Além dos cinco pontos que citei no post [Que parâmetros devemos ter para ler as Sagradas Escrituras?] para uma leitura correta das Sagradas Escrituras, encontrei algumas observações interessantes na Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Revelação divina, Dei Verbum, que recomenda três pontos ao se ler a Palavra de Deus:
1. Conteúdo e unidade da Escritura inteira - Quer dizer, não interpretar uma parte da Escritura fora do seu contexto integral. Muitas vezes um versículo só será bem entendido quando lido juntamente com outros.
Lembro-me de uma história que me contaram. Uma mulher estava com depressão, com vontade de morrer e resolveu “abrir a bíblia” para ver se havia um versículo que lhe desse uma direção. Ela abriu a bíblia e caiu no Evangelho…
Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.
(Mt 27,5)
(Mt 27,5)
Óbvio que aquela Senhora assustou-se com a palavra. Resolveu pegar uma outra palavra. E veio esta:
…Vai, e faze tu o mesmo…
(Lc 10,37)
Portanto, não podemos analisar a Bíblia fora do seu contexto. Um velho jargão nos ensina que: Um texto fora do contexto vira pretexto. Eu não posso sair por ai, interpretando a bíblia do meu jeito. Não posso sair “abrindo a bíblia” e interpretando um versículo isolado sem ler o contexto da palavra.
2. A Tradição viva da Igreja – A interpretação da Palavra de Deus nunca pode estar em desacordo com a Tradição da Igreja e vice-versa. A Palavra e a Tradição nunca andam desalinhadas. A palavra dos Papas, Santos Padres da Igreja e seus doutores estão sempre de acordo com a Palavra.
3. Analogia da fé – Como havia dito antes. Uma parte da Bíblia nunca poderá estar em desacordo com a outra. Precisamos sempre verificar a coesão das verdades da fé entre si. Uma não pode ser oposta a outra, pois o Espírito Santo não se contradiz.
30 01 2011
Vimos nos posts anteriores, que precisamos ter parâmetros para ler a palavra de Deus. E a Igreja nos dá alguns parâmetros. Se você deseja (e é bom que queira mesmo) conhecer a palavra de Deus, esteja atento a estes pontos importantes:
1. A analogia da fé – A Bíblia é um livro de verdades religiosas reveladas por Deus (isso já vimos anteriormente). Por isso, cada texto está de certa forma relacionado com toda a Bíblia e com a fé da Igreja, ou seja, um trecho não contradiz o outro. Não podemos tirar um texto ou um versículo que seja deste contexto, sem que possa haver erro de interpretação. Aqui entra a importância da Tradição e do Magistério da Igreja. É o que sempre tenho afirmado desde o início: A Igreja que deve ter a palavra final, a fim de se evitar o perigoso subjetivismo pessoal (o famoso achismo – “eu acho que…” ).
2. O sentido da História – Sempre dizemos isso quando falamos sobre a Sagrada Escritura: Deus é o Senhor da história. E é na história que a sua santa vontade se realiza. O avançar da história, e o desenvolvimento do seu povo, também nos ajuda a compreender a Sagrada Escritura. Jesus mandou observar os sinais dos tempos.
3. O sentido do movimento progressivo da Revelação – Desde o começo dos nossos estudos, eu procurei mostrar a você, que Deus foi revelando sua vontade devagar. Deus é amigo do tempo. É importante que você perceba que Deus tem paciência, ao contrário de nós. Deus levou apenas 14 séculos para nos revelar a sua palavra, e continuou a nos ensinar durante mais de 20 séculos como vivê-la. E nos ensina até hoje através da Sua Igreja, através da Sagrada Tradição (transmissão oral, não escrita) que para nós católicos tem o mesmo valor das Sagradas Escrituras (conforme já foi falado).
4. O sentido da relatividade das palavras – Segundo o professor Felipe Aquino: “As palavras são relativas, nem sempre absolutas”. Para entender o texto bíblico precisamos saber o que certas palavras, frases ou expressões significavam exatamente quando o autor sagrado as usou.
Por exemplo: Digamos que uma jovem escreva um bilhete (em português) para uma amiga: “Querida amiga, meu namorado é um gato. E meu Pai é um barato, pois nos deixou namorar…”
Agora imagine que esse bilhete fique em algum livro ou gaveta e seja encontrado daqui a 5.000 anos, por algum italiano que está aprendendo português.
O que essa pessoa ao traduzir esse texto irá pensar? Se ele não souber que nos dias de hoje a juventude usa a expressão “gato” ou “gata” para dizer que alguém é bonito, e não souber que “barato” significa alguém legal, bacana, logo vai pensar que essa jovem namorava gatos e seu pai era um inseto nojento. É preciso entender a palavra na época que era usada. Em outras palavras: Cada tempo tem sua gíria. E a bíblia está cheia delas.
5. O bom senso e senso crítico – Deus não nos deu uma cabeça apenas para equilibrar o corpo. Se Ele nos deu a inteligência, precisamos usá-la. É bom sempre se perguntar diante de certas interpretações: isto tem fundamento no texto original? Ou são apenas o ponto de vista de alguém em desacordo com o autor sagrado?
Se alguém tem entendimento das Escrituras Divinas ou parte delas, mas se com esse entendimento não edifica a dupla caridade – a de Deus e a do próximo – é preciso reconhecer que nada entendeu… (Santo Agostinho – Sec. IV)
31 janeiro 2011 Autor: admin | Postado em: Bíblia
Fonte: Dominus Vobiscum
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