No Getsêmani, Jesus viveu até o fim a nossa experiência humana diante da morte. ”Começou a sentir medo e angústia”, dizem os evangelhos. E os dois verbos usados nesse ponto sugerem a idéia de um homem tomado por profunda perturbação, por uma espécie de terror solitário, como quem se sente excluído da convivência humana.
Jesus não enfrentou a morte como quem sabe ter um trunfo na manga, a ser usado no momento decisivo. Se durante sua vida ele demonstrou saber que ressuscitaria, tratava-se de um conhecimento especial, que nem sempre estava disponível. Seu grito sobre a Cruz: ”Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?” Indica que, naquele momento como homem, ele não dispunha dessa certeza.
Jesus penetrou na morte como todos nós, quando entramos num lugar escuro sem que percebamos o que nos espera do outro lado.
Sua inquebrantável confiança no Pai é que o sustentou e o levou a exclamar:”Pai, em tuas mãos entrego meu Espírito”.
Mas o que ocorreu, ultrapassado esse limiar obscuro? Os Padres costumavam explicá-lo com uma imagem. A morte, como uma fera voraz atacou Cristo e o engoliu, pensando que ele lhe pertencia como qualquer mortal. Mas ficou presa no anzol. Aquela humanidade escondida dentro de si…
“Com seu Espírito que não se sujeita à morte, Cristo mata a morte que matava o homem.”
Jesus venceu a morte “morrendo”. Mortem nostram moriendo destruxit: é o grito pascoal que se eleva em uníssono da Igreja do Oriente e do Ocidente neste dia.A morte não é mais um muro diante do qual tudo se despedaça; é passagem , é Páscoa..
De fato, Jesus (e aqui reside o grande anúncio cristão) não morreu apenas por si, não nos deixou apenas um exemplo de morte heróica, como Sócrates. Fez algo bem diferente: ”Um morreu por todos” (2Cor5,14), exclama São Paulo, e ainda:”Ele provou a morte em favor de todos”(Hb2,9).Extraordinárias afirmações que não nos fazem clamar de alegria porque não as levamos a sério, ao pé da letra, como devemos.”Batizados na Morte de Cristo”(Rm6,3), entramos numa relação real, até mesmo mística, com tal morte, tornamo-nos partícipes dela, tanto que o Apóstolo tem a coragem de proclamar na fé:”Morrestes e vossa vida está escondida com Cristo em Deus”(Cl3,3).
“Um Morreu por todos, portanto todos morreram.”
A razão para isto é cristalina. Do fato de que doravante pertencemos muito mais a Cristo que a nós mesmos (1Cor 6,19s) decorre inversamente, que o que é de Cristo nos pertence mais do que aquilo que é nosso.Sua morte é mais nossa que nossa própria morte.”o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro tudo é vosso, porque sois de Cristo”, diz ainda São Paulo(1Cor3,22s).
A morte é nossa, muito mais do que somos da morte; pertence-nos, muito mais do que pertencemos a ela.
Em Cristo, nós também vencemos a morte.
Texto extraído do Livro: “Nós pregamos Cristo Crucificado” de Raniero Catalamessa (pregador da casa Pontifícia) - Enviado por Sonia Maria Sousa – Ministra Extraordinária da Sagrada Comunhão Eucaristica
(Extraído do "site" Ministério do Acolhimento da Paróquia São Paulo Apóstolo – Rua Barão de Ipanema, 85 – Copacabana – RJ - Padres Barnabitas)
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