Por Frei Edson Matias, OFMCap.
Francisco
sabia de que barro era feito. Conhecendo sobre si mesmo vislumbrava o abismo do
coração do homem. Sabia que o mundo da virtude não excluía a finitude, mas a
segurava em plena vista. Perder de horizonte nossas fraquezas, para ele, era
cair no orgulho. Este procura motivos para se vangloriar. Quem faz isso, o
santo sabia muito bem, que não servia a não ser ao espírito da carne.
Era assim
em todo o proceder do pobrezinho de Assis. Ao tratar de uma virtude, relembrava
primeiro de que “esterco” tinha em si. Entretanto, “esterco” (limitações,
orgulho) é algo difícil de entender hoje, pois temos uma pseudo espiritualidade
que muitas das vezes é alicerçada no próprio orgulho. Por exemplo, se confunde
hoje espiritualidade com pieguismo, devocionalismo e até mesmo com
hipersensibilidade. Nada disso diz da espiritualidade vivida por Francisco. Era
uma vivência vigorosa que aceitava, enfrentava e transformava em vigor até
mesmo coisas absurdas para nós hoje. Até mesmo as limitações eram muitas vezes
causa de alegria. Ou melhor, de uma verdadeira alegria: estar mais perto do
Amado.
Ao tratar
da virtude da paciência diz o santo na Admoestação 13:
1 Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus (Mt
5,9). O servo de Deus não pode saber quanta paciência e humildade tem em si,
enquanto tudo acontece como ele quer. 2Mas quando vier o tempo em
que os que lhe deveriam dar prazer fizerem o contrário, a paciência e humildade
que tiver nessa ocasião é tudo que tem e nada mais. (Adm 13).
Aqui não
sobra lugar para orgulho, em suas desculpas e justificativas para se colocar em
um patamar melhor. Ninguém sabe quem se é realmente até que surja uma
adversidade. O paciente somente se apresentará quando isso for requisitado
dele. Ou seja, qualquer caminho – ‘espiritualidades’ – que tente o ser humano a
fugir das situações conflitivas, tirando ele do cotidiano da vida, vai contra
esse modo de viver dos primeiros franciscanos. Por isso, que as novas
espiritualidades, nascidas de correntes pentecostais e neo-pentecostais da
atualidade, em muitos aspectos vão na contramão da proposta franciscana.
Ao fim da
admoestação 13 vemos no momento da angustia que se revelará o que temos. Parece
até trágico, mas é de uma realidade cortante. Quando chegar esse momento
conflitivo vai se revelar o que somos e nada mais. A espiritualidade proposta
por Francisco é vibrante, realista e mata com qualquer esperança superficial.
Ele desce onde o homem se encontra e dali pode vislumbrar o crucificado.
A proposta de Francisco é difícil de ser vivida. Não é florilégios ou
coisa ‘bonitinha’, mas profunda e intensamente humana-divina.
Site: Reflexões franciscanas
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