puro e desinteressado.
7 – São consoladas pelos anjos.
8 – Estão certas da sua salvação, com uma esperança inigualável.
9 – As suas amarguras são aliviadas por uma paz profunda.
10 – Se é infernal a dor que sofrem, a caridade derrama-lhes no coração inefável ternura, a caridade que é mais forte do que a morte e mais poderosa que o inferno.
11 – O Purgatório é um feliz estado, mais desejável que temível, porque as chamas que lá existem são chamas de amor.
( Extraído do livro O Breviário da Confiança, de Mons. Ascânio Brandão, 4a. ed. Editora Rosário, Curitiba, 1981)
Re-publicado do "site":  http://domvob.wordpress.com/?s=%22Estudo+sobre+o+purgat%C3%B3rio%22

sábado, 14 de julho de 2012

OU PENITÊNCIA OU PURGATÓRIO

"Homens da Galiléia, porque ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que vos acaba de ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o vistes subir para o céu. (At 1,11) "
O RIGOR DAS PENAS

I. Acerbidade das penas do Purgatório

              Ouvindo Santo Agostinho alguns de seu tempo dizer que, se escapassem do inferno, do Purgatório não tinham tanto medo, encheu-se de zelo e lhes fez ver o grande erro em que estavam, pois as penas do Purgatório superam tudo o que há de mais penoso neste mundo.

            E com razão, porque o fogo que atormenta as almas do Purgatório é o mesmo que o fogo que atormenta os condenados no inferno, somente com exceção da eternidade. E assim é que a Santa Igreja não duvida chamar às penas do Purgatório penas infernais [na Liturgia dos defuntos].

            O fogo do Purgatório é aceso por um sopro infernal, e é tão ativo que não se chama simplesmente fogo, mas espírito de fogo (Is 4, 4), e derreteria num instante um monte de bronze, mais facilmente que uma de nossas fornalhas devoraria uma palha seca.

            Tem ainda este fogo, além da atividade natural, uma potência superior, que lhe dá Deus, para servir de instrumento ao Seu furor.

            Porém, diz o Senhor pelo profeta Zacarias, que Ele mesmo, mais que o fogo, purgará e limpará a alma eleita, ativando com Seu hálito as suas chamas (Zac 3, 9).

            E qual não será o tormento das almas benditas naquele cárcere por meses e anos! Podemos fazer dele uma [longínqua] idéia, considerando que:

            a) A alma, assim como é mais nobre que o corpo, é também mais capaz de sentir vivamente, seja a alegria, seja o sofrimento;

            b) A alma unida ao corpo, se sente dor, sente-a temperada pelo mesmo corpo, e como que dividida entre ambos, servindo-lhe o corpo de escudo e anteparo da dor. Mas no Purgatório, estando longe do corpo, recebe diretamente sobre si toda a força da dor;

            c) A alma unida ao corpo, se sofre no pé ou na mão ferida, não sofre na cabeça ou noutros membros sãos; mas no Purgatório, sendo indivisível e estando separada do corpo, é toda atingida pelas chamas.

            Além do fogo, é a alma, no Purgatório, atormentada por si mesma, pensando:

            a) Por quão ligeiras faltas está penando: por uma palavra inútil, por um olhar curioso, por uma intenção menos reta, que tão facilmente pudera evitar;

            b) Que, podendo durante a vida tão facilmente descontar a pena merecida por suas faltas com praticar algumas ações meritórias, não o fez;

            c) Que, deixando na terra filhos, amigos e herdeiros, que a deviam aliviar naquelas chamas, não o fazem, e só pensam em desfrutar dos bens que lhes deixou (Sl 30, 13). Com quanta razão se lamentará de não ter descontado os seus pecados, dando esmolas, e empregando em obras de caridade os bens que Deus lhe deu e que aumentou com tantos suores?

            Sobre tudo isto, acresce o maior tormento do Purgatório, que é a privação da visão de Deus.

            São João Crisóstomo disse (Hom. 24 in c. 7 Mat.) que o inferno do inferno é estar o condenado privado para sempre da visão de Deus. Assim também se pode dizer que o Purgatório do Purgatório é estar uma alma por muito tempo longe da visão de Deus. As almas são, pois, atormentadas por dois verdadeiros e profundíssimos sentimentos: desejo e amor.
            O maior tormento de uma alma do Purgatório é desejar ir para Deus, e não poder. Esta pena é tanto maior, quanto maior é o conhecimento que lá a alma tem de Deus, pois, separada do corpo, conhece mais claramente a suma bondade de Deus, e se sente movida com maior força a ir para Ele, como a pedra para o seu centro.

