Papa João Paulo I
O Papa João Paulo I, nascido Albino Luciani e oriundo de família humilde, foi Papa da Igreja Católica. Governou a Santa Sé durante apenas um mês, entre 26 de agosto de 1978 até a data da sua morte.
Nascimento: 17/10/1912, Canale d'Agordo
Falecimento: 28/09/1978, Palácio Apostólico
HOMILIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO I
DURANTE A SANTA MISSA CELEBRADA
NA PRAÇA DE SÃO PEDRO
Domingo, 3 de Setembro de 1978
Veneráveis Irmãos
e caríssimos Filhos
e caríssimos Filhos
Nesta sacra celebração, com a qual damos solene início ao ministério de Supremo
Pastor que foi posto sobre os nossos ombros, o primeiro pensamento, de adoração
e de súplica, vai para Deus, infinito e eterno, o qual, com uma sua decisão
humanamente inexplicável e com a sua benigníssima dignação, Nos elevou à Cátedra
do bem-aventurado Pedro. Sobem-Nos aos lábios espontâneas as palavras de São
Paulo: O abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Que
insondáveis são os seus desígnios e impenetráveis as suas vias! (Rom.
11, 33).
O Nosso pensamento dirige-se, seguidamente, com paterno e afectuoso saudar, para
toda a Igreja de Cristo: para esta assembleia que aqui a representa, neste local
— impregnado de piedade, de religião e de arte — que guarda ciosamente o túmulo
do Príncipe dos Apóstolos; e àquela Igreja, depois, que Nos vê e Nos escuta
nesta hora, através dos modernos meios de comunicação social.
Saudamos todos os membros do Povo de Deus: os Cardeais, os Bispos, os
Sacerdotes, os Religiosos, as Religiosas, os Missionários, os Seminaristas, os
Leigos comprometidos no apostolado e nas diversas profissões, os homens da
política, da cultura, da arte, da economia, os pais e as mães de família, os
operários, os migrantes, os jovens e as donzelas, as crianças, os doentes, os
que sofrem e os pobres.
Mas queremos dirigir também o Nosso respeitoso e cordial pensamento para todos
os homens do mundo, que Nós consideramos e amamos como irmãos, porque filhos do
mesmo Pai celeste e todos irmãos em Jesus Cristo (Cfr. Mt. 23, 8 ss).
Quisemos iniciar esta Nossa homilia em latim, porque — como é conhecido — ele é
a língua oficial da Igreja, da qual exprime, de maneira palmar e eficaz, a
universalidade e a unidade.
A Palavra de Deus, que acabamos de ouvir proclamar, apresentou-nos, como que num
crescendo, em primeiro lugar a Igreja: ela é prefigurada e entrevista pelo
profeta Isaías (Cfr. Is. 2, 2-5), como o novo Templo, ao qual afluem as
gentes de todas as partes, desejosas de conhecer a Lei de Deus e de a observar
docilmente, ao passo que as terríveis armas de guerra são transformadas em
instrumentos de paz.
Este novo Templo misterioso, entretanto, pólo de atracção da humanidade nova,
conforme nos recorda São Pedro, tem uma sua pedra angular viva, escolhida,
preciosa (Cfr. 1 Ped. 2, 4-9), que é Jesus Cristo, o qual fundou a sua
Igreja sobre os Apóstolos e a edificou sobre Pedro, chefe dos mesmos Apóstolos (Cfr.
Const. dogmática
Lumen Gentium, 19).
Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja (Mt. 16,
18): são as palavras graves, elevadas e solenes que Jesus, em Cesareia de
Filipe, dirige a Simão, filho de João, depois da sua profissão de fé, a qual não
foi o resultado da lógica humana do pescador de Betsaída, ou a expressão de uma
sua particular perspicácia, ou ainda o efeito de uma sua moção psicológica; mas
sim fruto misterioso de uma autêntica revelação do Pai celeste. E Jesus muda o
nome de Simão em Pedro, significando com isso a colação de uma especial missão;
promete-lhe que há-de edificar sobre ele a própria Igreja, a qual não será
vencida pelas forças do mal ou da morte; e comete-lhe as chaves do reino de
Deus, nomeando-o assim responsável máximo da sua Igreja, e dá-lhe o poder de
interpretar autenticamente a lei divina. Perante estes privilégios, ou para
dizer melhor, perante estas tarefas sobre-humanas confiadas a Pedro, Santo
Agostinho adverte-nos: "Pedro por natureza era simplesmente um homem; por graça,
era um cristão; e por uma graça ainda mais abundante, era um e, ao mesmo tempo,
o primeiro dos Apóstolos" (Santo Agostinho, In Joannis Evang. tract.,
124, 5: PL 35, 1973).
