Por Millon Barros de Almeida
O que ajudou Santo Agostinho em sua caminhada ao Bem? Veremo-lo falar no capítulo II do livro VIII a respeito do papel do bom exemplo na história da conversão de Vitorino:
Logo, para exortar-me à humildade de Cristo, escondida aos sábios e revelada ao pequeninos, me recordou ao mesmo Vitorino, a quem ele mesmo havia tratado bem familiarmente estando em Roma, e de quem me referiu o que não quero passar em silêncio. Porque encerra grande louvor de tua graça, que deve te ser confessada, o modo com este doutíssimo ancião – perfeitíssimo em todas as disciplinas liberais e que havia lido e julgado muitas obras de filosófos – mestre de tantos nobres senadores, que em prêmio de seu preclaro magistério havia merecido e obtido uma estátua no Fóro romano (coisa que os cidadãos deste mundo têm por sumo); venerador até aquela idade dos ídolos e participante dos sagrados sacrilégios, aos quais se inclinava quase toda a inchada nobreza romana, olhando propícios já ‘aos deuses monstruosos de todo genero e a Anubis o lavrador’, que em outro tempo ‘havíam estado em armas contra Netuno e Venus e contra Minerva’, e a quem, vencidos, a mesma Roma dirigia-lhes súplicas já, e aos quais tantos anos este mesmo ancião Vitorino havía defendido con voz aterradora, não se envergonhou de ser servo de teu Cristo e infante de tua fonte, sujeitando seu pescoço ao julgo da humildade e subjulgando sua fronte ao opróbrio da cruz (Conf. VIII, ii, 4).
E no capítulo XI fala a respeito dos bons exemplos dados pelas pessoas virgens, que ele via, nos jardins:
Ali uma multidão de meninos e meninas, ali uma juventude numerosa e homens de toda idade, viúvas veneraveis e virgens anciãs, e em todos a mesma continência, não estéril, senão fecunda mãe de filhos nacidos dos gozos de seu esposo, tu, oh Senhor! (Conf. VIII, xi, 27).
Vemos também Agostino tratar, praticamente em toda a obra das Confissões, a respeito da persuasão da inteligência, contudo mostra que a convicção da inteligência não foi suficiente para a aplicação inteira da vontade naquilo que a inteligência ilumina. É o que lhe atormentou por toda a sua vida anterior a conversão; pois sua inteligência o oprimia, dia e noite, impelindo-o para o Bem que desejava, mas por ter a sua vontade ainda débil não conseguiria mover-se inteiramente para a sua meta e todavia não poderia entregar-se totalmente aos prazeres da carne pois a luz da inteligência iluminava também o seu erro.
Qual a solução para este problema tão dilacerante, que atormenta todos aqueles que se vêm em conflito consigo mesmos? Podemos inferir que a aplicação da vontade se dá inteiramente no objeto desejado quando o “sentimos” em nós mesmos (interiormente, talvez), ainda quando este anseio ao objeto desejado, não era tão firme e tão decidido. É o que fará Santo Agostinho exclamar:
Tarde te amei ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que Tu estavas dentro e eu, fora. E aí Te procurava e lançava-me nada belo ante a beleza que Tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam, se não existissem em Ti. Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por Ti. Provei-Te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi no desejo de tua paz (Conf. X, xxvii, 38).
Postado no dia 30/01/2012 por Alexandre Cavalcanti no "site" Teologia e Pastoral:
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