            Por isso, as suas maiores ânsias, no Purgatório, são suspiros pela visão beatífica, de que já sente a aproximação, mas que ainda não pode desfrutar. Clama ela, como o cego do Evangelho (Lc 18, 41): 'Senhor, que eu veja' essa luz da glória; que meus olhos desfrutem já da presença divina! Para chegar mais depressa à visão de Deus, esta alma preferiria que se lhe duplicasse o tormento do fogo, contanto que findasse o tormento do desejo de ver a Deus.

            Conta-se [por exemplo] de Rutília que, sabendo que seu filho fõra condenado ao desterro para terras longínquas, se desterrou também, para não padecer, longe dele, o tormento da saudade.

            Mas muito maior que o desejo, é o tormento do amor.

            Três são os amores que atormentam as almas do Purgatório:

            a) O amor natural, pelo qual a alma, por uma inclinação inata, é atraída para Deus como a Seu Criador, seu Princípio e último Fim, com maior ímpeto que a pedra propende para o centro da terra ou a chama para o ar;

            b) O amor sobrenatural, pelo qual, [sob a ação da Graça,] é a alma vivíssimamente atraída para Deus como seu sumo, único e eterno Bem;

            c) O amor de ardentíssima caridade, por saber que é esposa do divino Cordeiro, Jesus Cristo, destinada ao Reino Celestial, e, no entanto, vê que seu Esposo Divino lhe fecha a porta, e que seu amor é assim frustado.

            A todos estes tormentos se deve juntar a duração das penas, por meses, por anos e, talvez, até o fim do mundo.

            Quanto se amedronta e aterra um malfeitor, ao ouvir a sentença de ficar por algum tempo encerrado num cárcere escuro ou de por três anos trabalhar nos porões das galés! Quanto se lamenta um enfermo a quem se avisa de que terá de sofrer por um quarto de hora uma dolorosíssima operação! E a quem não de gelar o sangue ao pensar que, por seus pecados, há de estar sepultado nas chamas do Purgatório por anos inteiros, e talvez até o dia do Juízo Final?!

            Santo Agostinho diz que, no Purgatório, um dia é como mil anos (In Ps 37).

            Assim é que a esperança e o desejo de ver a Deus, e de passar de um excessivo tormento a uma indizível alegria, fará parecer uma hora mais longa que um século.

            Conta Santo Antonino que um enfermo havia muito tempo que sofria horríveis dores. Apareceu-lhe o seu Anjo da Guarda e lhe propôs, por ordem de Deus, que escolhesse: ou sofrer aquelas dores por mais um ano, ou passar meia hora no Purgatório. O enfermo respondeu que preferiria estar meia hora no Purgatório, pois assim acabava mais depressa de sofrer. Pouco depois expirou, e o Anjo foi visitá-lo no Purgatório. Ao ver o Anjo, a pobre alma começou a soltar gemidos inconsoláveis, dizendo-lhe que a tinha enganado, pois, tendo-lhe assegurado que estaria ali só meia hora, já eram passados vinte anos que estava lá penando. Vinte anos? - replicou o Anjo - não passaram mais que poucos minutos de tua morte, e teu cadáver ainda está quente sobre o leito!

            Tanto é verdade que as penas do Purgatório, em certo modo, - sapiunt naturam aeternitatis -, têm um sabor de eternidade, por parecer à imaginação do padecente que uma hora é como um século.
           


            II. Dificuldade em evitar o Purgatório


             Um mal qualquer, por maior que seja, se facilmente se pode evitar, não é grande mal; mas um mal grande, que dificilmente se pode evitar, torna-se extremo.

            Tal é o Purgatório; pois, como atesta o cardeal e Doutor da Igreja São Roberto Belarmino (De amis. grat., c. 13), até dos homens mais santos e perfeitos, pouquíssimos são os que vão direto ao Paraíso.

            O mesmo Santo, estando próximo à morte, recebeu a visita do Geral da Companhia de Jesus, que, sabendo como era santíssima a vida de Belarmino, lhe disse que todos tinham firme esperança de que, depois da morte, ele voaria logo para o Céu. - 'Mas não a tenho eu, disse o Santo; eu não tenho essa esperança'.