Com atónita e compreensível trepidação, mas também com imensa confiança na
poderosa graça de Deus e na ardente oração da Igreja, Nós aceitámos tornar-Nos o
Sucessor de Pedro na sede de Roma, assumindo o "jugo" que Cristo quis pôr sobre
os Nossos frágeis ombros. E afigura-se-Nos ouvir, como se a Nós fossem
dirigidas, as palavras que Santo Efrém faz dizer por Cristo a Pedro: "Simão, meu
apóstolo, eu constituí-te fundamento da Santa Igreja. Eu chamei-te de antemão
Pedro porque tu hás-de suster todos os edifícios; tu és o superintendente
daqueles que edificarão a Igreja sobre a terra; .. tu és a nascente da fonte, à
qual se vai haurir a minha doutrina; tu és o chefe dos meus apóstolos; ... eu
dei-te as chaves do meu reino" (Santo Efrém, Sermones in hebdomadam sanctam,
4, 1; LAMY T. J.. S. Ephraem Syri hymni et sermons, I, 412 ).
Desde o primeiro momento após a Nossa eleição e nos dias que imediatamente se
seguiram, ficámos profundamente impressionado e encorajado pelas manifestações
de afecto dos Nossos filhos de Roma e também daqueles que, de todas as partes do
mundo, Nos têm feito chegar o eco da sua incontível exultação pelo facto de Deus
uma vez mais ter dado à Igreja o seu Chefe visível. E assim, vêm encontrar eco
espontaneamente no Nosso espírito as comovidas palavras que o Nosso grande e
santo Predecessor, São Leão Magno, dirigia aos fiéis de Roma: "Não cessa de
presidir na sua sede o beatíssimo Pedro; e está estreitamente conjunto ao eterno
Sacerdote numa unidade que jamais virá a faltar... E por isso, todas as
demonstrações de afecto, que por dignação fraterna ou piedade filial haveis
querido dirigir, vão para aquele a cuja sede Nos alegra-mos não tanto por
presidir, quanto por poder servir" (São Leão Magno, Sermo V, 4-5: PL
54, 155-156).
Sim, a Nossa presidência na caridade é um serviço; e, ao afirmá-lo, Nós pensamos
não apenas nos Nossos Irmãos e Filhos católicos, mas em todos aqueles que
procuram também ser discípulos de Jesus Cristo, honrar a Deus e trabalhar para o
bem da humanidade.
Neste sentido, Nós dirigimos uma saudação afectuosa e reconhecida às Delegações
das outras Igrejas e Comunidades eclesiais que aqui estão presentes. Irmãos não
ainda em plena comunhão, nós voltamo-nos conjuntamente para Cristo Salvador,
progredindo uns e outros na santidade em. que Ele nos quer e simultaneamente no
amor mútuo sem o qual não há cristianismo, preparando as vias da unidade na fé,
no respeito da sua Verdade e do Ministério que Ele confiou, para a sua Igreja,
aos Apóstolos e aos seus Sucessores.
Além disto, Nós devemos dirigir uma saudação particular aos Chefes de Estado e
aos Membros das Missões Extraordinárias. Estamos muito sensibilizado com a vossa
presença: quer de vós que presidis aos altos destinos do vosso País, quer de vós
que representais os vossos Governos ou Organizações internacionais; a todos
agradecemos vivamente. Vemos numa tal participação a estima e a confiança que
vós depositais na Santa Sé e na Igreja, humilde mensageira do Evangelho a todos
os povos da terra, para ajudar a criar um clima de justiça, de fraternidade, de
solidariedade e de esperança, sem o qual o mundo não poderá viver.
Que todos, aqui, grandes e peque-nos, fiquem certos da Nossa disponibilidade
para os servir, segundo o Espírito do Senhor!
Circundado pelo vosso amor e amparado pela vossa oração, iniciamos o Nosso
serviço apostólico, invocando como estrela esplendorosa da Nossa caminhada a Mãe
de Deus, Maria, Salus Populi Romani e Mater Ecclesiae, que a
Liturgia venera de modo particular neste mês de Setembro. A Virgem Santíssima,
que guiou com delicada ternura a Nossa vida de criança, de seminarista, de
sacerdote e de Bispo continue a iluminar e a dirigir os Nossos passos, para que,
feito voz de Pedro, com os olhos e a mente fixos no seu Filho, Jesus,
proclamemos no mundo, com jubilosa firmeza, a Nossa profissão de fé: Tu és o
Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt. 16, 16). Ámen!
© Copyright 1978 - Libreria
Editrice Vaticana
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