1)- Crises no matrimônio e
fidelidade conjugal
Este ideal
de fidelidade conjugal nunca foi fácil (adultério é uma palavra que ressoa
sinistramente até na Bíblia); mas hoje a cultura permissiva e hedonista na qual
vivemos o tornou imensamente mais difícil.
A alarmante
crise que a instituição do matrimônio atravessa em nossa sociedade está à vista
de todos. Legislações civis, como a do governo espanhol, que permitem (e
indiretamente, de tal forma, estimulam!) iniciar os trâmites de divórcio apenas
poucos meses depois de vida em comum.
Palavras como:
«estou farto desta vida», «se é assim, cada um por si!», «vou embora», já se
pronunciam entre cônjuges diante da primeira dificuldade (dito seja de
passagem: creio que um cônjuge cristão deveria acusar-se em confissão do
simples fato de ter pronunciado uma destas palavras, porque o simples fato de
dizer é uma ofensa à unidade e constitui um perigoso precedente psicológico).
O matrimônio
sofre nisso a mentalidade comum do «usar e jogar fora». Se um aparelho ou uma
ferramenta sofre algum dano ou uma pequena avaria, não se pensa em repará-lo
(desapareceram já aqueles que tinham estes ofícios), pensa-se só em substituir.
Aplicada ao matrimônio, esta mentalidade resulta mortífera.
O que se
pode fazer para conter esta tendência, causa de tanto mal para a sociedade e de
tanta tristeza para os filhos? Tenho uma sugestão: redescobrir a arte do
remendo! Substituir a mentalidade do «usar e jogar fora» pela do «usar e
remendar».
Quase
ninguém faz remendos mais. Mas se não se fazem já na roupa, deve-se praticar
esta arte do remendo no matrimônio. Remendar os desgarrões. E remendá-los
rapidamente.
São Paulo
apesar de CELIBATÁRIO, dava ótimos conselhos ao respeito:
«Se vos
irais, não pequeis; não se ponha o sol enquanto estejais irados, nem deis
ocasião ao Diabo», «suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente se
algum tem queixa contra outro», «ajudai-vos mutuamente a levar vossas cargas»
(Ef 4, 26-27; Col 3, 13; Ga 6, 2).
O importante
que se deve entender é que neste processo de desgarrões e recosidos, de crises
e superações, o matrimônio não se gasta, mas se afina e melhora. Percebo uma
analogia entre o processo que leva a um matrimônio exitoso e o que leva à
santidade.
Em seu
caminho rumo à perfeição, nenhum impulso, tem aridez estão vazios, fazem tudo à
força de vontade e com fadiga. Depois desta, chega a «noite escura do
espírito», na qual não entra em crise só o sentimento, mas também a
inteligência e a vontade.
Chega-se a
duvidar de que se esteja no caminho adequado, se é que acaso não foi tudo um
erro, escuridão completa, tentações sem fim. Segue-se adiante só por fé.
Então tudo
se acaba? Ao contrário! Tudo isto não era senão purificação !!!
Depois de
passar por estas crises, os santos percebem quão mais profundo e mais
desinteressado é agora seu amor a Deus, com relação ao do começo.
A muitos
casais não será custoso reconhecer nisso sua própria experiência. Também terão
atravessado freqüentemente, em seu matrimônio, a noite dos sentidos, na qual
falta todo êxtase daqueles, e se alguma vez houve, é só uma lembrança do
passado.
Alguns
conhecem também a noite do espírito, o estado em que entra em crise até a opção
de fundo e parece que não se tem já nada em comum.
Se com boa
vontade e a ajuda de alguém se conseguem superar estas crises, percebe-se até
que ponto o impulso e o entusiasmo dos primeiros dias era pouca coisa, com
relação ao amor estável e a comunhão amadurecidos nos anos.
Se primeiro
o esposo e a esposa se amavam pela satisfação que isso lhes procurava, hoje
talvez se amam um pouco mais com um amor de ternura, livre de egoísmo e capaz
de compaixão; amam-se pelas coisas que passaram e sofreram juntos.
2)-
Casamento, do fracasso à vitória!!!
Hoje
costuma-se dizer que a familia fracassou, que a instituição familiar como se
conhece “tradicionalmente” esta falida.
E com base
nessa afirmação vão se criando opções e conceitos “novos” de familias, assim
também o divorcio passa a ser cada vez mais uma característica dessa “novidade”
de conceitos e até mesmo um sinal de modernidade.
E a conseqüência disso é clara, pois quando
passamos a acreditar no divorcio passamos a desacreditar do casamento, da
familia.
O Padre
Cormac Burke no livro Amor e Casamento diz o seguinte:
“O casamento é,
obviamente, uma das tendências mais naturais da natureza humana. Ora, se é
assim, parece difícil imaginar que, em circunstâncias normais, seja natural que
o casamento fracasse. Se tantos casamentos fracassam hoje em dia, talvez seja
porque as circunstâncias que cercam o matrimônio já não são normais. Ao invés
de o casamento estar fracassando para o homem, não será o homem que vem
fracassando em relação ao casamento? Não sera que o erro, ao invés de residir
no casamento, reside no homem moderno, e mais especialmente no modo como ele
encara o casamento?”
São muito
perspicazes essas palavras, pois elas remetem a responsabilidade do “fracasso”
do casamento ao homem e não a instituição matrimonial.
Não é o casamento ou a familia que tem fracassado
para o homem de hoje, mas é o homem com sua “nova” maneira de ver, com suas
diversas linhas de pensamentos, ideologias, modas, que tem fracassado para o
matrimônio.
A não falência,
o não fracasso do casamento é algo até óbvio, pois nossa fé Católica nos ensina
que o matrimônio é uma Instituição Divina, é um sacramento, é um sinal visível
da graça invisível de Deus, ou seja, antes de ser algo natural, porque faz
parte da natureza humana, o matrimônio é Vontade de Deus, a familia é uma
Instituição Divina, e o que é Vontade de Deus não pode fracassar, não pode
falhar!
O matrimônio
sendo um sacramento deve ser sinal do que ele representa: o amor de um homem
por uma mulher assim como a geração de filhos, são sinais visíveis, palpáveis
do Amor de Deus pelo homem, a aliança que homem e mulher fazem diante do altar
é um sinal da Aliança de Amor que o Senhor fez com o homem no altar da Cruz.
Ora, sabendo
que “nada pode nos separar do amor do Senhor”(Rm 8, 35), sabendo que o Amor de
Deus pelo homem não fracassou, é claro que o matrimônio não é uma Instituição
falida ou fracassada, mesmo que pesquisas digam o contrario.
Se o teu
casamento esta, aparentemente, fracassado, falido, se você esta querendo
desistir da tua familia, existe uma solução: Deus! Ele é a origem, ele é o
Doador desse Dom, volte-se para Ele.
Se você tem
visto que a tua familia esta um caos, clame o Espírito Santo, pois como nos diz
a Palavra do Senhor:
“A terra
estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava
sobre as águas.” (Gn 1, 2)
Clame ao
Espírito Santo pedindo a Ele que venha ordenar o que esta desordenado no seio
de tua família.
Pois o
Espírito Santo tem o poder de renovar o teu matrimônio e essa renovação da tua
familia começa com a renovação em você!
Por Frei Raniero Cantalamessa - ofmcap, Pregador do Vaticano, Zênit