            Santa Teresa d'Ávila conta que, sendo-lhe revelado o estado de muitas almas na outra vida, só de três sabia que tivessem ido para o Céu sem passar pelo Purgatório [e uma destas almas era ninguém menos que um São Pedro de Alcântara].

            Nem isto nos deve maravilhar. São Bernardo diz (Decl. sup. Ecce nos) que, assim como não há obra boa, por mais pequena que seja, que Deus não remunere largamente, assim não há mal, por mais ligeiro que seja, que Deus não castigue severamente. Ora, sendo a alma mais justa e santa sujeita a muitas imperfeições, naturalmente está exposta a ir pagar por elas no Purgatório.

            Se por um lado não quer Deus que nada impuro entre no Céu, por outro não escapa a Seus olhos a mais ligeira mancha, que nós, muitas vezes, nem chegamos a descobrir. Por isso diz a Escritura que até nos Anjos encontra Deus que repreender (Job 4, 18), e que os mesmos céus não são puros na Sua presença (Job 15, 15), e que até nas obras dos justos encontra que emendar (Sl 74, 3).

            O santo Jó, conhecendo esta minuciosa Justiça de Deus, temia que as suas ações, ainda as mais santas, não Lhe fossem plenamente agradáveis (Job 9, 28).

            Oh! Como são terríveis os juízos de Deus, e como são diversos dos d'Ele os juízos dos homens! O homem não vê senão o que aparece por fora; Deus, porém, penetra o coração (1 Rs 16, 7).

            O padre Baltasar Álvarez, da Companhia de Jesus, confessor de Santa Teresa d'Ávila, era, por testemunho de sua Santa penitente, um dos homens mais santos e piedosos de seu tempo. Um dia, ele pediu ao Senhor que lhe revelasse quais eram as suas obras que mais O agradavam. Deus Nosso Senhor ouviu a sua oração, e fez-lhe ver as suas obras no símbolo de um cacho de uvas, em que umas eram verdes, outras amargas, e só duas ou três estavam maduras, e estas ainda não de todo doces ao paladar. 'Tais são, disse-lhe o Senhor, as tuas ações; delas só duas ou três são boas, e mesmo nestas, se examinarem com rigor, não lhes faltará que repreender'.

            Daqui se vê como é severa a Justiça Divina em julgar as ações dos homens, e como é difícil, ao morrer, estar um alma tão purificada, que não fique nada por que satisfazer no Purgatório.

            Não faltam exemplos na vida dos Santos que confirmam esta doutrina.

            Na vida de São Severino se conta que, enquanto um clérigo passava um rio, apareceu-lhe um sacerdote e, tomando-lhe a mão, a queimou toda, dizendo: Isto sofro no Purgatório por não rezar as Horas canônicas com atenção.

            De São Martinho escreve São Gregório Turinense que, orando no sepulcro de sua irmã e recomendando-se a ela como a santa, de repente ela lhe apareceu, vestida do hábito de penitente, com o rosto triste e pálido, e lhe disse que ainda estava no Purgatório, por ter penteado o cabelo na Sexta-Feira Santa, não se lembrando que era o dia da Paixão do Senhor.

            A irmã de São Pedro Damião, como ela mesma revelou a uma santa alma, foi condenada a penar dezoito dias no Purgatório, por ter, de sua cela, ouvido curiosamente os cantos e músicas que entoavam debaixo da janela.

            São Severino, Arcebispo de Colônia, foi condenado a um gravíssimo Purgatório, por ter recitado as Horas canônicas sem a devida distinção de tempos, apesar de serem muitos os negócios de seu palácio, que parece o desculpariam.

            Entremos agora dentro de nós mesmos, e tiremos a conseqüência, que tirou também Santo Antonino depois de contar a seus religiosos semelhantes exemplos: 'Tema, pois, cada um de vós, cometer pecados veniais e não se purificar deles nesta vida'.

            Se Deus é tão severo em punir no Purgatório as menores faltas, e se é tão difícil, mesmo para as almas mais perfeitas, evitá-lo, como é que me atrevo a acumular pecados veniais em minha vida, sem fazer penitência deles?... E se aqui me parece insuportável uma pequena agulha, que será sofrer aquele fogo atrocíssimo?... Por que não procuro depurar as minhas ações de toda impureza, e fazer penitência pelos pecados cometidos?... Andemos sempre alumiados pelas chamas do Purgatório, para evitarmos, com a perfeição de nossas obras, cair naqueles horríveis tormentos (Is 40, 11).


 
            III. Como devemos evitar o Purgatório


            É verdade de Fé que ninguém entra no Céu sem estar de todo purificado (Apoc 21, 17), e sem primeiro ter satisfeito todas as suas dívidas à divina Justiça (Mt 5, 26). Deste modo, ou havemos de punir em nós mesmos, nesta vida, os nossos pecados, ou então Deus se encarregará de os castigar depois da nossa morte. Não há como escapar, diz Santo Agostinho (Conc. 1 in Ps 58).

            Quem, na vida, não apaga os pecados com as lágrimas da penitência, depois da morte se purificará deles com as chamas do Purgatório. Ora, não é melhor lavar os pecados com água do que com fogo?

            Na vida, com um dia de penitência, e até com uma hora, podemos satisfazer por nossos pecados o que no Purgatório nem por um ano expiaríamos. Ora, não é melhor padecer por um pouco, neste mundo, que padecer no outro por longo tempo, que pode ser até o dia do Juízo?

            Ajuntemos que a penitência feita em vida é meritória, e depois da morte nada merece. Ainda que penemos por mil anos no Purgatório, não adquiriremos um novo grau de graça, nem um novo grau de glória no Céu.

            E não é mais sensato sofrer pouco e por pouco tempo, e com mérito, do que sofrer muito e por muito tempo, e sem mérito nenhum?

            Finalmente, a Divina Justiça fica mais satisfeita com a penitência, ainda que pequena, feita nesta vida, do que com a pena, ainda que maior, tolerada depois da morte; porque a primeira é um sacrifício voluntário e uma pena tomada espontaneamente, ou espontaneamente aceita, ao passo que a segunda é um sacrifício forçado, e uma pena tolerada por necessidade e contra vontade.

            Por todas estas razões se vê claramente quanto importa descontar, nesta vida, as penas que devemos a Deus por nossos pecados, pela enorme vantagem de nos livrarmos, desta maneira, dos males do Purgatório.


            Frutos

             Consideremos os frutos que devemos tirar desta doutrina, para nos resolvermos a evitar o Purgatório, usando de todos os meios que a isto nos possam ajudar.

            O primeiro é fazermos agora, por nós mesmos, penitência dos nossos pecados, e praticar boas obras o mais que pudermos, e não pôr a nossa esperança em sufrágios futuros. E isto devemos fazer sem demora, antes que sejamos assaltados por algum acidente (Gál 6, 10).

            O segundo é pôr todo o cuidado em ganhar as santas indulgências, com as quais satisfaremos por nossos pecados com a satisfação e méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

            O terceiro, finalmente, é usar de piedade com as almas do Purgatório, ajudando-as com os nossos sufrágios, obras e orações, porque Deus disporá que aquela caridade que usamos com os outros seja também usada conosco (Mt 7, 2). Depois essas almas, quando estiverem no Céu, serão gratíssimas para conosco, obtendo-nos muitas graças de Deus. Feliz de quem salvou uma alma do Purgatório com seus sufrágios, porque terá diante de Deus quem interceda por ele, quando também estiver penando naquele lugar.

            Conta Bernardino de Bustis que morreu um pai, e com seus bens deixou um filho riquíssimo. Este ingrato filho não pensou mais em quem tanto o tinha beneficiado, pois nunca mandou sufragar a alma de seu pai, que ardia no Purgatório. Ora, que aconteceu? Ainda que os seus capitais fossem avultadíssimos, contudo estava sempre em penúria. Contínuas tempestades lhe destruíam as plantações, males imprevistos dizimavam-lhe os rebanhos, incêndios e desastres arruinavam-lhe a casa. Já os pleitos, já o fisco, já os inimigos o obrigavam a gastos desmedidos. Um dia, encontrando-se com um servo de Deus, pediu-lhe que o recomendasse em suas orações. Fê-lo o santo varão, a quem foi revelado que aquele filho ingrato não podia desfrutar dos bens herdados, porque tinh a o pai no Purgatório, que o amaldiçoava, e as suas maldições eram aceitas da Divina Justiça pela sua perversa ingratidão.

            Façamos bem aos nossos defuntos, que o mesmo farão conosco (Ecli 12, 2).

            Imaginemos que Jesus Cristo diz a cada um de nós a respeito dos nossos defuntos, o que disse a respeito de Lázaro: 'Desatai-o e deixai-o ir' (Jo 11, 44).
 
            (Padre Alexandrino Monteiro S. J., Exercícios de Santo Inácio de Loyola, II Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1959, páginas 80-90). (Gentileza Rodrigo)

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